22 dezembro 2024
Morreu na madrugada desta quinta-feira, 3, o engenheiro nuclear e físico Luiz Pinguelli Rosa, aos 80 anos, após ter sido internado por Covid-19 há quase um mês. Um dos maiores especialistas em energia no País, Pinguelli foi presidente da Eletrobras entre 2003 e 2004 e por várias vezes foi diretor da Coppe/UFRJ, no Rio de Janeiro. O velório ocorrerá no Átrio do Palácio Universitário da Praia Vermelha na tarde desta quinta.
Membro da Academia Brasileira de Ciências, eleito em 2003, o professor integrou o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC/ONU) e já recebeu o Forum Award da Sociedade Americana de Física, em 1992. No decorrer de sua carreira, recebeu a comenda com o grau de Chevalier de L’Ordre des Palmes Académiques, concedido em 1998 pelo Ministério da Educação da França; o Prêmio Golfinho de Ouro, categoria ciências, concedido no ano 2000 pelo Conselho Estadual de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, e as medalhas da Ordem do Mérito do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa, em 2003.
O atual diretor da Coppe/UFRJ, Romildo Toledo, lamentou a morte de Pinguelli e decretou luto de três dias na instituição.
“A Coppe/UFRJ decreta luto oficial por três dias em homenagem ao seu ilustríssimo professor. Em meu nome e em nome da diretoria, da qual Pinguelli fazia parte, e de todo Corpo Social da Coppe, prestamos nossas sinceras condolências e solidariedade aos familiares e amigos do nosso querido Professor Pinguelli”, disse em nota.
Repercussão
O professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador na Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, lamentou a morte de Pinguelli, que para ele teve um papel importante para tornar a Coppe/UFRJ um centro de pesquisa de nível mundial. “Ele teve uma atuação não só acadêmica, mas contribuiu muito para a política e planejamento do setor elétrico brasileiro. As análises consistentes que fez sobre o apagão de 2001 ajudou muito a estruturar o atual modelo do setor, mesmo ele divergindo muitas vezes do que foi implementado. Mas acima de tudo foi um exemplo de professor, pesquisador e acadêmico, contribuiu muito para a formação de uma geração. Deixa uma lacuna que dificilmente será preenchida.”, declarou ao Broadcast/Estadão.
Com formação em engenharia nuclear, Pinguelli sempre esteve próximo ao segmento e participou do projeto da primeira usina nuclear brasileira, Angra 1, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, quando ainda era do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe e Angra 1 ainda estava ligada a Furnas, na década de 1970.
Para o atual presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, a partida do físico “deixará um grande vazio no coração de todos que tiveram a honra e o prazer de conhecê-lo”.
Pelo Twitter, várias manifestações lamentaram a perda de Pinguelli, como a ex-presidente Dilma Rousseff: “Pinguelli foi um homem à frente do seu tempo, um visionário defensor da ciência e do País. Ele foi um nacionalista que colocou o Brasil e os interesses do povo no centro de todo o seu trabalho intelectual e científico. O Brasil perdeu um dos seus mais renomados cientistas e especialistas em energia.É um dia triste para todos os brasileiros”, afirmou.
O senador do Jean-Paul Prates (PT-RN) também registrou sua tristeza com a perda e relembrou uma passagem com o professor na França, em 1990, em uma conferência mundial de economistas de energia onde Pinguelli foi aplaudido de pé. “Depois, participei com ele do primeiro MBA em Petróleo e Gás do Brasil. Das primeiras turmas de alunos saíram muitos dos que dirigem o setor hoje. Luiz Pinguelli fará muita falta”, disse Prates.
A coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Tatiana Roque, destacou a luta de Pinguelli pelo combate às mudanças climáticas em uma época em que não se falava disso no Brasil. “Minha carreira acadêmica na área de história e filosofia da ciência se deve à visão que ele tinha, apoiando essa área quando era ainda incipiente no Brasil. Devo boa parte da minha trajetória acadêmica ao apoio de Pinguelli. Vai fazer muita falta, sobretudo neste momento em que o Brasil precisa exatamente desse tipo de compromisso para sua reconstrução”, declarou pelo Twitter.
De acordo com o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), Pinguelli unia o notável saber científico com aguda sensibilidade social. “Era um físico humanista, socialista, que colocou cabeça e coração a serviço da coletividade, de um Brasil justo e igualitário”, afirmou pelo Twitter.
Estadão Conteúdo