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Pacote de crédito, aposta do governo Lula, pode reduzir juros em um terço, diz secretário
Pacote de crédito, aposta do governo Lula, pode reduzir juros em um terço, diz secretário
Por Alvaro Gribel, Mariana Carneiro e Anna Carolina Papp/Estadão Conteúdo
24/03/2025 às 08:16
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Arquivo

As medidas de crédito em preparação pelo governo Lula, somadas a propostas em tramitação no Congresso que o Executivo quer destravar, têm o potencial de reduzir em um terço a taxa média de juros cobrada das famílias do País, avalia o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Barbosa Pinto.
As propostas integram a agenda microeconômica da pasta e estão entre as principais apostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar reverter a queda de sua popularidade, que atingiu o nível mais baixo de seus três mandatos.
Hoje, a taxa média dos juros para pessoas físicas está em 33,8%, incluindo o crédito livre, definido pelos próprios bancos, e o direcionado, que tem subsídios do governo. Os dados, coletados pelo Banco Central, são referentes a janeiro, último dado disponível.
“Acho que dá para cortar o spread (custo do crédito) pela metade, levando a taxa média de juros para algo próximo de 20%”, afirmou Pinto em entrevista ao Estadão.
Apesar das frequentes falas de Lula sobre o tema, o secretário não enxerga pressão política do Palácio do Planalto sobre o trabalho técnico da pasta. Ele avalia que o apoio do presidente é um impulso para que propostas no Legislativo que integram essa agenda ganhem agilidade na tramitação.
“Muito pelo contrário: a gente já vem trabalhando nesta agenda, e há vários projetos já em tramitação no Congresso. O apoio do presidente vai ajudar a acelerar a aprovação dessas medidas”, pontua.
Ele avalia que o Brasil já conseguiu promover uma forte inclusão de brasileiros no sistema financeiro, com 190 milhões de contas bancárias, 200 milhões de cartões de crédito ativos e mais de R$ 4 trilhões em crédito concedido para as pessoas físicas. Por isso, diz que a palavra-chave neste momento não é mais inclusão, mas sim autonomia financeira.
“Nos últimos anos, houve um esforço grande e bem-sucedido de inclusão financeira dos brasileiros. Mas isso não é suficiente: é preciso agora dar autonomia financeira, ou seja, ferramentas para que as pessoas tenham acesso a produtos de qualidade e a juros mais baixos”, afirma.
Ele também entende que as medidas de crédito são estruturais e, por isso, refuta críticas de que essa agenda poderá atrapalhar o trabalho do Banco Central de controlar a inflação. Na semana passada, o BC subiu a taxa básica de juros pela quinta vez seguida, para 14,25% ao ano, e já sinalizou uma nova alta em maio.
“Tudo que aumenta a produtividade da economia vai no sentido de ajudar o Banco Central, porque significa aumento de crescimento econômico sem gerar inflação”, avalia. “Responsabilidade fiscal e inflação na meta são condições necessárias pra gente crescer de forma sustentável, mas não suficientes; precisa melhorar a produtividade. Para fazer isso, precisa mexer nesse encanamento da economia”, diz.
Além do novo consignado privado, programa lançado pelo Executivo que teve início na última sexta-feira, o governo prepara junto com o BC uma medida com foco em microempreendedores individuais (MEIs) e micro e pequenas empresas que consiste em permitir que elas usem como garantia o fluxo que têm a receber de Pix, com o objetivo de baixar os juros para esse público. A expectativa é de que o desenho da modalidade seja concluído até o final do ano.
O governo também pretende destravar a tramitação de cinco projetos que já estão no Congresso Nacional e que integram essa agenda: a lei da infraestrutura do sistema financeiro, a lei da proteção ao investidor, a lei da resolução bancária, a lei de falências e a lei da desjudicialização. Nem todas têm efeitos imediatos sobre a economia, mas o secretário avalia que elas promovem mudanças estruturais, com ganhos de produtividade.
Veja os projetos de crédito que estão no Congresso e que o governo quer destravar:
1. Lei de infraestrutura do sistema financeiro: Moderniza o sistema de liquidação, custódia e depósitos de ativos financeiros. Tem por objetivo dar mais segurança e estimular a competição e criação de novos produtos financeiros, reduzindo taxas e custos. Já foi aprovada na Câmara e está em análise no Senado.
2. Lei de proteção ao investidor: Quer facilitar o ressarcimento de investidores em caso de prejuízos por fraudes, informações falsas prestadas pelas empresas, dados contábeis incorretos ou abuso de poder de controle. Também quer estimular o uso de ações coletivas na Justiça, dar mais poder à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e punir com mais rigor administradores. Está em tramitação na Câmara.
3. Lei de resolução bancária: Trata da liquidação e intervenção em instituições financeiras. Prevê a criação de um fundo, com dinheiro dos próprios bancos, para socorrer as instituições financeiras. Hoje, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) protege o dinheiro dos contribuintes, apenas. Esse fundo garantiria os bancos. Por um lado, pode aumentar o spread, já que o risco e o custo do fundo seria compartilhado pelo próprio sistema financeiro. Mas, por outro, aumenta a concorrência e dá segurança ao sistema. Projeto em tramitação na Câmara.
4. Reforma da lei de falências: Pretende facilitar e acelerar o processo de falência de empresas no País. Há o entendimento de que a recuperação judicial é eficaz, mas a falência, não. Tem por objetivo reduzir de dez anos para cinco anos o prazo de falência das empresas e aumentar de 12% para 50% a recuperação de bens. Os credores, hoje, por receio de que a falência não funcione, aceitam condições piores na recuperação judicial. Projeto aprovado na Câmara e está no Senado.
5. Lei de desjudicialização. Muda o processo de cobrança de dívidas no País, diminuindo a execução na esfera judicial. Potencial para reduzir spread de crédito. Projeto prevê que cartórios façam a execução, sob a supervisão da Justiça, e sejam pagos por isso. Entendimento é de que cartórios têm capilaridade por todo o País e podem acelerar o processo. Projeto em tramitação no Senado.
