26 novembro 2024
Na presidência da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral desde o final de junho de 2023, o vereador licenciado de Salvador Henrique Carballal (PDT) tem acompanhado de perto a evolução das conversas em busca de um entendimento sobre quem será o candidato da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) à Prefeitura da capital.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele demonstra preocupação com colocações recentes feitas por lideranças do PT e do PCdoB e faz críticas diretas à deputada estadual comunista Olívia Santana, que estaria confundindo “caciquismo com liderança”. Carballal também destaca a aproximação que tem com o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e responde se estaria torcendo pelo aliado.
Henrique Carballal reforça ainda que não pretende deixar o PDT e acha que a legenda, que já foi comandada na Bahia por um dos antecessores na presidência da CBPM, o pedetista histórico e falecido Alexandre Brust, vai migrar para a base de Jerônimo. Ele reafirma, ainda, que não tentará renovar o mandato de vereador em 2024, mas não descarta concorrer a deputado em 2026.
No início da entrevista, Carballal faz um balanço do trabalho desenvolvido até aqui na presidência da CBPM e defende um novo modelo de negócio para a empresa, que deve fechar o ano com um faturamento R$20 milhões maior do que em 2022.
Confira abaixo a íntegra da conversa:
Política Livre – Antes de o senhor assumir a presidência Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), a empresa tentava resolver a situação trabalhista de cerca de 80 funcionários que entraram no Plano de Desligamento Incentivado e Voluntário (PDIV), em uma briga que se estende na Justiça e pode custar mais de R$47 milhões. Isso avançou para uma solução?
Henrique Carballal – A gente continua enfrentando problemas e quando o governador Jerônimo Rodrigues (PT) me deu uma missão que não necessariamente seria uma missão fácil, não é? Uma das primeiras coisas que fiz ao assumir foi conversar com esses servidores já com idade de aposentadoria do PDIV, mas não teve acordo porque eles esperam receber um valor maior na Justiça. São pessoas que têm direitos protegidos pela Constituição brasileira. Estamos construindo um processo de sanear esses problemas. Iniciei a minha gestão, inclusive, procurando as pessoas que têm ações trabalhistas para negociar e estamos resolvendo gradualmente os desligamentos, dentro da razoabilidade. Acreditamos que num futuro não tão longe vamos concluir os desligamentos através do PDIV, até para que possamos realizar o concurso público robusto que estamos planejando. Ao mesmo tempo, estamos estimulando nossos funcionários. Mandamos quatro colaboradores da empresa para tomar curso na China: dois geólogos, um economista e um administrador. Queremos ampliar isso, colocar os funcionários para fazer cursos de especialização. E aí eu remeto o mérito ao doutor Manoel Barreto, que é o nosso diretor técnico, que tem feito parcerias com entidades como a Ufba e o Senai e Cimatec.
Existe previsão de quando esse concurso público será feito, e para quais áreas dentro da CBPM?
Todas as áreas. Primeiro, para a nossa função, a nossa atividade final, ou seja, para a contratação de geólogos, engenheiros de minas. Mas naturalmente a gente tem também outras funções, como advogados, assistentes sociais. Nós abriremos um concurso mais amplo por conta também da dinâmica que estamos empreendendo na empresa. Nós acabamos de fazer o modelamento do planejamento estratégico prevendo a atuação da empresa em outras áreas que antes não tínhamos, como a gestão ambiental, como a possibilidade de realizarmos negócios outros, entendeu? Podemos fazer pesquisas para a iniciativa privada, por exemplo. Além da pesquisa propriamente dita das áreas da CBPM, nós podemos fazer pesquisa para a iniciativa privada, entendeu? Nós podemos analisar áreas para quem quiser, entendeu? Naturalmente cobrando os valores dentro das regras do mercado.
O senhor disse que a questão da gestão ambiental terá um novo tratamento na CBPM. Antes era um problema?
Bom, primeiro nós temos grandes horizontes de desenvolvimento da mineração na Bahia, até por conta das características geológicas que o Estado possui, que nos coloca numa posição privilegiada e de destaque, inclusive com a existência de minerais fundamentais para a transição energética, que é uma questão ambiental fundamental para o futuro. Afinal, não existe transição energética sem mineração. Apesar da mineração estar em tudo na vida das pessoas, as pessoas não sabem disso. Em tudo que você usa tem a participação da mineração, mas o fato fundamental é de que não existe retirado de carbono da atmosfera sem mineração. O custo ambiental de uma mina é infinitamente menor do que qualquer outra atividade econômica de grande porte, seja a indústria, seja a agropecuária. Naturalmente que respeitamos todas os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) criadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e outras normas. Quando você respeita a legislação, você não corre risco de ter acidentes como o de Brumadinho, o de Mariana, entendeu? Com essa riqueza mineral, a Bahia fica numa posição privilegiada nessa questão da transição energética e, consequentemente, na área ambiental. E para aproveitamos isso, a CBPM vai se reinventar. Quero até aproveitar a oportunidade da entrevista para anunciar que no dia 23 de novembro estaremos realizando um simpósio exatamente para falar sobre a sustentabilidade na mineração, que para nós é um ponto chave.
Reinventar de que forma?
Nós éramos exclusivamente uma empresa de pesquisa. Então, o que a CBPM fazia? Pesquisava uma área, identificando essa área. Depois, a CBPM ofertava essa área para a iniciativa privada explorar, por meio de licitação, recebendo um valor muito menor do que o que gastou fazendo pesquisa. Exemplo: investimos mais de R$30 milhões em uma determinada área somando estudo aerogeofísico, furação de sondagem, análises químicas, e recebemos R$3 milhões ou R$4 milhões como prêmio de oportunidade, que é exatamente o pagamento desse estudo anterior. Você percebeu que essa conta não bate? Ou seja, a gente gastava muito mais do que o que recebia pelo prêmio de oportunidade e em seguida recebemos os royalties pelo direito de a iniciativa privada minerar. Só para você ter uma ideia, existe uma empresa que está sendo negociada por US$ 1 bilhão. Essa empresa que atua aqui, se for vendida, a CBPM não recebe nada, entendeu? Se fôssemos sócios de 20% dessa empresa, eu receberia US$200 milhões, ou seja, R$1 bilhão. A CBPM precisa criar novas modelagens de negócio para garantir que o interesse público seja assegurado, porque o governador Jerônimo compreende a mineração como uma fronteira importante do desenvolvimento e quer que esse setor traga riqueza para o povo.
A ideia seria a CBPM se associar a empresas que fazem a mineração?
Sim, se associando a empreendimentos de envergadura, buscando, na realidade, trazer mais dividendos para o povo da Bahia, entendeu? Gerando emprego, gerando renda. Até porque, inclusive, muita gente, às vezes, senta para especular nessa área, sabe? Porque como nós estamos lidando com commodities, muitas vezes eles esperam uma guerra, um conflito ou uma situação para subir preços, entendeu? Então, nós precisamos, na realidade, ter a participação da CBPM para que o interesse do povo fique garantido.
De que forma a CBPM pode ajudar as autoridades policiais e ambientais no combate à mineração ilegal?
Como somos uma empresa estatal, não temos essa atribuição de combater a mineração ilegal. A responsabilidade da fiscalização da mineração é da ANM (Agência Nacional de Mineração) e de dos outros órgãos que existem, como os ambientais, o Ministério Público, a polícia. O que nós podemos fazer, e que é uma determinação do governador, é auxiliarmos o fomento da mineração, mesmo que seja um garimpo. A gente pode fomentar essa atividade, dar suporte aos garimpeiros, ajudar a criar uma cooperativa. Isso nós podemos fazer, ajudar a organizar, analisar o material, ver a viabilidade econômica. Então, nossos técnicos estão aqui à disposição para fomentar a mineração, para que seja tudo legal.
O senhor pretende buscar a autonomia orçamentária da CBPM? Hoje, sabemos que os recursos obtidos pela empresa por meio dos royalties são repassados para o caixa do Estado.
A CBPM é superavitária, está certo? Ou seja, ela ganha mais do que o que gasta. Essa questão de ela ser autônoma, eu pessoalmente não faço questão. Para mim isso não é o mais importante. Eu não tenho problema em estar subordinado às regras do Estado, do controle da Saeb (Secretaria de Administração), da Secretaria da Fazenda. Muito pelo contrário. A gente tem a certeza de que a gestão é uma gestão austera, uma gestão com foco no desenvolvimento. Sendo assim, para mim isso é indiferente. Eu não faço questão da CBPM ser uma empresa independente.
Em 2022, a companhia teve um faturamento de aproximadamente R$85 milhões. Esse montante vai aumentar em 2023?
Vamos aturar R$20 milhões a mais do que 2022. Será um superávit melhor.
Vamos começar a segunda parte da entrevista falando de política. O senhor mantém a posição de que não tentará renovar o mandato de vereador, do qual se licenciou para assumir a presidência da CBPM?
Não, não, de fato eu não serei, já é um entendimento do governador, inclusive para que eu continue aqui na gestão, entendeu? Nem faria sentido eu ter vindo para cá em junho para sair agora em abril de 2024 para me candidatar a vereador de Salvador. Então, eu irei esperar, guardar que ele (o governador) determine para quem eu devo transferir meus votos para aí poder declarar apoio a uma candidatura a vereador.
Pretende ser candidato a deputado estadual ou federal em 2026?
Eu sou disciplinado, faço parte do grupo do governador. Meu partido é PGJ, o Partido do Governador Jerônimo. O padeiro faz pão, certo? O pedreiro constrói casa. O político tem que ser candidato. Agora, a minha candidatura estará atrelada ao projeto do governador, certo? Eu só serei candidato se o governador entender que eu devo ser candidato, entendeu?
O senhor vai continuar no PDT, partido que hoje faz oposição ao governo do Estado?
Eu continuo no PDT, até porque eu acho que o PDT vem para a base do governador num futuro não muito longe. Você vê uma discussão, inclusive, da federação do PDT com o PSB, partido que faz parte da nossa base. E você sabe que o PDT, nacionalmente, está na base do presidente Lula (PT). O presidente do PDT (Carlos Lupi, licenciado) é ministro do governo Lula (da Previdência). Então, a incompatibilidade é o PDT fazer oposição ao governo Jerônimo. Ainda mais tendo o PDT a história que tem no movimento social, no trabalhismo. O PDT não pode estar aliado ao que há de mais conservador na política da Bahia, que é o grupo do ex-prefeito de Salvador (ACM Neto). Acredito que o caminho natural do partido, que já teve num passado recente um filiado comandando a CBPM (Alexandre Brust, já falecido), é voltar para a base do PT.
O senhor sempre teve uma ligação política forte com o atual vice-governador Geraldo Júnior desde os tempos da Câmara Municipal de Salvador. Está na torcida para que ele seja oficializado o candidato da base de Jerônimo à Prefeitura?
Geraldo Júnior, em primeiro lugar, é meu amigo pessoal. Ele é como um irmão. O governador Jerônimo é um líder, e nós precisamos aguardar a estratégia que ele está montando. O líder não vai impor a sua vontade goela abaixo, mas ele está olhando por cima e vendo, portanto, a composição da nossa coalizão e enxergando qual é a melhor estratégia. Por isso não entendi quando vi a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) fazendo críticas e querendo impor uma vontade como sendo mais importante do que a vontade coletiva. Até porque ela foi candidata a prefeita, não é? É preciso não confundir caciquismo com liderança, certo? E Olívia teve uma votação pífia quando foi candidata a prefeita. Então, eu acho que a postura de Olívia não agrega no debate sobre a candidatura de Jerônimo em Salvador. O governador vai dialogar, ouvir, porque ele sabe ouvir e ninguém pode negar isso.
O senhor está se referindo às declarações recentes de Olívia de que só reconheceria uma decisão sobre a candidatura em Salvador fruto da federação formada pelo PCdoB, PT e PV, dada logo após a notícia de que Geraldo Júnior seria o postulante escolhido…
Não podemos querer impor a nossa vontade como sendo a nossa vontade coletiva. Então, é um absurdo ver uma pessoa que faz parte dessa coalizão, faz parte desse movimento que é tão vitorioso na Bahia, fazer um discurso estapafúrdio como eu vi pela imprensa aí. Inclusive, essa posição dela, com certeza não é a posição do partido dela.
O PT insiste que o candidato a prefeito da capital deve ser o deputado Robinson Almeida e aponta como um dos motivos mais fortes a necessidade de o partido, e a federação formada junto com o PCdoB e o PV, eleger uma boa bancada de vereadores. Segundo esse raciocínio, uma candidatura do MDB seria prejudicial. Como o senhor analisa esse argumento?
Em primeiro lugar, esse é um tipo de discurso que desqualifica a política, porque se você, então, quer colocar um candidato a prefeito para eleger vereador, então esse candidato não é candidato a prefeito, ele é candidato a vereador. Nós temos que construir uma candidatura que seja uma candidatura capaz de defender o legado do governo, do governador Jerônimo na cidade do Salvador. E que mostre para o povo dessa cidade que, tendo um aliado de Jerônimo no comando da Prefeitura, a cidade vai avançar muito mais. É isso que nós precisamos ter, uma candidatura que tenha essa condição. Isso posto, naturalmente nós vamos eleger uma grande bancada de vereadores, não só do PT. Se valesse o raciocínio do PT, todos os partidos teriam que lançar candidato a prefeito. Aí não valia o discurso da união, não é? O PT, como principal partido, o partido do governador, o partido do nosso líder, tem uma responsabilidade maior em bancar a unidade.
Foi pego de surpresa com a declaração de apoio do presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Carlos Muniz (PSDB), de quem o senhor é próximo, à reeleição do prefeito Bruno Reis (União)?
Eu ainda nutro a esperança de que Muniz possa marchar conosco na próxima eleição. Se não ocorrer na próxima eleição, porque ele tomou uma decisão, talvez uma decisão precipitada, eu espero contar com ele no futuro porque sei da sua competência, do seu compromisso com a cidade. Caso Muniz decida manter o apoio à candidatura de Bruno, não vejo isso como impeditivo de que o presidente da Câmara possa nos dar sustentação após a nossa vitória em Salvador.
Esse movimento torna mais difícil derrotar Bruno Reis?
Não há como negar que Bruno é favorito, mas isso não significa que nós não temos condições de derrotá-lo. E a eleição do governador Jerônimo demonstrou isso. A força que temos quando marchamos unidos. Esse leque de partidos do nosso campo é bastante amplo e, quando eles se juntam, meu amigo, sai de baixo porque nós temos muita força para poder enfrentar e poder para vencer.
Política Livre