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22 de janeiro de 2025 | 14:18

Radar do Poder: O senso de oportunidade de Jerônimo, Wagner “emparedado” por Coronel, o “contragolpe” de Rosemberg e a trapalhada francesa

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Tempo de recomeçar

Ao contrário dos dois primeiros anos de mandato, quando costumava ser criticado reservadamente por relutar em fazer atendimentos políticos no gabinete e preferir bater recordes de viagens ao interior, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) iniciou 2025 a todo vapor nas agendas em Salvador com prefeitos acompanhados de deputados. O que explica a mudança de postura do petista é que a próxima eleição é a dele. Para tentar compensar o tempo em que ignorou aliados, Jerônimo acelera para correr atrás do prejuízo.

Vosso reino

Segundo divulgou a própria comunicação do governo, Jerônimo recebeu 31 prefeitos em Salvador apenas nos primeiros 18 dias de janeiro. Alguns foram tratados como adversários no pleito de 2024 pelo governador, mesmo estando em partidos da base, a exemplo dos de Coaraci, Brumado e Guanambi. Como justificativa, o petista alegou que os três apoiaram ACM Neto (União) em 2022. Não os viu como aliados na hora de apoiar, mas deles quer – e já recebeu como promessa – o apoio para 2026.

Jogo de sedução

Os prefeitos de Brumado, Fabrício Abrantes (Avante), e de Guanambi, Nal Azevedo (Avante), tiveram as campanhas do ano passado financiadas pelo partido de ACM Neto, mas como gratidão e política nem sempre caminham lado a lado, pularam de galho rapidinho. O jogo de sedução tem sido o mesmo: Jerônimo recebe os gestores e os respectivos deputados com secretários e promete atender pedidos para obras e entregas nos municípios, ou seja, tudo que foi acusado de não fazer antes da eleição de 2024.

Dedo de Adolpho

A mudança de postura de Jerônimo também é atribuída ao novo secretário de Relações Institucionais, Adolpho Loyola (PT), que tem se empenhado nas articulações no interior para reeleger o chefe. Além de abrir a agenda do governador, ele tem orientado a comunicação a divulgar principalmente os encontros com prefeitos que são ou foram da oposição, num tom mais político – de apoio ou aproximação. Fez isso, inclusive, após a audiência de Jerônimo com o prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), nesta terça (21), apesar de o encontro ter sido ‘técnico’.

Portas escancaradas

Tratado como adversário pelo PT após romper com o partido em 2022, Zé Cocá aguardava há mais de dois anos uma audiência com o governador. Os dois alinharam que tratariam de política num segundo momento, mas Jerônimo deixou as “portas” abertas para o pepista ingressar na base. Nem o apoio integral do PP foi assunto, mesmo o prefeito sendo da Executiva estadual da sigla. Cocá deve aderir se o governo atender aos pleitos do município e da região, embora saiba que, nesse caso, reduzirá as chances de compor uma chapa majoritária em 2026. Ele tem dito que ACM Neto o abandonou.

Quem administra?

A ideia de Jerônimo de determinar aos secretários que atendam, com ele, os prefeitos precisa ser melhor administrada pelo governo. Os auxiliares passaram a ficar o dia inteiro fora das secretarias, incluindo os finais de semana, o que transforma a vida deles num verdadeiro inferno, já que precisam cuidar dos demais afazeres cotidianos. Aliás, existem queixas de gestores municipais e de deputados que alegam dificuldades em encontrar as secretárias de Saúde, Roberta Santana, e da Educação, Rowenna Brito, que estão sempre com Jerônimo.

Wagner emparedado

Ninguém ficou mais fortalecido com a crise instalada na base do governo do Estado com a possibilidade de um bate-chapa pela 1ª vice-presidência da Assembleia do que o senador Angelo Coronel (PSD). Ao colocar agressivamente a candidatura do filho homônimo para o posto, ensaiando um bate-chapa com o deputado Rosemberg Pinto (PT), líder de Jerônimo, o pessedista impôs uma derrota ao senador Jaques Wagner (PT), que, nos bastidores, trabalhava para alçar o aliado petista à presidência pensando numa eventual derrubada do novo mandato do presidente Adolfo Menezes (PSD) pelo Supremo.

Alerta de risco

O próprio Adolfo Menezes alertou Adolpho Loyola sobre o risco de Angelo Coronel Filho (PSD) derrotar Rosemberg em um bate-chapa, com o apoio da oposição, e virar o chefe do Legislativo – se o Supremo for provocado a se intrometer -, liderando um orçamento anual de R$ 1 bilhão e com poder para frear as pautas do Executivo. Para o governo e para o PT, seria o pior cenário, num momento em que Wagner defende a chapa dos “governadores” em 2026. Por isso, os petistas se apressaram em aceitar o acordo idealizado por Coronel, o pai, para a mudança no regimento da Assembleia visando assegurar a convocação imediata de uma nova eleição, se o presidente cair.

Relações pessoais

A avaliação na base governista é que, em caso de disputa pela 1ª vice, mesmo que o governo faça uma articulação pesada a favor do petista, Coronel ainda pode levar a melhor porque já foi presidente e conhece em detalhes o funcionamento da Casa. “Ele sabe onde está cada cargo, os terceirizados e até os carros. Tem a própria bancada. E não é como a eleição para o TCM, onde o governo resolve oferecendo cargos e emendas, como no caso de Aline Peixoto. Na eleição da Mesa, pesa muito também os espaços internos e o relacionamento pessoal”, diz um deputado governista.

Tentativa de contragolpe

Rosemberg Pinto quer convencer os colegas a aceitarem que a mudança no regimento acordada entre a família Coronel, Adolfo Menezes, Wagner e o governo estabeleça um prazo não de 24 ou 48 horas, mas de até 60 dias para que o 1º vice convoque uma nova eleição caso a presidência fique vaga. Com isso, o petista quer ganhar tempo para concorrer, no cargo, como sucessor do próprio Adolfo. Para que haja a convocação extraordinária, que deve ocorrer antes da eleição da Mesa Diretora, em 3 de fevereiro, o petista precisa concordar oficialmente, por ser líder do governo.

Caneta na mão

Rosemberg, que antes da articulação de Coronel tinha o apoio de Adolfo Menezes para não mudar o regimento, defende o prazo de 60 dias, mas estaria disposto a aceitar até 30. Acredita que, com a caneta na mão e se tiver a sustentação do governo, pode se viabilizar nos acordos e quebrar as resistências da maioria dos deputados a uma presidência do PT, já que o partido comandaria o Executivo e o Legislativo. Ele desembarca em Salvador na noite desta quarta (22), ao retornar de uma viagem a Fernando de Noronha. Deve se encontrar com Adoloho Loyola amanhã (23).

Bate-chapa na Mesa

Se não tiver bate-chapa pelo posto de substituto imediato do presidente na eleição da nova Mesa Diretora da Assembleia, tudo indica que vai ocorrer disputa pela 2ª vice-presidência. O PV, que ocupa o posto hoje, pretende indicar o deputado Roberto Carlos. Já o atual titular da cadeira, Marquinho Viana, já avisou que vai para a reeleição, a exemplo de Adolfo Menezes. Além de um gabinete extra, membros do colegiado também têm direito a mais cargos e outras regalias, além de influência na Casa.

Diretor da Guarda

O deputado federal Capitão Alden (PL) fechou um acordo com o coronel Humberto Sturaro (PSDB) para indicá-lo ao comando da Diretoria de Prevenção à Violência da Prefeitura de Salvador. A estrutura lidera a Guarda Civil Municipal. Em troca da indicação, Sturaro assumiu o compromisso de não disputar as eleições de 2026, apoiando Alden e um candidato a deputado estadual indicado pelo parlamentar. O deputado preferia para o posto o ex-inspetor João Gomes de Souza Neto, mas o nome enfrenta resistências na Guarda.

Negociações duras

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), ainda não bateu o martelo com o PSDB sobre o retorno do partido ao comando da Secretaria de Educação (Smed). Fontes tucanas informaram à coluna que as conversas chegaram a regredir nas últimas horas. A última oferta feita por emissários de Bruno ao partido foi a entrega da Secretaria de Saúde (SMS) junto com a Agência Reguladora e Fiscalizadora dos Serviços Públicos (Arsal), que foi recusada. Para não brigar pela Educação, o PSDB aceitaria duas pastas de peso, a exemplo da de Saúde e da do Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur)

Regresso ao tucanato?

A visita que o ex-deputado Marcelo Nilo (Republicanos) recebeu, em casa, no final de semana, do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, alimentou especulações sobre o retorno do baiano de Antas ao tucanato. Resta só combinar com o deputado federal Adolfo Viana, que dirige a sigla na Bahia de modo a garantir apenas a reeleição dele. Nilo será candidato à Câmara e goza da simpatia do dirigente nacional. Ao contrário de Viana, um dos articuladores da permanência do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na presidência do PSDB em 2023, movimento derrotado por Perillo.

Trapalhada francesa

Não é a primeira vez que se diz que a concessionária do aeroporto de Salvador, a francesa Vinci, visa mais os próprios interesses do que os da população da Bahia. Agora, em pleno Verão, promoveu, sem o menor planejamento, a substituição da operadora do estacionamento que sempre lhe prestou serviços sem registro de queixas por outra, de nome Índigo, que sequer instalou novos equipamentos de vigilância, segurança e cobrança, retomando um processo de controle manual que gera filas quilométricas aos usuários do estacionamento. Ótimo momento para a Infraero e o Ministério Público darem uma blitz na área.

Pitacos

* Deputados novatos na Assembleia ficaram tristes ao saber que não receberão nenhum centavo a mais no contracheque se houver de fato convocação extraordinária da Casa para a mudança do regimento.

* Desde o começo de 2022, a remuneração extra dos parlamentares caso sejam chamados a trabalhar no recesso acabou, graças a uma emenda constitucional do deputado Victor Bonfim (PV). Mais um motivo para não gostarem dele…

* Jusmari Oliveira (PSD) ainda não pediu oficialmente licença do mandato de deputada estadual para retornar ao comando da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado. Decidiu aguardar para fazer as nomeações a que tem direito na Assembleia.

* Ela poderia ter solicitado ao suplente, o ex-prefeito de Itajuípe Marcone Amaral (PSD), que fizesse as nomeações, já que os dois chegaram a um acordo sobre a divisão dos cargos no gabinete. Mas parece que não confiou!

* As negociações entre Jerônimo e o PP devem se intensificar na próxima semana, já que o presidente do partido na Bahia, deputado federal Mário Negromonte Júnior, retorna nesta sexta (24) de uma viagem ao exterior com a família iniciada em dezembro.

* Jerônimo vai aproveitar o encontro de prefeitos organizado pela UPB no próximo dia 29, no Centro de Convenções de Salvador, para entregar ambulâncias e ônibus escolares a diversos municípios. Alguns veículos são fruto de emendas dos deputados estaduais.

* De saída da Secretaria de Mobilidade de Salvador para atuar como consultor na iniciativa privada, Fabrizzio Muller recebeu até convite de empresa chinesa para deixar a pasta.

* Enquanto Bruno Reis já nomeou como assessores três ex-vereadores derrotados nas eleições passadas – Isnard Araújo (PL), Sandro Bahiense (PP) e Sabá (DC) –, o governador ainda não moveu uma palha para ajudar os petistas derrotados em outubro.

* Seguem a ver navios os ex-vereadores Arnando Lessa (PT), Tiago Ferreira (PT) e Luiz Carlos Suíca (PT), que não conseguiram renovar os mandatos por causa da malfadada candidatura de Geraldo Jr. (MDB) à Prefeitura de Salvador, imposta a eles pelo PT.

* O vereador de Salvador Téo Senna segue de birra com o próprio partido, o PSDB. Depois de tentar ser indicado para a Mesa Diretora da Câmara Municipal e, ao mesmo tempo, para a liderança do partido, tem reclamado de que é mal tratado, mas não sai.

Radar do Poder, a coluna de bastidores do Política Livre
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