8 maio 2025
Mesmo sob protesto de estudantes, pais e professores e críticas de deputados da Oposição e até aliados do governador Rui Costa (PT), a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou, na noite desta segunda-feira (27), o polêmico projeto de Lei n° 23.724/2020, que trata da venda do terreno do Colégio Estadual Odorico Tavares, no Corredor da Vitória, área nobre da capital baiana. Após mais de 5 horas de obstrução e com 43 deputados, a matéria foi aprovada por 31 votos a favor e 12 contra. Votaram contra os deputados governista Olívia Santana (PCdoB) e independente Hilton Coelho (PSol), além dos dez parlamentares da Oposição presentes na sessão: Targino Machado (DEM), Sandro Régis (DEM), Kátia Oliveira (MDB), Pedro Tavares (DEM), Alan Sanches (DEM), Luciano Simões Filho (DEM), Paulo Câmara (PSDB), José de Arimateia (Republicanos), Jurailton Santos (Republicanos) e Tiago Correia (PSDB). Targino aproveitou o encaminhamento contrário da bancada e chegou a apresentar requerimento para votação nominal, mas foi rejeitado pelo plenário (26 contra e 17 a favor).
A votação do projeto suscitou vários protestos de estudantes, pais e professores e gerou críticas de parlamentares de todas as esferas, inclusive, nacionalmente. Em levantamento feito pelo Política Livre na última sexta (24), oito pré-candidatos a prefeito de Salvador condenaram a venda do Odorico. Assim como os oposicionistas Bruno Reis (DEM), Leo Prates (sem partido) e o independente Magno Lavigne (Rede), os aliados Juca Ferreira (PT), Vilma Reis (PT), Bacelar (Podemos), Lídice da Mata (PSB) e Olívia Santana (PCdoB) defenderam que o governador retirasse a matéria da pauta. Em entrevista nesta manhã, no entanto, Rui defendeu a venda do terreno, reforçou a vantagem de estudar perto de casa e ressaltou que, nesta semana, lançará o edital para construção de novas escolas na capital baiana, beneficiando bairros como Lobato, Paripe, Cabula, Sussuarana, São Cristóvão, Pau da Lima, Imbuí, Fazenda Grande e Vila Canária.
Presidente da Comissão de Educação na Casa, a deputada governista Fabíola Mansur (PSB), lamentou ao Política Livre o processo de tramitação na Casa e disse que não houve discussão no colegiado. Mesmo assim, votou a favor do projeto com a promessa do governador de investir em outras sete escolas no município. “É um voto duro de dar, não gostaria de estar votando. Mas é um voto baseado na confiança da palavra do governador e na Secretaria Estadual de Educação na construção de sete escolas na periferia, com centros de excelência, qualidade de ensino e complexo esportivo. Apesar de ser crítica à forma [de tramitação], sem diálogo, não houve respeito à comunidade escolar e até à própria pauta da educação”, ponderou Mansur.
Em discurso inflamado, o líder oposicionista Targino subiu o tom contra Rui e chegou a cantarolar o verso “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”. O democrata questionou novamente os critérios utilizados pelo governador para vender o terreno da instituição “cujo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é maior do que a média do Estado e está entre os dez maiores da Bahia entre as unidades estaduais de ensino”. “Por que fechar uma escola em que há alunos querendo se matricular? Por que fechar uma escola que tem um corpo docente composto por especialistas, mestres e doutores? Por que fechar uma escola cujo Ideb é maior do que a média do estado e está entre os dez maiores da Bahia entre as unidades estaduais de ensino? Só há uma resposta: a ponte Salvador-itaparica. A necessidade do governo de levar para o caixa cerca de R$ 1,5 bilhão (valor da contrapartida do Executivo para a construção do equipamento)”, criticou o líder, ressaltando que o governo resolveu fechar “as cancelas do Corredor da Vitória” para os mais pobres e moradores da periferia.
Na tribuna, o oposicionista Paulo Câmara (PSDB) também criticou a falta de transparência do governo do Estado sobre o motivo que levou a escola ter apenas dez turmas. Segundo o tucano, está claro que é especulação imobiliária. Já Hilton Coelho chamou o governador de “autoritário” e disse que o “jeitinho correria de governar” atropela a opinião da sociedade civil que é contra o fechamento do Odorico Tavares.
Raiane Veríssimo