Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Tempo de Reflexão

Páscoa é tempo de passagem. É também um bom momento para reflexão sobre o nossas vidas e sobre nossas ações. Como nos dias que correm a política parece permear todas as ações do cotidiano, talvez seja a Páscoa também um momento de reflexão sobre o nosso papel e a nossas ações em relação à crise em que vivemos. Numa tentativa de afastamento das paixões que nos arrastam nesse tema, proponho uma reflexão sobre o dia depois de amanhã.

Assim, temos dois cenários básicos para nossa reflexão. O governo cai ou o governo fica. Em ambos os casos, temos um país fortemente dividido e inflamado pela retórica política totalmente dominada pelo marketing. A pergunta que fica é a seguinte: como será possível manter a governabilidade neste contexto?

Do lado governista a propaganda conseguiu emplacar palavras de ordem bastante potentes que têm sido repetidas de maneira inconsequente. A linha central de defesa se organizou em torno da ideia de golpe contra um governo popular.

Como contra ataque, o governismo investe em uma disputa contra o judiciário e na cooptação do legislativo, seja através da distribuição de cargos e prebendas, seja por acenos de proteção mútua àqueles apanhados pela Lavajato, como é o caso do Senador Renan, alvo de NOVE inquéritos e que segue lépido e faceiro na defesa do governismo. Um desenvolvimento secundário desse curso de ação visa a desqualificação todas as lideranças que eventualmente possam oferecer algum tipo de alternativa

Uma segunda coluna de ataque do governismo se apoia e reforça a retórica da divisão social. Nordeste contra sul, pobre contra rico, negros contra brancos, minorias contra conservadores, direita reacionária contra os avanços sociais e por ai vai, ainda que estes grupos e contornos nunca sejam claramente definidos e identificados. Isso tudo vai fartamente ilustrado por imagens reais, irreais e encomendadas. Só a título de curiosidade, depois da manifestação pró governo na semana passada, circularam várias fotos na internet. Uma delas vinha com a legenda dizendo que era dos manifestantes em Belo Horizonte. Quando você amplia foto, é possível ver cartazes com o rosto de Chaves presos em todos os postes da avenida onde a manifestação se desenvolvia…

No campo oposicionista a coisa parece ser um pouco mais confusa, tornando a situação ainda mais problemática. Aquele que deveria ser o principal líder da oposição, em função de sua votação na ultima eleição, tem se mostrado vacilante e fraco. Também não se vislumbra um líder alternativo capaz de conduzir e canalizar a insatisfação atual. Por outro lado, parece haver pouca coordenação e unidade no discurso oposicionista. Assim, a força e o protagonismo da oposição parecem vir de grupos organizados, mas que (ainda) não compõem o espectro político e, portanto, menos propensos a acomodações e concessões necessárias á estabilização do quadro atual. Pode-se dizer que a oposição é colcha de retalhos de ideias e discursos o que permite que o governismo escolha e destaque aqueles que servem ao seu interesse reforçando sua defesa. De qualquer forma, a frustração e a insatisfação das ruas só faz aumentar.

Tenho a impressão de que estamos enveredando rapidamente para uma situação onde ambos os lados estão tão comprometidos com suas posições que, em breve, não haverá mais como recuar para acomodar um desenlace qualquer que possa garantir um mínimo de estabilidade política para os próximos dois anos. Que a Páscoa seja um momento de reflexão e que possamos alcançar a serenidade que precisamos para superar os tempos difíceis que enfrentamos.

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