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Alunos de elite do Brasil têm performance pior em leitura do que pobres de outros países
Alunos de elite do Brasil têm performance pior em leitura do que pobres de outros países
Por Folha de S.Paulo
03/12/2019 às 11:41
Foto: Carla Ornellas/Arquivo/GOVBA

Estudantes brasileiros de perfil socioeconômico e cultural mais elevados têm capacidade de leitura pior que a de alunos pobres de outros países, segundo o Pisa, avaliação internacional da educação, divulgado nesta terça-feira (3).
Os alunos brasileiros marcaram, em média, 415 pontos no ranking de leitura, o que coloca o país em 42º segundo lugar numa lista de 77 —o Pisa considera Macau e Hong Kong, territórios da China com administração própria e certo grau de autonomia, como entidades independentes.
O relatório divide os alunos participantes em quatro grupos, de acordo com critérios socioeconômicos e culturais.
Quando se faz esse recorte por classe, a média do grupo dos alunos mais ricos chega a 470 pontos, o que coloca o país em uma posição pior, comparativamente, em relação aos outros analisados no mesmo grupo de renda —cai para a 54ª posição.
Contudo, a nota dos mais ricos do Brasil é superada pela dos mais pobres de dez países ou regiões: Beijing, Xangai, Jiangsu e Zhejiang (China); Macau (China); Estônia; Hong Kong (China); Cingapura; Canadá; Finlândia; Irlanda; Coreia do Sul e Reino Unido, nessa ordem.
São países com histórico de alto investimento na educação nos últimos anos. Finlândia e China, por exemplo, disputam o topo desde que o ranking foi criado.
A nota média dos alunos ricos dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que faz o Pisa, foi de 534 pontos. Na liderança do ranking que considera só o topo da pirâmide estão China, Cingapura, Alemanha, Finlândia e Polônia.
Entre os estudantes pobres, o Brasil teve média de 373 pontos na avaliação de leitura, atrás de alunos do mesmo nível socioeconômico da Turquia (437 de média), Chile (415), Costa Rica (392), México (382) e Uruguai (379), entre outros.
A avaliação do Pisa é feita com 600 mil estudantes de 15 anos de idade de 79 países e territórios do mundo. Neste ano, o foco foi em leitura, mas a prova também avalia a performance dos alunos em ciência e matemática (que foram o tema central em outros anos).
A prova, feita a cada três anos, dura duas horas, tem questões abertas e de múltipla escolha, e é feita em um computador.
A avaliação da leitura leva em consideração a fluência do aluno, a capacidade de localizar informações, a compreensão do texto e a competência de avaliar e refletir sobre o que se leu.
A última vez que a leitura havia sido o foco do Pisa foi em 2009 e, desde então, essa disciplina mudou profundamente, diz o relatório da avaliação.
“No passado, estudantes poderiam encontrar respostas simples e únicas às suas dúvidas em um conteúdo com curadoria cuidadosa, em livros didáticos aprovados pelo governo, e podiam confiar que aquelas respostas eram verdadeiras. Hoje, os alunos encontrarão centenas de milhares de respostas às suas dúvidas na internet, e depende deles discernir o que é verdadeiro do que é falso, o que é certo do que é errado. Ler não significa mais extrair informação; significa construir conhecimento, pensar criticamente e fazer julgamentos bem fundamentados.”
O relatório do Pisa mostra que 9,5% dos estudantes de nível socioeconômico e cultural mais baixo do Brasil conseguem, mesmo assim, ter altas notas em leitura, o que é definido pela OCDE como “resiliência acadêmica”. Isso indica que a desvantagem não é um destino cravado, segundo a entidade. A média dos países da OCDE é de 11,3%.
Uma preocupação está no fato de que cerca de 10% desses alunos mais pobres com altas notas não esperam fazer uma faculdade —entre os ricos, esse número é de 4%.
O relatório também mediu o bem-estar dos estudantes, de acordo com um questionário respondido por eles.
Os alunos de estratos sociais mais altos percebem mais apoio emocional dos pais (18,4%, contra 7,7% dos mais pobres), percebem mais entusiasmo dos professores (12,7%, contra 9,1% na classe mais baixa) e se dizem mais competitivos (13,6%, contra 8,9%).
Na outra ponta, os estudantes pobres têm maior percepção do apoio dos professores (12%, contra 10,6% dos ricos) e tendem a cooperar mais entre si (11,9%, contra 10,3% dos ricos).
