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'Quero ser lembrado como um homem de coragem', afirma dono de 12,5% da Americanas
'Quero ser lembrado como um homem de coragem', afirma dono de 12,5% da Americanas
Por Danielle Brant/Folhapress
15/07/2024 às 16:35
Foto: Divulgação

Inácio de Barros Melo Neto, 44 anos, é o novo acionista relevante da Americanas, dono de 12,5% das ações da varejista. A empresa está em recuperação judicial desde janeiro de 2023, após vir à tona uma fraude contábil de R$ 25,3 bilhões.
Um acionista relevante é aquele que supera os 5% de participação no capital social de uma companhia e, portanto, deixa de ser minoritário. Sempre que isso acontece, a empresa precisa vir ao mercado anunciar o aumento de participação.
Foi o que aconteceu na noite da última sexta-feira (12), quando a Americanas emitiu um comunicado informando que Melo Neto havia atingido o montante de 113 milhões de ações ordinárias, o equivalente a 12,52% do total da companhia.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Melo Neto afirmou que começou a comprar ações da empresa no ano passado, inspirado por uma entrevista de 2020 com o próprio acionista de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, em que ele dizia que era um bom negócio adquirir ações de empresas que estavam em crise.
"Quando eu vi o que aconteceu com o valor das ações, pensei: 'tem alguma coisa errada aí'. Os homens mais ricos do Brasil não vão deixar uma empresa desse tamanho quebrar", afirmou o advogado, referindo-se ao trio de bilionários que são os principais acionistas da empresa, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Membro de uma família tradicional de Olinda, Melo Neto comanda instituições de ensino –é diretor da Faculdade de Medicina de Olinda e do Colégio Ecolar. Foi candidato a vereador em Recife em 2012 pelo PSB, e também comanda o Instituto Maria Alcoforado de Barros Melo, voltado ao tratamento de crianças portadoras da Síndrome de Down.
Depois que a AGE (Assembleia Geral Extraordinária) da Americanas, no final de maio, confirmou o aporte de capital mínimo de R$ 12,6 bilhões, previsto no plano de recuperação judicial da companhia, Melo Neto se sentiu confiante para aumentar em 50% sua posição na varejista, com o investimento de R$ 10 milhões para atingir este mês os 12,5% de participação.
O empresário afirma que vem acompanhando o processo de reestruturação da Americanas e acredita que a empresa vai se reerguer. Com isso, pretende vender suas ações no futuro. Ele está ciente, porém, de que a sua participação vai ser muito diluída em breve.
A AGE de maio também confirmou o grupamento de ações ordinárias e bônus de subscrição da Americanas, na proporção de 100 ações ordinárias ou bônus de subscrição para 1 ação ou bônus de subscrição da mesma espécie, sem alteração do valor do capital social da empresa.
Com isso, a fatia de Melo Neto vai ser reduzida a menos de 1%. O trio de bilionários deve ficar com cerca de 49% do capital (contra 30% que detinham em fevereiro de 2023) e, os bancos, principais credores da Americanas, com aproximadamente 48%.
Questionado se não teme investir em uma companhia que está sendo investigada pelas fraudes contábeis que cometeu por diversos anos, o advogado diz que "problema existe em toda empresa." "Quero ser lembrado como um homem de coragem", diz ele, que tem a Americanas como o único ativo da sua carteira.
"Eu me apego a alguns fundamentos, como o aporte desses três empresários. Foi muito dinheiro [na fraude], mas eles localizaram o problema e estão reagindo, fizeram um aporte. O patrimônio deles é muito maior do que isso [valor fraudado no balanço]", afirmou.
"Se Lemann, Telles e Sicupira quebrarem, o Brasil vai junto, né? Seria uma agressão à economia nacional", afirma. "Por isso, se eu puder dar uma dica, eu digo: compre Americanas. Está muito barato o papel e ele deve sair desse patamar".
Na opinião do consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners, a ação deve apresentar alta volatilidade daqui para frente. "Mas cada um arrisca conforme o seu apetite", diz ele, que já participou da primeira reestruturação da companhia, no final dos anos 1990, quando estava na Galeazzi Associados.
A ação da Americanas encerrou a sexta-feira cotada a R$ 0,69. O ex-CEO da empresa Miguel Gutierrez, que comandou a varejista por 30 anos e é o pivô da fraude bilionária, chegou a ser preso no final de junho na Espanha. Ele foi solto um dia depois e segue em liberdade na Europa.
Na última quarta-feira (12), o MPF (Ministério Público Federal) solicitou à 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro a extradição de Gutierrez.
