23 dezembro 2024
Novo líder da bancada de oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) a partir de 2025, o deputado estadual Tiago Correia (PSDB) sabe que chega ao posto no momento em que “o clima político deve estar mais quente” em razão da prévia eleitoral de 2026, mas prega equilíbrio e contraponto responsável, sem fazer “oposição por oposição”.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre ele diz que não ficaram arestas com Samuel Júnior, colega que também havia colocado o nome para suceder o atual líder Alan Sanches (União Brasil), assim como abre o jogo sobre o descumprimento do governador Jerônimo Rodrigues (PT) na execução das emendas impositivas e o volume de “pedidos desenfreados de empréstimos”, que já somam R$ 13 bilhões na metade do mandato.
Presidente do PSDB no Estado, Tiago Correia faz duras críticas ao governo Lula 3 e é categórico ao dizer que a parceria do presidente com Jerônimo “fica só no discurso”, vide a concessão da Via Bahia, que cobra pedágio dos baianos, mas não cumpre os termos contratuais de manutenção das rodovias que administra.
Leia a entrevista:
O que se pode esperar da liderança de Tiago Correia a partir de 2025. As principais pautas, os principais problemas da Bahia, o que está no seu radar?
Primeiro a gente tem que falar que vão ser dois anos que antecedem as eleições e que o clima político deve estar mais quente nesses dois anos. Então, a nossa ideia é manter o equilíbrio, manter a oposição cumprindo o seu papel propositivo de fazer o contraponto sobre o que a gente não concorda das ações do Governo do Estado, mas sempre propondo alternativas ao que a gente tem visto. Acredito que a Bahia ainda sofre muito com os principais índices e indicadores nas piores colocações do país, quando não a última entre os últimos, então tem muita coisa para mudar, mas de maneira alguma fazer uma oposição por oposição. As matérias forem boas para a Bahia, para os baianos nós vamos votar a favor, e o que nós entendermos que não é bom, vamos fazer o contraponto.
Samuel Júnior também havia colocado o nome para ser líder, mas você acabou reunindo as condições. Embora vocês tenham dito que não haveria bate-chapa, ficou alguma aresta ao longo desse processo?
Não, de maneira alguma. A gente conversou bastante. Houve na escolha da liderança de Alan [Sanches] dois atrás também a manifestação de outras pessoas que tinham interesse, a exemplo de mim mesmo, a exemplo do próprio Samuel, acho que Robinho na época também colocou o nome e naquele momento caminhou para o consenso, abrimos mão para Alan. Depois houve também o desejo de compor a Mesa Diretora como segundo secretário, que cabia à nossa bancada, era tanto o desejo de Samuel como o meu, naquele momento também eu abri mão para Samuel e o que a gente fez foi sentar, conversar, chegar ao entendimento que agora eu deveria ter essa oportunidade, entendendo que é uma casa plural e que todos devem ter condições de participar dos cargos que cabem à nossa bancada.
2025 será um ano preparatório para a disputa pelo Governo do Estado, quando a gente deve ter um novo embate entre ACM Neto e Jerônimo. Como essa expectativa mexe na dinâmica da oposição?
Na verdade, eu acho o governo vai tentar ainda mostrar pra que veio, o governador ainda não conseguiu imprimir a marca da sua gestão, não tem nenhum grande programa que foi elaborado por ele, talvez o maior programa que foi mais anunciado foi o Bahia Sem Fome, que não mostrou pra que veio, nós não temos dados, não sabemos onde estão essas pessoas com fome, não sabemos de que maneira esses recursos estão sendo distribuídos, mas fora isso a gente não viu nenhum grande anúncio, nenhum grande programa. Na verdade, ele vem seguindo inaugurando as obras iniciadas pelo ex-governador Rui Costa, mas a gente aguarda que ele deva tentar aí nesse período lançar novas obras, tentar de alguma forma imprimir a sua marca, coisa que ele não conseguiu ainda.
Falando em Jerônimo, a aprovação dele despencou segundo a última pesquisa Quaest divulgada semanas atrás. Qual avaliação você faz disso, o que, na sua visão, explica essa queda, inclusive de um governador que tem o apoio do governo federal?
Retrata um pouco o que eu acabei de falar, ele ainda não conseguiu imprimir a sua marca, não conseguir mostrar para que veio. Ele requenta projetos que foram lançados pelo ex-governador, inaugurando essas obras que estão sendo concluídas, mas que iniciaram no governo anterior. E em relação à parceria com o governo federal, retrata também a queda de aprovação do presidente Lula, que desde o início do governo vem caindo, cada dia que passa cai mais. É um governo que ainda não mostrou para que veio, não conseguiu propor as medidas econômicas que o país precisa. A gente passa por um momento na economia muito ruim, o governo não consegue cortar gastos, então é uma soma de duas avaliações ao meu ver e de governos que ainda não mostraram para que vieram.
Então a promessa de que se a Bahia estivesse aliada com o governo federal a gente colheria frutos aqui, isso se configurou como um estelionato eleitoral?
Eu acho que a maior prova disso é a própria concessão da Via Bahia, que foi gestada no final do governo Lula, foi assinada a concessão no início do governo Dilma, governos petistas, e retoma aí o governo Lula, o governo Jerônimo, dois governos do PT, e não conseguem resolver o problema. A Bahia sofrendo, mostrando que esse alinhamento de fato não trouxe nada de bom, de concreto para Bahia, ao contrário, nós vimos a BR-116 sendo duplicada nos estados vizinhos pelo governo federal e a Bahia desde 2013, todos esses anos ficou de fora dessa duplicação, justamente na expectativa que esse contrato faria a duplicação, contrato que foi gestado no governo Lula, assinado no governo Dilma, passou por esse governo todo do PT, nós não vemos nenhuma manifestação do governador do Estado, nem dos governos anteriores, nem do próprio governo federal, mostrando que esse alinhamento, de fato, fica só no discurso.
Já que a gente está falando de obras, o TCE anunciou que enviará para a Assembleia Legislativa o relatório de uma auditoria sobre obras inacabadas na Bahia. O documento chegará às comissões de Orçamento e Infraestrutura, da qual você faz parte. Qual encaminhamento que a gente pode esperar?
Nós ainda não tivemos acesso ao material, já sabemos desse apontamento do TCE, aguardamos ansiosamente receber esse material, sabendo que inclusive algumas obras não podem ser iniciadas antes obras em andamento serem concluídas. Que seria improbidade administrativa e parece, inclusive, que o TCE já aponta isso. Então a gente espera ver esse relatório para ver quais são as medidas inclusive legais que nós devemos tomar em relação a essa notícia que não é nada boa para a Bahia.
Falando ainda em falta de compromisso, o governador Jerônimo iniciou o mandato prometendo cumprir integralmente o pagamento das emendas impositivas, o que não se confirmou ao longo desses dois anos iniciais. Existe alguma sinalização diferente para 2025? A oposição pode dar um tratamento mais rigoroso no sentido de judicializar essa questão?
Na última sessão do ano, inclusive, eu falei em plenário que a nossa meta seria cobrar do governo que executasse as emendas impositivas, não só do bloco da minoria, mas também do bloco da maioria, quando vemos alguns deputados reclamando que não tiveram as suas emendas executadas. Lembrando que as emendas fazem parte do orçamento aprovado anualmente pela Assembleia, orçamento do governo, e na medida que o governador não cumpre a execução dessas emendas ele está descumprindo a lei orçamentária. Inclusive é reincidente a manifestação do Tribunal de Contas acerca do não cumprimento dessas emendas, apontando inclusive uma falha grave do governo, recomendando que fosse executado. Então nós vamos procurar pelo menos que o governo da Bahia trabalhe dentro da lei, fazendo o que a lei determina, assim como acontece no governo federal que o governo executa as emendas independente de lado partidário de deputado, entendendo que aquilo ali está dentro da peça orçamentária que foi votada e é uma lei orçamentária e que o governador ele tem que cumprir essa lei.
Com relação aos empréstimos, já foram quinze pedidos nesses dois primeiros anos, que já somam R$ 13 bilhões. A gente ouve dos deputados de governo que há uma expectativa de que outros continuem a chegar. Qual é o tratamento que a oposição pretende dar a isso?
É importante lembrar que o governo Rui nos seus oito anos de mandato, salvo engano, contraiu de empréstimos algo em torno entre oito e nove bilhões de reais e o governo Jerônimo apenas em dois anos já alcança a marca de treze bilhões de reais, mostrando realmente, eu diria, uma falta de entendimento orçamentário, entendendo que esses empréstimos comprometem o futuro da Bahia e dos baianos, quando eles iniciarão os seus pagamentos no futuro. Não somos contra os empréstimos, entendemos que essa antecipação de créditos antecipa investimentos importantes, por exemplo um hospital que precisa ser construído e o governo ainda não tem esse dinheiro, uma grande estrada que precisa ser construída e o governo ainda não tem esse dinheiro, então ele toma esse crédito, antecipa esse investimento e dilui o pagamento, mas o que nós estamos vendo são pedidos desenfreados de empréstimos sem indicativos de que forma serão aplicados. Então nós estamos atentos para ver de que maneira esses recursos serão executados no estado, inclusive se não vão fugir inicialmente ao que propõe os projetos que são encaminhados quando do pedido da contração do crédito, mas realmente nos deixa muito preocupados não só com o comprometimento do futuro econômico do nosso estado, mas de que maneira esses recursos serão aplicados.
Recentemente o Política Livre noticiou um movimento do PSDB apontando Susana Ramos, prefeita de Juazeiro, como um possível nome para ser vice de ACM Neto em 26. Esse movimento é pra valer?
Eu acho que ainda é muito cedo para tratar de nome de vice da chapa do então futuro candidato a governador ACM Neto. Claro que em Suzana Ramos é um nome que tem um destaque muito grande no norte do nosso estado, foi prefeita da maior cidade do norte, de Juazeiro, que termina agregando toda uma região onde inclusive os governos do PT são muito fortes, as prefeituras ligadas ao governo do PT, então realmente eu acho que Suzano agregaria muito trazendo essa força regional. Mas como falei ainda é muito cedo para tratar. O nome dela está, claro, à disposição, mas acho que essas conversas vão ser iniciadas mais à frente.
Política Livre