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O presidente estadual do PT, Éden Valadares, com o seu "bruxo", o senador Jaques Wagner 09 de março de 2025 | 16:20

Inesperada, renúncia de Éden à reeleição mostra falência de plano de renovação no PT, abalando controle de Wagner sobre sigla

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Considerada uma surpresa de cabo a rabo no PT, a decisão de Eden Valadares de abrir mão de concorrer de novo à presidência estadual do partido, faltando quatro meses para as eleições, tem levado aos mais variados tipos de especulações menos à de que teria sido uma estratégia, apesar de a quase totalidade da legenda achar que foi uma decisão combinada com o senador Jaques Wagner, de quem ele tem sido o principal representante na agremiação desde que foi eleito ao cargo, em 2019.

Por este motivo, há rumores de que Wagner sai enfraquecido com a atitude de Éden.

Para a maioria, a renúncia do presidente ao direito de disputar a reeleição abre caminho para o retorno ao comando do partido de Everaldo Anunciação, ex-presidente com inserção nas várias correntes petistas que articula nos bastidores desde o ano passado sua campanha para a presidência do PT e tem recebido estímulos para o desafio, dentre outras figuras importantes da sigla, do ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, envolvido numa disputa renhida com Wagner por influência no governo Jerônimo Rodrigues.

Como justificativa para a decisão, Eden tem dito que defende a alternância e que deixa o cargo para se dedicar à campanha à reeleição do senador e do amigo Lucas Reis, chefe de Gabinete de Wagner em Brasília, a deputado federal, no ano que vem. A maneira repentina como anunciou a decisão, passando a impressão de que a tomou de afogadilho e com a participação de poucos, minou, no entanto, qualquer perspectiva de que a iniciativa tivesse um impacto positivo neste sentido.

Pelo contrário, acabou apenas reforçando a ideia de que não teve alternativa a não ser abrir mão da disputa no partido devido ao profundo nível de isolamento interno que amarga, considerado sem precedentes na história da legenda na Bahia. Então assessor direto do senador, Éden chegou à presidência do PT há seis anos na esteira de uma estratégia montada com Wagner para assumir o controle do PT e tomar as rédeas da definição da chapa governista em 2022 que foi muito bem sucedida.

Na época, já em litígio político com Rui, o senador não descartava se lançar à sucessão dele no governo da Bahia. Foi por ter assumido o controle da legenda que Wagner conseguiu impedir que o governador renunciasse ao cargo para disputar o Senado naquela eleição, criando as condições que terminaram desaguando no lançamento da terceira candidatura de um petista ao governo, representada pelo hoje governador Jerônimo Rodrigues.

Toda a operação ocorreu sob a presidência de Éden, que viu seu mandato ser prorrogado, como a dos demais dirigentes petistas no país, devido à pandemia. Neste período, entretanto, ao invés de se aproximar das bases, o presidente encastelou-se, construindo o perfil de um burocrata partidário distante e alheio que não atendia a ninguém: de deputados petistas a aliados, passando por prefeitos, vereadores, lideranças do partido no interior e até jornalistas.

Com o passar do tempo, a ideia de que era uma figura inacessível consolidou-se, provocando uma verdadeira rejeição a ele nas várias instâncias partidárias, mas principalmente entre os dirigentes do interior, críticos da aproximação de Jerônimo com lideranças ou prefeitos de oposição em detrimento dos representantes partidários ou de políticos que sempre estiveram com o governo.

Com a proximidade das eleições para a renovação do PT, marcadas para julho, Éden teria decidido entrar no modo campanha, mas percebeu rapidamente que já era tarde. Em algumas cidades onde o PT tem representação, teria sido praticamente enxotado de encontros, sob críticas duras e desabridas de correligionários, o que o levou a concluir que o projeto de reeleger-se tornara-se simplesmente impossível.

Além disso, o estabelecimento pela direção nacional de eleições diretas para o comando partidário, nas quais agora votam todos os filiados e não apenas cerca de 400 delegados, como no passado, teria também desencorajado Éden de buscar a reeleição. Com a ajuda do governo, ele poderia até tentar exercer alguma influência sobre os delegados para neutralizar sua rejeição, mas num universo de milhares de militantes a iniciativa seria dificílima.

Erros políticos e estratégicos cometidos pelo PT ao longo da gestão de Éden também são colocados pelos petistas na conta do presidente, dado o que chamam de sua submissão a Wagner. O mais recente deles foi a aposta, no ano passado, na candidatura à Prefeitura de Salvador do vice-governador Geraldo Jr. (MDB), cuja reputação era abertamente questionada na legenda, em detrimento de nomes do partido, o que acabou dizimando a bancada municipal petista nas eleições de 2024 – apenas uma vereadora, Marta Rodrigues, conseguiu se reeleger, feito que é atribuído ao fato de ser irmã do governador do Estado.

Ainda antes de pensar na reeleição, o presidente fez gestos no sentido de abrir mão do partido e montar sua sucessão, para tentar assumir uma posição no governo, mas a ideia não teve guarida da parte do governador. Moveria-se inspirado pelo prestígio e poder que tanto Lucas Reis quanto Adolfo Loyola, hoje secretário de Relações Instituições, cujos caminhos pavimentou no PT, teriam ganhado, assumindo mais importância do que ele próprio, com maior trajetória no partido do que ambos.

Seu erro teria sido, no entanto, mirar na posição errada. Desde o princípio, achava que poderia assumir a secretaria de Comunicação do governo, a qual acabou destinada, em combinação com seu próprio grupo, ao publicitário Cid Andrade. O que mais surpreendeu petistas na decisão de Éden de não concorrer à reeleição foi exatamente o fato de antes não ter pensando em preparar um sucessor.

A situação forçará ele próprio e o grupo de Wagner a buscarem em cima da hora um nome, se não quiserem perder o controle sobre a legenda, mais uma vez fundamental para o senador poder liderar as tratativas para a sucessão estadual no ano que vem, garantindo seu direito de concorrer à reeleição ao Senado na chapa governista. Para a maioria, no entanto, Wagner se defronta com um cenário mais frustrante: o de assistir à falência do seu plano de renovação da legenda.

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