Foto: Neuza Menezes/Agência AL-BA/Arquivo
O deputado estadual Zó fala sobre o processo de disputa entre os aliados em Juazeiro 24 de junho de 2024 | 10:30

Entrevista – Zó do Sertão: “Wagner também tem uma responsabilidade com a unidade de nosso grupo político”

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Juazeiro, quinto maior município da Bahia, é hoje também o maior problema quando o assunto é a união da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Somente na federação Brasil da Esperança, formada por PT, PCdoB e PV, existem três pré-candidatos. O deputado estadual comunista Crisóstomo Antônio Lima, mais conhecido como Zó do Sertão, é um deles.

Nesta entrevista Política Livre, Zó fala sobre o processo de disputa entre os aliados na cidade do norte do Estado. Indiretamente, ele cutuca o pré-candidato do PT, o ex-prefeito Isaac Carvalho, que, segundo a Justiça, segue inelegível, embora se mantenha no páreo com o apoio do senador petista Jaques Wagner.

Zó também comenta sobre a relação do PCdoB com o PT, a criação da federação e o tratamento dispensado pelo governo aos comunistas. Confira abaixo a íntegra da entrevista:

A situação na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em Juazeiro, quinto maior município do Estado, parece que, ao invés de avançar para uma unidade, fica mais complicada a cada dia. Somente na federação PT, PCdoB e PV, que só pode ter um postulante por força da legislação eleitoral, há três nomes, incluindo o do senhor. Quando isso vai se resolver?

Olhe, o prazo das convenções começa em meados de julho e termina em agosto. Então, temos esse prazo limite estabelecido pela própria Justiça Eleitoral. Como você bem disse aí, a federação Brasil da Esperança só pode ter um candidato e hoje há três nomes colocados. E já houve mais, viu? Eu sempre trabalhei, desde o início, pelo consenso, pela definição de critérios objetivos para a escolha. Um desses critérios, acredito eu, precisa ser o da segurança jurídica. Sem querer falar mal de ninguém, mas sim da realidade objetiva, podemos estabelecer a unidade em torno de um nome cuja candidatura pode ser questionada pela Justiça Eleitoral, como já vimos acontecer no passado recente em Juazeiro em eleições proporcionais? Eu respeito todos os nomes colocados, mas o escolhido precisa ter viabilidade jurídica e política. Até em respeito e para preservar a nossa base.

“Do jeito que a situação na base de Jerônimo caminha, com essas dúvidas e indefinições, quem se fortalece é a atual prefeita, que é nossa adversária”

O senhor está se referindo ao pré-candidato do PT, Isaac Carvalho, ex-prefeito e que a Justiça diz que está inelegível, embora ele tenha dito que pode concorrer?

Eu acho que quem tem de falar da situação jurídica do ex-prefeito é o próprio ex-prefeito. Até porque estamos no mesmo campo. Mas é isso que tem sido colocado na política em Juazeiro e na Bahia inteira. Veja, do jeito que a situação na base de Jerônimo caminha, com essas dúvidas e indefinições, quem se fortalece é a atual prefeita (Suzana Ramos, do PSDB), que é nossa adversária. Ela é adversária de Jerônimo, do presidente Lula (PT), do nosso grupo. Temos que pensar na unidade e no futuro do nosso grupo político e construir um projeto que tire Juazeiro da situação calamitosa em que se encontra hoje. Eu já estou discutindo a elaboração de um programa de governo participativo, ouvindo as comunidades. Aliás, falando igual a jogador de futebol, na terceira pessoa, Zó do Sertão nunca saiu das comunidades, nunca deixou de conversar com o povo e sempre esteve presente. Pode até existir alguém que conheça tão bem a realidade de Juazeiro quanto eu, mas ninguém conhece mais. Estou preparado para ser prefeito da cidade que amo.

O senador Jaques Wagner (PT) esteve recentemente em Juazeiro para participar do lançamento da pré-candidatura de Isaac Carvalho, mesmo diante da inelegibilidade do petista. Isso incomodou o senhor e o PCdoB?

Observe: Wagner, que é um cabra que eu respeito muito, é do PT, e é claro que ele vai sempre puxar um pouco mais a brasa para o lado do partido dele. Mas, acredito, Wagner também tem uma responsabilidade com a unidade do grupo político liderado hoje pelo governador Jerônimo. O PT não é o único partido da base. E o PCdoB está nessa aliança desde o primeiro governo de Wagner. Somos aliados fiéis de primeira hora. Nunca mudamos. Tenho certeza de que o senador compreende isso e tem o compromisso para com todos os partidos aliados, até porque as eleições acontecem de dois em dois anos, e todos têm seu peso. Em Juazeiro, não é só o PCdoB e o PT que têm pré-candidato. O PV também tem, com o deputado estadual Roberto Carlos. O MDB também tem, com o amigo Andrei Gonçalves. O PSB tem o ex-prefeito Joseph (Bandeira). E agora surge a pré-candidata do PP também. Então, acredito que os principais líderes do nosso grupo político no âmbito estadual precisam ter esse cuidado, como o próprio governador tem tido.

O senhor, inclusive, não foi ao ato de lançamento de Isaac, ao contrário de Roberto Carlos, que esteve presente. Por que?

Tinha outros compromissos. No lançamento da minha pré-candidatura, que foi uma festa bonita e repleta de amigos, incluindo Roberto Carlos, o ex-prefeito também não compareceu, embora tenha sido convidado. Acredito que ele também teve outros compromissos mais importantes. Minha agenda está cheia porque estou dedicado, sem restrições, a percorrer toda Juazeiro, a sede e a zona rural, ouvindo as pessoas e construindo meu plano de governo. Temos ideias novas para o trabalhador da cidade e do campo, para fortalecer a nossa agricultura e o escoamento da produção, para fazer de Juazeiro a potência econômica que o município merece, sempre com justiça social. O município retrocedeu muito na atual gestão e não podemos arriscar perder a oportunidade de mudar isso por vaidade política.

Além da federação, outros partidos que dão sustentação ao governo Jerônimo, a exemplo do PSB e do MDB, também possuem pré-candidatos em Juazeiro. Tirando o PT, o PCdoB e o PV, que obrigatoriamente devem ter um único postulante, o cenário hoje entre os aliados no município é de mais de uma candidatura?

Temos tido boas conversas com Roberto Carlos, com o pré-candidato do MDB, que é o empresário Andrei Gonçalves, com o ex-prefeito Joseph Bandeira, nome do PSB. A unidade é o melhor caminho, em torno de uma candidatura viável e competitiva. Há alguns dias, inclusive, participei do lançamento da pré-candidatura de Andrei. Se ele for o candidato escolhido, estarei com ele. O mesmo digo a Joseph, a Roberto Carlos e aos demais. Assim como espero que, se eu for o escolhido, eles estejam ao meu lado. Nós do PCdoB vamos esgotar todas as possibilidades de diálogo político. Acredito que a melhor solução deve ser encontrada assim, pelo diálogo, sem imposições. Se por acaso não for possível a unidade pelas bandas aqui do São Francisco, vamos para uma campanha em que possamos nos respeitar, entendendo que o adversário em comum é a atual prefeita e o seu governo desastroso.

O PP, por sinal, rompeu com a prefeita e lançou como pré-candidato Márcio Jandir. Ele é visto como um outro nome da base de Jerônimo?

Márcio sempre esteve no nosso campo político. Ele pode ser considerado da base, sim. Até pouco tempo atrás, ele estava no PT. Eu fui no lançamento da pré-candidatura dele e temos mantido conversas. Se temos um projeto eleitoral e de gestão para Juazeiro, precisamos construir uma aliança ampla, ouvindo todo mundo.

“Temos um compromisso na aliança com o PT e vamos seguir cumprindo. Mas temos o direito de debater e de nos posicionar”

Este ano, o seu partido foi, mais uma vez, alijado da disputa pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Mesmo sendo aliado fiel do PT, nunca indicou um conselheiro. Em Salvador, perdeu a condição de indicar a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), a mais votada na capital em 2022, como candidata. Em Jacobina, o PT se dividiu no apoio à reeleição do prefeito Tiago Dias (PCdoB). O PCdoB tem sido bem tratado pelos petistas?

O PCdoB não é só um partido de eleição. É um partido ideológico, com mais de 100 anos. Passa a eleição e o partido continua funcionando organicamente. Claro que entendo que na hora de a gente fechar qualquer relação política, tem que ficar bem claro qual o nosso espaço, a nossa dimensão e as nossas perspectivas. Temos um compromisso na aliança com o PT e vamos seguir cumprindo. Mas temos o direito de debater e de nos posicionar. Essa questão em Juazeiro e em algumas cidades, inclusive, demonstra isso, e temos dificuldades, em alguns casos, de ter o apoio integral do PT. Esperamos que o PCdoB seja, sim, lembrado nessas disputas por espaços de poder, seja no tribunal de contas, na Assembleia ou dentro do próprio governo. Cumprimos bem o nosso papel em todos os espaços que ocupamos no governo estadual, contribuindo com o grupo nas conquistas e avanços obtidos até aqui. Enfim, esperamos receber esse tratamento. Estamos trabalhando por isso, por nossos espaços, porque temos o direito de opinar e nos posicionar.

A criação da federação, em sua opinião, foi um bom negócio para o PCdoB ou acabou por subordinar o seu partido e o PV ainda mais ao PT?

A federação foi um passo importante. Tivemos conversas para federar com outros partidos, mas esse processo avançou com o PT justamente por nossa aliança histórica. É uma aliança que remonta a 1989, quando tivemos a opção de lançar candidato à Presidência, como outros partidos da esquerda fizeram, e não fizemos. Apoiamos, desde aquela época, a candidatura de Lula e ficamos, inclusive, de fora da chapa. Mas isso não nos tirou da campanha. Além disso, temos tido votações expressivas nas eleições de deputado na Bahia e no Brasil inteiro, e isso também ajuda o PT. Fomos firmes na defesa da ex-presidente Dilma Rousseff quando alguns aliados do PT se colocaram a favor do ‘golpe’. Sempre mostramos firmeza nessa aliança. A federação foi importante para a terceira vitória do presidente Lula, em 2022. Não nos arrependemos disso. Mas o diálogo segue dentro da federação para que haja o fortalecimento de todos os aliados com o objetivo comum de fortalecer os projetos da esquerda.

Na Assembleia, um grupo de deputados de partidos como o PSD, PP, PL, Podemos e Solidariedade tem dado sinais frequentes de insatisfação com o governo. O PCdoB tem sido atendido?

Uma coisa é eleição e outra é governo. Nós temos um projeto de governo que nós escolhemos. Nós estamos com o governador Jerônimo da mesma forma em que estamos com o presidente Lula. Claro que muitas vezes a gente discorda, briga pelos pleitos, adotamos outro caminho, achamos que a Bahia precisa melhorar em alguns pontos e tratamos disso com o governador sem necessidade de estampar na imprensa ou fabricar crises de pressão. Converso com Jerônimo e ele me escuta. Tenho uma relação pessoal desde quando ele era secretário de Desenvolvimento Rural. Defendemos junto a agricultura familiar, inclusive na região de Juazeiro e em outros municípios que tenho a honra de representar. Quando ele foi secretário de Educação, fizemos ações no norte do Estado quando ninguém nem imaginava que o homem seria governador. O governador também escuta o PCdoB. A gente está colado com o governo. Vamos seguir juntos fazendo as transformações que a Bahia merece, só que agora eu como prefeito de Juazeiro, mudando a cara do município ao lado de Jerônimo e de Lula.

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