Foto: Antonio Molina /Folhapress/Arquivo
Congresso Nacional 28 de julho de 2022 | 09:18

Ex-reitores de universidades tentam criar bancada da educação e da ciência no Congresso

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Pelo menos dez ex-reitores de universidades e de institutos federais anunciaram sua pré-candidatura ao Congresso e a Assembleias Legislativas em um manifesto coletivo durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece na UnB (Universidade de Brasília), em Brasília. É o evento científico mais importante do país.

Os ex-dirigentes fazem parte de um grupo de mais de cem professores, pesquisadores e intelectuais que concorrerão no pleito deste ano —inclusive para cargos de governador e vice. Caso, por exemplo, de Olgamir Amancia Ferreira, professora da UnB e pré-candidata a vice-governadora do Distrito Federal pelo PCdoB-DF.

Juntos na SBPC, eles assinaram um documento para defender pautas como a garantia da autonomia universitária e a recomposição dos recursos destinados à pesquisa científica e às universidades públicas —que têm despencado nos últimos anos. É uma espécie de “bancada da ciência e da educação” com pré-candidatos de partidos como PT, PDT e PSOL.

A reunião, que ocorreu nesta quarta (27), foi paralela à organização científica oficial da SBPC. Contou, no entanto, com o atual presidente e com ex-presidentes da sociedade, além dos cientistas participantes do evento anual.

“A SBPC é uma entidade não partidária que não pode tomar posição a favor de algum candidato, mas pode falar que é inteiramente a favor da democracia e da urna eletrônica”, disse Renato Janine Ribeiro, professor da USP e presidente da sociedade. “É ótimo ter candidatos a favor da educação e ciência.”

Helena Nader, que comanda a ABC (Academia Brasileira de Ciências) —é a primeira mulher nesta posição— também participou do lançamento do manifesto apoiando as candidaturas. “Em um momento em que educação e ciência são negligenciadas pelo governo é muito importante ter pessoas se voluntariando para se candidatar a cargos como senador e deputado.”

A ideia da construção de candidaturas simultâneas apoiando pautas de educação e de ciência começou no início do ano. Aos poucos, explica o ex-reitor da UFG (Universidade Federal de Goiás) Edward Madureira Brasil, os nomes de pré-candidatos foram surgindo em conversas e lives realizadas nos últimos meses.

“Começamos a conversar com as lideranças nacionais da educação e da ciência que hipotecaram apoio ao movimento e simultaneamente conversamos inicialmente com ex-reitores das universidades federais e de institutos federais”, diz. “Em seguida, foram sendo agregadas outras lideranças.” Ele é pré-candidato a deputado federal pelo PT-GO.

Na lista dos pré-candidatos também está Ricardo Galvão, físico da USP e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele foi demitido pelo governo Bolsonaro em julho de 2019 após o anúncio de dados de desmatamento na Amazônia, que desagradaram ao governo. Agora, ele é pré-candidato a deputado federal em São Paulo pela Rede.

Galvão também faz parte do movimento Cientistas Engajados, que surgiu antes, no período eleitoral de 2018, para aumentar a representatividade da ciência no cenário político do país.

Na época, foram lançadas candidaturas de cientistas como o antropólogo da USP Walter Neves e Mariana Moura, pós-doutoranda na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) —que coordena o grupo Cientistas Engajados. Ela concorre novamente a deputada estadual em São Paulo, agora pelo PCdoB, e também estava no lançamento do manifesto na SBPC.

“Houve uma queda de 96% no repasse para investimentos nas universidades federais nos últimos anos”, diz Moura. “Agora, essas candidaturas são mais importantes do que nunca.”

A bancada da educação e da ciência também tem pré-candidatos na pós-graduação e graduação. Caso de Fábio Antônio de Oliveira Júnior, que cursa economia na UFG e é pré-candidato a deputado estadual pelo PT-GO. As pré-candidaturas da bancada estão sendo negociadas com os partidos.

Há ainda ex-reitores pleiteando vaga no Senado —caso de Maria Lúcia Neder, que disputa pelo PCdoB de Mato Grosso, e de Reinaldo Centoducatte, que concorre pelo PT do Espírito Santo. Eles dirigiram, respectivamente, as universidades federais de Mato Grosso e do Espírito Santo.

Já Paulo Burmann, reitor da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) até o ano passado, por exemplo, é pré-candidato a deputado federal pelo PDT gaúcho. E Roberto Ramos, que foi reitor da Universidade Federal de Roraima, disputa o legislativo estadual pelo PROS de Roraima.

A reunião anual da SBPC continua até o próximo sábado (30) de modo híbrido. Esse é o primeiro encontro anual da sociedade com atividades presenciais depois de um intervalo de dois anos em função da pandemia de Covid.

Sabine Righetti/Folhapress
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