22 novembro 2024
Aos 77 anos de idade, o deputado federal João Leão (PP) mantém a porta de casa em Lauro de Freitas aberta para fazer política. No último sábado (20), por exemplo, recebeu o empresário Teobaldo Costa (União) para tratar das eleições no próprio município, além de lideranças de outros municípios. Também concedeu, por telefone, entrevistas a rádios do interior. O mesmo ocorreu no domingo (21), quando atendeu o Política Livre para uma rápida conversa entre uma reunião e outra.
Ex-vice-governador da Bahia por oito anos, ex-secretário estadual de diversas pastas e da Casa Civil da Prefeitura de Salvador, além de ex-prefeito de Lauro de Freitas, Leão critica, na entrevista, a lentidão de obras na Bahia que estão em andamento, como a Ferrovia de Integrações Oeste-Leste (Fiol), e de outras que sequer saíram do papel, como a ponte Salvador-Itaparica, da qual já foi um dos maiores defensores.
Ele diz ainda que segue independente em relação ao presidente Lula (PT) e ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), e defende o apoio do PP à reeleição do prefeito Bruno Reis (União). Na entrevista, Leão fala ainda sobre as eleições em Barreiras e, claro, em Lauro de Freitas, além de responder se é a favor ou contra a criação de uma federação formada pelo partido dele junto com o União Brasil e o Republicanos e de falar do futuro político.
O senhor usou as redes sociais recentemente para dar conselhos ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) sobre a ponte Salvador-Itaparica, projeto que conhece bem. Por que essa obra ainda não saiu do papel?
Rapaz, esse projeto não saiu até agora por falta de vontade do governo. Já poderia ter saído, já poderia ter iniciado, sim. Para você ter uma ideia, nós iniciamos o projeto em 2009. Em 2013, o projeto estava pronto. De 2013 para cá, já são 11 anos. Nós tivemos dois anos de pandemia aí que atrapalhou. Mas já era para ter iniciado esse negócio. Mas nesses últimos cinco anos, nós perdemos o bonde.
Mas o senhor era vice-governador, secretário que se colocava como um dos responsáveis pela obra durante boa parte desse tempo. Só rompeu com o PT antes das eleições de 2022. E a ponte não saiu…
Você teve o problema na pandemia e, em função da pandemia, nós não íamos botar sete mil garotos, sete mil pessoas trabalhando num canteiro de obra. Então, não tinha essas condições de avançar. Caso contrário a obra teria, sim, sido iniciada comigo. Eu acho, inclusive, que o governo federal e o Congresso Nacional devem ajudar o Estado nessa obra. Pode ajudar total. Eu, inclusive, coloquei o caminho para o governo federal poder ajudar. Quando eu estava confeccionando o projeto, eu estive no Ministério da Infraestrutura. A ponte hoje é BR-420 e com isso aí nós viabilizamos a possibilidade de haver recursos federais sendo alocados na ponte, inclusive por meio de emendas ao Orçamento da União que eu estou assegurando para fazer obras necessárias de infraestrutura para atender a demanda que vai surgir a partir da ponte. É o caso, por exemplo, da duplicação da Ponte do Funil e dos trechos importantes de rodovias, afinal o fluxo de veículos vai aumentar.
O senhor também criticou recentemente o governo federal pela lentidão nas obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), primeira obra anunciada do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)…
Falei sim. O lote até Caetité, que foi privatizado, até que está andando razoavelmente. Mas o fato é que, após duas décadas desde o início do projeto, a obra nunca foi concluída, passando por vários governos E é uma obra que vai trazer grande impulso para o desenvolvimento da região litorânea de Ilhéus e que é fundamental para escoar, por esse litoral, os grãos produzidos no oeste da Bahia. Quem fez o projeto foi eu, quando era secretário, e passaram-se oito anos de governo Lula (PT), com oito anos dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), mais quatro de Jair Bolsonaro (PL) e agora mais um de Lula e a ferrovia vai para lá e vem para cá. Agora está nesse novo PAC e vamos continuar cobrando para que saia.
O senhor está falando de duas obras que tiveram início, ou começaram a ser projetadas, em governos do PT, seja no âmbito estadual ou federal, mas que nunca foram concluídas. De quem é a culpa?
Eu acho que os governos precisam deixar de olhar no espelho retrovisor e começar a andar com essas obras. O retrovisor aqui do governador Jerônimo Rodrigues (PT) é Rui Costa (PT) e Jaques Wagner (PT), que ficaram, juntos, 16 anos. Então, é um espelho longo, longo. Já o espelho retrovisor de Lula é só Bolsonaro. Ao dizer que pegou um país destruído, ele precisa também levar esse espelho retrovisor até a administração não só de Bolsonaro, mas também de Temer, de Dilma e dele próprio.
Mas o partido do senhor, o PP, está na base do governo Lula, com ministério, Caixa Econômica Federal. Não fica ruim para a legenda essas críticas?
Meu partido está na base e eu estou querendo ajudar o Progressistas. Queremos ajudar o Brasil. Mas eu, João Leão, continuo totalmente independente. Posso fazer as críticas no sentido de colaborar.
Na Bahia, o PP segue dividido entre Jerônimo e o grupo liderado pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União). Acha que será assim até quando?
Papai, o PP está dividido lá em Brasília também. Uma parte quer ficar com o governo Lula, outra parte não. Entendeu? Isso é normal dentro dos partidos políticos. Eu, Leão, sigo independente tanto lá quanto cá, buscando ajudar o Brasil e a Bahia da melhor forma. Acho que vamos seguir desse jeito e vamos crescer fazendo nosso trabalho, respeitando todo mundo. A minha função aí não é atrapalhar com esses conselhos que eu estou dando ao governador. Faço no intuito de ajudar a Bahia. Eu quero ajudar a Bahia. Não é ajudar governo, não. Eu quero equilibrar o governo para que o governo possa ajudar a Bahia.
O senhor é a favor da federação formada por PP, União Brasil e Republicanos?
Rapaz, eu estou avaliando isso. Eu tenho certeza que até essa eleição de 2024 não vai acontecer nada. Isso porque é muito difícil que aconteça em ano eleitoral. Você tem locais em que nós vamos disputar com a União Brasil, assim como vamos disputar com uma série de outros partidos. Então, isso aí não vai ser possível de se fazer. Para 2026, acho que ainda precisamos analisar se é uma boa para o PP. Eu acho que o PP é grande, e não precisa ficar enorme. Já temos lideranças fortes, consolidadas, como é na Bahia também. Temos quatro deputados federais, seis estaduais e seis vereadores em Salvador. Temos aí uns 60 prefeitos, em torno disso. Temos mais prefeitos do que o PT. Então, temos que analisar com cuidado isso de federação.
O PP elegeu mais de 90 prefeitos em 2020, mas tem perdido muitos para o Avante, presidido na Bahia pelo ex-deputado federal Ronaldo Carletto, ex-pepista. Como enfrentar esse assédio?
Isso é natural. Olha, eu gosto muito e não tenho nada contra o Ronaldo Carleto. Eu tenho uma amizade muito antiga com o Ronaldo Carleto e ele está buscando fazer o trabalho dele. Na verdade, Carletto levou para ele os prefeitos que apoiavam ele dentro do PP. Eram oito prefeitos. A questão toda é que Ronaldo Carletto ficou com ciúmes da eleição do deputado federal Mário Negromonte Júnior para a presidência do PP (na Bahia) e optou por sair do partido, porque ele queria ser o presidente.
Quantos prefeitos o PP deve eleger em 2024?
Nós vamos começar a fazer esse balanço agora. Esse balanço é muito em função dos deputados, não é? Você tem uma série de deputados que fazem lá quatro, cinco, seis, sete ou dez prefeitos. Então, isso vai depender muito do trabalho dos deputados.
Mário Negromonte Júnior disse que o partido pode conversar com o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), pré-candidato ao Palácio Thomé de Souza, sobre a disputa eleitoral em Salvador. O que o senhor, que é aliado do prefeito Bruno Reis (União), acha disso?
Acho que conversar todo mundo pode, e Mário Júnior é um excelente quadro do partido, tem conduzido bem, mas em Salvador vamos apoiar Bruno Reis porque é o melhor nome para a cidade. Nós queremos realmente dar continuidade com o time que está ganhando. Para que mudar?
Seu filho, Cacá Leão (PP), secretário de Governo da Prefeitura, já defendeu que a atual vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) siga na chapa de Bruno Reis. O senhor concorda ou acha que os pepistas também devem disputar a indicação?
Lógico, Ana Paula é uma figura maravilhosa. O PP não vai pleitear isso, de maneira nenhuma. O PP vai querer continuar fazendo seis vereadores, e quem sabe até oito nesta eleição.
Em Barreiras, há uma disputa familiar entre dois filiados do PP para a definição de quem será candidato a prefeito: o deputado estadual Antonio Henrique Júnior e o filho dele, Danilo Henrique, secretário de Governo em Luiz Eduardo Magalhães. Qual será o nome?
Lá são dois candidatos fortes. Pai e filho. Isso porque o Espírito Santo não quer ser candidato. O Espírito Santo é o Antônio Henrique (ex-prefeito), pai do deputado e avô de Danilo. O velho Antônio Henrique. Todos os três são os primeiros colocados nas pesquisas. Agora é aquela história: o Espírito Santo, que não quer, terá que decidir (qual vai ser o candidato).
E em Lauro de Freitas, aqui na sua terra, quando sai o nome da oposição para disputar a Prefeitura?
Nós temos aqui em Lauro de Freitas um total de oito a nove candidatos, mas três aparecem com peso nas pesquisas: o empresário Teobaldo Costa (União), a vereadora Débora Régis (PDT) e o ex-vereador Matheus Reis. Querem colocar meu nome também nisso, mas eu não quero, e nem a minha esposa, dona Teresa, que está aqui me ouvindo. Mas estou estudando. Também tem um companheiro nosso de partido, o empresário Mauro Cardin, que também quer. Então, seguimos discutindo isso e espero que em breve a gente possa definir e caminhar juntos.
Vamos falar do seu futuro político. Em 2026, o senhor vai disputar a reeleição ou o candidato a deputado federal da família será Cacá Leão?
Quem sabe? Cacá poderá ser candidato a senador ou a deputado federal. Ele é quem vai escolher, pois é de maior, vacinado. Mas acho que a preferência dele é senador.
Numa chapa encabeçada novamente por ACM Neto ou o nome de Bruno Reis pode surgir aí para 2026?
Quem sabe? Rapaz, eu acho que ACM Neto… olha, queira ou não queira, goste ou não goste, um dia ACM Neto vai ser governador da Bahia. Nem que eu vá ser antes dele. Porque se eu for candidato, vou transformar ele no meu Otávio Pimentel (ex-prefeito de Lauro de Freitas), no meu Roberto Muniz (ex-prefeito de Lauro de Freitas e ex-deputado estadual) ou no meu Marcelo Abreu (ex-prefeito de Lauro de Freitas).
Política Livre