15 de setembro de 2020 | 11:22

Sob suspeita de violação de direitos humanos, China abre possibilidade de receber observadores da UE

mundo

Alvo de acusações da comunidade internacional a respeito da possível violação de direitos humanos em seu território, a China abriu a possibilidade de receber observadores independentes da União Europeia (UE) para apurar denúncias de abusos generalizados contra os uigures, minoria majoritariamente muçulmana concentrada em Xinjiang, no oeste do país.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, disse nesta terça-feira (15) que o bloco europeu é “bem-vindo” para visitar a área e “entender verdadeiramente a situação, sem depender de boatos”.

“A UE expressou seu desejo de visitar Xinjiang, a China já concordou e está disposta a fazer arranjos”, disse Wang, durante uma entrevista coletiva. A declaração foi uma resposta ao pedido feito por representantes da UE ao dirigente chinês, Xi Jinping, durante uma videoconferência nesta segunda-feira (14).

Os europeus querem que a China faça mais concessões no campo dos direitos humanos para conseguir avançar em um acordo comercial que já se arrasta por sete anos e inclui questões de muita complexidade, como a defesa da propriedade intelectual, repasse de tecnologia e subsídios.

Para o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, as negociações avançam para uma relação equilibrada entre UE e China, mas ainda existem “diferenças reais em assuntos difíceis”. Segundo ele, a questão dos direitos humanos precisa de uma “atenção mais cuidadosa”.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que a China precisa convencer a UE de que o acordo, que os dois lados querem finalizar até o final deste ano, realmente vale a pena.

“Obviamente, também há demandas do lado chinês, mas agora é o momento de provar que existe um verdadeiro interesse em mudar as coisas positivamente”, disse.

Ainda não há uma data marcada para uma visita da UE a Xinjiang, mas a declaração da chancelaria chinesa abre caminho para que investigações sobre o tratamento dado aos uigures causem menos atritos diplomáticos.

Grupos de defesa dos direitos humanos, entretanto, acusam o regime chinês de manter mais de um milhão de uigures em campos de reeducação política que têm como alvos principais líderes religiosos, ativistas e acadêmicos muçulmanos.

Nesta terça, mais de 20 entidades divulgaram uma carta aberta ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em que acusam o regime chinês de crimes contra a humanidade e genocídio.

“As atrocidades incluem detenção arbitrária de 1 a 1,8 milhão de pessoas em campos de concentração, um amplo programa de doutrinação política, desaparecimentos forçados, destruição de locais culturais, trabalho forçado, taxas desproporcionais de encarceramento prisional e campanhas e políticas coercitivas de prevenção de natalidade”, diz o documento assinado por grupos como Uighur Human Rights Project e Genocide Watch.

Folhapress
Comentários