25 novembro 2024
A Casa Branca lançou nesta quarta-feira (12), após uma série de adiamentos, sua nova estratégia de segurança nacional. O centro do documento reforça o que já se depreendeu em pouco mais de um ano e meio da gestão de Joe Biden nessa seara: as prioridades são conter a ascensão da China, frear as ameaças da Rússia e agir para reparar as fraturas na sociedade americana.
O texto também enfatiza a importância de trabalhar com aliados para defender a democracia e enfrentar o autoritarismo. As 48 páginas, de toda forma, não representam grandes mudanças nem marcam novas doutrinas centrais de política externa, realçando a visão de que a liderança dos EUA é a chave para superar desafios globais como a emergência climática e as novas autocracias.
A política é obrigatória para todo novo governante americano e configura uma mistura de orientação interna, sinal de intenções para aliados e adversários e, muitas vezes, uma autocelebração do poder de Washington.
No caso de Biden, a produção e divulgação foram adiadas devido ao desenrolar da Guerra da Ucrânia —suas primeiras versões, segundo o jornal The New York Times, datam de dezembro, ainda antes do início da invasão russa no país vizinho. Mesmo com o conflito, o documento deixa claro que o maior competidor de Washington é Pequim.
“A Rússia representa uma ameaça imediata para o sistema internacional, ao violar temerariamente diretrizes básicas [com a guerra]”, diz o texto, que com o seguinte contraponto deixa clara a visão americana hoje: “A China é o único país que busca reformular a ordem internacional e, cada vez mais, o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para avançar nesse objetivo”.
Com esse contexto, Biden defende que os EUA devem liderar a corrida armamentista e econômica com a potência asiática se espera manter sua influência.
“A China demonstra a intenção e, cada vez mais, a capacidade de redesenhar o sistema internacional de forma a inclinar o campo em seu benefício, mesmo que os EUA continuem comprometidos em lidar com a competição com responsabilidade”, disse o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan.
Ainda assim, o documento reforça a importância da Otan no contexto da Guerra da Ucrânia, celebrando a nova unidade entre países da aliança militar que Washington lidera. “Os EUA não permitirão que a Rússia ou qualquer potência busque alcançar seus objetivos usando ou ameaçando usar armas nucleares”, diz o texto, sem detalhar de que forma essa “não permissão” se daria.
Em entrevista nesta quarta, Sullivan disse que a estratégia busca “quebrar a linha entre política externa e política doméstica para investimentos de longo prazo”, tendo como diretriz uma mudança de cenário que o documento descreve como “fim definitivo da era pós-Guerra Fria”.
Segundo ele, a década agora se torna decisiva em relação a dois desafios fundamentais. “O primeiro é a competição entre as grandes potências para moldar o futuro da ordem internacional. O segundo, lidar com desafios transnacionais como a mudança climática, a insegurança alimentar, doenças, terrorismo, transição energética e inflação”.
Nesse sentido, a política de Biden difere um pouco da tradição do Partido Democrata, ao defender uma modernização mais rápida das Forças Armadas e destacar que a globalização teve um papel na disseminação da pandemia e da desinformação e na escassez na cadeia de suprimentos.
O presidente americano enfrenta ainda outros desafios na política externa, incluindo a guerra tarifária com Pequim iniciada por Donald Trump, as relações com a Arábia Saudita —agora com desgaste amplificado por uma recente decisão da Opep+ sobre os preços do petróleo— e a postura dúbia da Índia.
O novo documento sobre segurança nacional abre caminho para que o Pentágono publique nas próximas semanas sua estratégia de defesa e um documento associado que descreve os planos para o arsenal nuclear. Sullivan disse que eles refletirão “um passo adiante em direção à redução do papel das armas nucleares” na visão americana.
“Não queremos que a concorrência se transforme em confronto ou em uma nova Guerra Fria”, disse —ainda que seja mais ou menos isso que tenha sido inaugurado por Donald Trump e continuado por Biden.
Folhapress