23 novembro 2024
Os reflexos negativos da pandemia estão cada vez mais distantes do setor de franquias. Números mostram sinais claros de recuperação. Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o faturamento deve crescer entre 9,5% e 12% neste ano, em relação a 2022. Os empregos gerados vão aumentar 10%, assim como o número de unidades franqueadas. A ABF projeta ainda para este ano alta de 4% no número de marcas que operam como rede.
O balanço do ano passado da entidade mostrou que a receita nominal das franquias ultrapassou a barreira dos R$ 200 bilhões, atingindo R$ 211,49 bilhões em 2022. A cifra é maior do que os R$ 186,75 bilhões registrados em 2019, antes da pandemia.
Os dados da ABF do primeiro trimestre de 2023, sobre igual período de 2022, reforçam a tendência de alta. As receitas do setor no período chegaram a R$ 50,85 bilhões, aumento nominal de 17,22% ante o primeiro trimestre de 2022 e de 22,6% em relação ao mesmo período de 2019.
“O franchising demonstra resiliência. Enfrenta crise atrás de crise e continua mostrando grande vitalidade”, afirma o consultor Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto. O especialista diz que o setor poderia estar até melhor, se não fossem os juros altos. “Quando os juros baixarem, haverá mais estímulo para tirar o dinheiro da renda fixa e investir em um negócio.”
Para o CEO da Praxis Business, Adir Ribeiro, o mercado de franquias tem boas perspectivas de curto e médio prazos, diante de previsões de PIB maior e inflação e juros mais baixos. “O franchising tem mostrado rapidez e capacidade de adaptação de seus modelos de negócio.”
Ribeiro afirma que houve uma reorganização desse segmento durante a pandemia. “O período acelerou uma série de transformações que já eram necessárias”, diz. Segundo ele, consumidor já queria um acesso omnichannel, ou múltiplas formas de compra (na loja, pela internet, por aplicativos etc.), e as empresas precisavam se adaptar a esses modelos híbridos, até mesmo na forma de se relacionar com os franqueados.
Alimentação, saúde, beleza e bem-estar, além de hotelaria e turismo, foram áreas que se destacaram no ano passado. “As principais tendências do mercado não se alteraram”, ressalta Cherto. Segundo ele, não há novos segmentos surgindo. “O que temos são marcas novas, com propostas novas”, afirma.
Lançada no Paraná em dezembro de 2019, a franquia de cafeterias Mais1 Café apareceu pela primeira vez no ranking da ABF de 50 maiores redes em número de unidades no ano passado. Com 394 lojas franqueadas no final de 2022, ocupou a 48ª posição.
“Em média, abrimos uma loja a cada 36 horas, desde o início do ano passado” , revela o diretor operacional e um dos quatro sócios da marca, Vinícius Delatorre. A expansão manteve-se neste ano. Segundo o executivo, atualmente, a empresa tem 650 unidades. “Nossa meta é encerrar 2023 com 800 e atingir 1.200 nos próximos três anos.”
Concebida para privilegiar o modelo “coffee to go”, quando o cliente compra pelo aplicativo ou no quiosque e retira na loja, a franquia teve menos dificuldade para se ajustar à pandemia, redirecionando o foco para o delivery.
A digitalização contribuiu para garantir agilidade no suporte ao franqueado. Mas a tecnologia não é a única responsável pelo desempenho: a empresa quase não terceiriza atividades, o que, segundo o executivo, dá velocidade e qualidade de atendimento.
Para o CEO da Praxis Business, é sempre válido apostar em novos negócios que estejam atualizados tecnologicamente, com um bom nível de digitalização e que tenham uma aderência muito forte ao mercado de consumo. “Principalmente com modelos de negócio que prevejam cada vez mais essa interação multicanal”, destaca Ribeiro.
Para Cherto, inovação não precisa ser algo que ninguém nunca tenha feito. Ele cita a Oakberry, franquia de venda de açaí que, em poucos anos, saiu de um quiosque para cerca de 800 pontos de venda, com presença em 40 países. “Açaí todo mundo conhece. Projeto arquitetônico, iluminação, uniforme, treinamento… nada disso é novo. O que fizeram foi combinar tudo isso criando uma marca forte.”
Nesse sentido, Delatorre diz que a Mais1 Café investe muito em parcerias com grandes empresas. Durante um mês, por exemplo, a marca vai impactar cerca de 6.000 passageiros da Gol com os seus cafés sendo servidos a bordo.
As pessoas buscam franquias pelos mais variados motivos, entre eles o de voltar a se ocupar ao encerrar suas atividades profissionais. Depois de sete anos aposentado, o oficial aviador da Força Aérea Brasileira Carlos Alencastro, 63, decidiu voltar à ativa, agora como franqueado no Rio de Janeiro da rede Mais1 Café.
Ele toca o negócio junto com o filho, Gabriel Alencastro, 33, piloto civil, desde dezembro do ano passado.
Carlos conta que o filho buscava um novo ramo de atividade. A opção pela Mais1 Café foi incentivada pela filha mais velha, que mora na capital paranaense, onde conheceu a rede, sediada na cidade. “Meu filho foi a Curitiba e voltou decidido a investir na franquia”, lembra.
A forma moderna de oferecer café, no conceito “coffee to go”, a agilidade na operação com pedidos feitos pelo totem dentro da cafeteria, além das ferramentas de gerenciamento oferecidas pela franqueadora, contribuíram para a decisão pelo negócio. “Eu consigo acompanhar tudo o que acontece na loja pelo celular por meio de um sistema inteligente, que informa o que está sendo vendido em tempo real, o preço e a forma de pagamento”, diz Carlos.
As primeiras tratativas com a franqueadora foram iniciadas em julho de 2022. Conseguiram inaugurar a unidade Mais1 Café no dia 9 de dezembro, no centro do Rio. “A localização é mais comercial do que turística”, ressalta. Por isso mesmo, funciona de segunda a sexta, das 7h30 às 19h.
Por dia, a cafeteria realiza cerca de 115 atendimentos, com tíquete médio de R$ 20. Isso representa R$ 46 mil de faturamento médio mensal. O franqueado diz que o movimento cresce a cada mês. “Vamos ter de contratar mais gente”, prevê ele, que já conta com dois colaboradores.
De 28 de junho a 1º de julho, quem pensa em investir ou conhecer as novidades em franquias pode visitar a 30ª edição da ABF Expo Franchising, no Expo Center Norte (zona norte de São Paulo). A ABF estima que, dos 400 expositores, uma centena seja de marcas estreantes. A entidade espera receber pelo menos 60 mil pessoas ao longo do evento.
Segundo a entidade, o público deve encontrar opções de franquias com investimento inicial de R$ 9.000. No rol de setores para investir, há espaço para marcas de alimentação, serviços educacionais, entretenimento, entre outros.
José Carlos Videira / Folhapress