Jacó Lula da Silva

Economia

Mario Augusto de Almeida Neto (Jacó) é técnico em agroecologia. Nascido em Jacobina, aos 17 mudou-se para Irecê, onde fundou e coordenou o Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) e a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Como deputado estadual (2019-2022), defende as bandeiras do semiárido baiano, agricultura rural e movimentos sociais. Ao assumir a cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, incorporou o "Lula da Silva" ao seu nome, por reconhecer no ex-presidente o maior líder popular do País. Na Alba, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e membro titular das Comissões de Saúde, Defesa do Consumidor, Agricultura e Política Rural e Promoção da Igualdade.

Trabalho doméstico em tempos de pandemia: o retrato da desigualdade

Identificar os efeitos da pandemia e do isolamento social sobre a divisão do trabalho doméstico entre homens e mulheres. Esse foi o objetivo de uma pesquisa eletrônica realizada no mês de maio pelo Coletivo Mulheres de Todas as Lutas. Estariam as mulheres baianas mais sobrecarregadas nos afazeres que envolvem o cuidado – da casa, de crianças e idosos, da organização doméstica de maneira geral (organização de comprar, de contas a pagar etc)? A pergunta (ou hipótese) foi o ponto de partida para o começo da investigação.

É fato que o aumento das tarefas domésticas durante o isolamento social tem ocorrido, geralmente, pelo maior tempo em casa com o uso intensivo do ambiente doméstico, aumento das refeições realizadas em casa, aumento do cuidado com crianças em idade escolar, associação com trabalho remoto e também, em alguns casos, pela dispensa do suporte do trabalho doméstico remunerado (diaristas, trabalhadoras domésticas).

Nas primeiras 48 horas no ar, o Coletivo percebeu o alcance da pesquisa, e o que parecia restrito à Bahia se espalhou: houve a adesão de 1.132 pessoas – mais de 650 logo – de todos os estados e Distrito Federal. Diversas lideranças políticas e feministas contribuíram com a divulgação em suas redes sociais. Mais de 500 e-mails e telefones foram cadastrados para recebimento de informações sobre a pesquisa e sobre o Coletivo, o que permitirá formar uma ampla rede de comunicação entre mulheres.

O questionário foi respondido por mulheres e homens, o que permitiu produzir algumas análises comparativas. No entanto, o foco da pesquisa foi a divulgação e mobilização para o público feminino. Assim, 85,4% das respostas foram fornecidas por mulheres e 14,4% por homens (0,2% declararam-se não binários/as). Os resultados preliminares da pesquisa foram divulgados no II Seminário Nacional do PT de Todas as Lutas e suscitam uma série de reflexões .

Sobre o perfil das entrevistadas, 40% se autodeclararam pardas, 27% pretas, 31% brancas, 2% indígena, amarela e demais formas de autodeclaração. 46% têm entre 40 e 59 anos, 40% têm entre 25 e 39 anos, 7% têm 60 anos ou mais, 6% entre 20 e 24 anos, 1% entre 15 e 19. A renda familiar das mulheres estava bem distribuída: 20% declararam entre 5 e 10 salários mínimos; 17% entre 3 e 5 salários mínimos; 14% entre 2 e 3 salários mínimos; 13% entre 1 e 2 salários mínimos; 12% até 1 salário mínimo; 11% entre 10 e 20 salários; 8% sem renda no momento e; 5% mais de 20 salários.

Quanto ao isolamento social, 78% das mulheres responderam que estavam em isolamento social. Entre estas: 67% dos casos, todos os integrantes do domicílio estavam em isolamento social; 27%, apenas algumas/alguns moradores estavam em isolamento social; 4% declarou morar sozinho/a e, em 2% dos casos, nenhum integrante do domicílio estava em isolamento social. Isso significa que a presença de todos integrantes do domicílio em casa é bastante intensa o que, certamente, produz o incremento do trabalho doméstico. 19% das mulheres afirmaram estar em isolamento apenas parcialmente e 3% não estavam em isolamento social.

Já os dados coletados sobre o incremento de horas trabalhadas com afazeres domésticos foi marcante: 85% das mulheres afirmaram que a quantidade de horas trabalhadas com serviços domésticos aumentou desde o início da pandemia e do isolamento social. Deste total, 36% afirmou que a quantidade de horas aumentou muito. 30% afirmaram que aumentou um pouco; 19% afirmaram que aumentou razoavelmente e 15% afirmaram que a quantidade de horas trabalhadas não aumentou.

Outro dado relevante, que dialoga mais diretamente com o objetivo da pesquisa, trata da percepção sobre a divisão do trabalho doméstico entre os integrantes do domicílio: para 51% das mulheres não há divisão do trabalho doméstico entre os integrantes do domicílio ou a divisão é insuficiente. Um grupo de 36% considera a divisão suficiente, e 13% considera excelente.

Entre as mulheres que afirmaram dividir as tarefas domésticas com algum integrante do domicílio, o maior percentual (13%) afirmou que divide as tarefas com filha. Em segundo lugar (12,9%) afirmou que divide as tarefas com mãe ou madrasta. Em terceiro lugar (5,4%) a divisão do trabalho doméstico é feita com trabalhadora doméstica. Esse dado revela que as mulheres dividem as tarefas, majoritariamente, com outras mulheres.

Importante a associação feita, pela pesquisa, entre acúmulo de tarefas e saúde mental. Como resultado, identificou-se que 64% das mulheres entrevistadas afirmaram sentir-se exausta com o acúmulo de tarefas e responsabilidades. Em outra questão, as mulheres afirmaram que, nesse período de pandemia, em comparação com o período anterior, sentem-se preocupadas (66%), ansiosas (55%), estressadas/irritadas (47%), cansadas (42%) – esta questão permitia múltiplas respostas. Por isso o total ultrapassa 100%.

As mulheres também deram respostas sobre o uso do tempo para atividades produtivas como forma de complementação de renda nesse período de crise econômica. E várias delas afirmaram desenvolver atividades culinárias para produção e venda de alimentos como pizzas, bolos, pães, geladinho, sarapatel, beijú, açaí, dentre outros. Houve também grande número de mulheres que passaram a desenvolver atividades no ramo de cosméticos, vestimentas e bijuterias. Outras reportaram atividades intelectuais como ilustração de livros, elaboração de projetos de consultoria, aulas de reforço escolar. E também houve mulheres que transformaram em fonte de renda atividades terapêuticas e holísticas.

Com estes resultados preliminares da pesquisa, podemos perceber a riqueza de informações produzidas e a importante contribuição do Coletivo Mulheres de Todas as Lutas para conhecer mais sobre a realidade das mulheres nesse momento de pandemia e isolamento social. O nosso mandato está junto e apoia essa luta. As informações coletadas na pesquisa, certamente, contribuirão para pensarmos em proposições a serem oferecidas à sociedade baiana visando equacionar as desigualdades vividas pelas mulheres em nosso estado. Para quem tiver interesse em obter mais informações, o contato do Coletivo Mulheres de Todas as Lutas é [email protected]

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