21 novembro 2024
O candidato a deputado federal Rodrigo Martins de Mello, o Rodrigo Cataratas (PL-RR), foi preso pela Polícia Federal na noite desta quinta-feira (29) por suspeita de compra de votos. Ele, que pagou fiança e foi liberado, diz que a polícia age para atrapalhar sua campanha.
Segundo a PF, o carro de Cataratas foi abordado pela PRF (Polícia Federal Rodoviária) durante uma ação de rotina em uma estrada que leva à capital Boa Vista (RR).
“Foi encontrado no veículo material de campanha, aproximadamente R$ 6.000 em espécie e listas com nome de pessoas e anotações de valores, conjunto de indícios típicos da prática do referido crime”, afirmou a PF em nota.
Cataratas estava com sua fotógrafa e outra pessoa no veículo. Os três foram levados à PF em Boa Vista e presos em flagrante. Após prestaram depoimento, eles pagaram um total de R$ 26,2 mil em fiança e foram liberados, já nesta sexta-feira (30).
Segundo o Código Eleitoral, candidatos não podem ser detidos ou presos nos 15 dias que antecedem o primeiro turno das eleições, salvo casos de flagrante delito.
Em nota, a defesa de Cataratas afirma que eles retornavam de uma reunião da campanha em Alto Alegre (RR) e que o candidato já imaginava que a situação poderia acontecer.
“Não foi nenhuma surpresa essa ocorrência hoje, ainda mais às vésperas das eleições, e se confirma a não disfarçada busca de manchar sua reputação e minar sua candidatura”, diz o texto.
A reportagem teve acesso a um vídeo, gravado pela fotógrafa do garimpeiro, em que ela relata que foi encaminhada à delegacia em uma viatura diferente da dos outros dois presos. Ela também alega que foi intimidada pelos policiais durante a abordagem —a fotógrafa diz que se sentiu coagida a testemunhar contra o candidato.
“Todo tempo eles [policiais] ficavam insinuando que o Rodrigo estava fazendo compra de votos, porque acho que eles queriam ouvir isso da minha boca, mas o tempo todo eu disse ‘não’. Foi uma pressão, só de lembrar eu fico agoniada, porque você ser mulher e ficar no carro com três policiais é muito tenso”, conta ela na gravação.
Procurada, a PRF não respondeu.
Rodrigo Cataratas é um dos principais candidatos pró-garimpo nestas eleições. Ele e suas empresas já foram alvo de operações da Polícia Federal por ligação com a exploração irregular de ouro.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), ele é apontado como integrante de um grupo acusado de movimentar R$ 200 milhões com o minério extraído de forma ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
Ele também é líder do movimento Garimpo É Legal, que já processou lideranças indígenas e busca liberar a atividade de extração do minério em locais hoje proibidos.
Em sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele disse ter um total de R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo —quantia, segundo ele, adquirida “a custo de muito suor e trabalho em todas as atividades empresariais, potencializadas com o início da atividade minerária”—, além de diversas aeronaves.
Ele, que também é piloto, detém diversos contratos de prestação de serviço de voos com o governo federal.
As empresas de Cataratas receberam R$ 124 milhões de dinheiro público, a maior parte (R$ 75 milhões) durante o governo Bolsonaro.
A sede das empresas de Cataratas, em Boa Vista, já foi alvo de ação de apreensão de helicópteros, feita em conjunto por PF, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em agosto de 2021.
Foram apreendidos nove helicópteros dessas mesmas empresas, das quais são sócios o piloto e seu filho. Depois, uma juíza liberou parte das aeronaves e concordou com o pedido de habeas corpus impetrado por ele, que havia sido indiciado.
Segundo a PF, aeronaves em nome de empresas do grupo do qual ele é integrante são utilizadas para transportar pessoas, combustível e equipamentos a áreas de garimpo na terra Yanomami, como forma de concretizar a extração ilegal de minérios.
João Gabriel/Folhapress