16 maio 2025
Mudança em bloco
Em lamúrias após o anúncio da federação com o União Brasil, os deputados estaduais do PP Niltinho, Hassan Iossef, Eduardo Sales e Antonio Henrique Júnior, que desejam se manter na base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), articulam uma mudança conjunta para um mesmo partido. As conversas acontecem com cinco legendas da base aliada: o PDT, mais novo integrante do grupo, o Podemos, o PSB, o Avante e o PSD. Os outros dois representantes do PP na Assembleia, Felipe Duarte e Nelson Leal, estão fora do movimento. O primeiro, todos sabem, já escolheu o Avante.
Cabo de guerra
O PDT e o PSB, no entanto, não demonstram disposição em abrigar um bloco tão “pesado” do ponto de vista eleitoral para não prejudicar a candidatura de filiados tidos como prioridade para 2026. Já o governo não quer ver o PSD e o Avante ainda mais fortalecidos e busca equilibrar o jogo partidário dentro da base. A alternativa mais viável hoje, então, seria o Podemos, que tem interesse em recebê-los. Entretanto, os pepistas aguardam o desdobramento das conversas sobre a fusão entre a sigla e o PSDB. Eles só vão se a nova legenda fizer parte do time de Jerônimo.
Força para negociar
Niltinho, Hassan Iossef, Eduardo Sales e Antonio Henrique Júnior sabem que, em um partido só, têm condições de formar uma bancada e um grupo para barganhar na Assembleia e também ampliar ou ao menos manter espaços conquistados no governo, sobretudo as diretorias no Detran. Embora já tenha sinalizado aos colegas e ao Executivo estadual a saída do ninho pepista, Hassan ainda aguarda um posicionamento oficial do prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), de quem é liderado e que mantém diálogo com Jerônimo, para definir o futuro.
Prantos progressistas
A fotografia do anúncio oficial da federação, anteontem (29), em Brasília, deixou evidente a insatisfação do PP baiano diante do “casamento” forçado com o União Brasil. Com exceção do deputado federal João Leão e do secretário de Governo da Prefeitura de Salvador, Cacá Leão, favoráveis ao movimento, as principais lideranças do primeiro partido no Estado não compareceram à festa, na qual o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) desfilou com sorriso largo após aplicar uma “rasteira” no deputado federal Mário Negromonte Júnior, que comanda a casa progressista na boa terra.
Vaga no TCM
Depois de sentir o golpe que fez naufragar a adesão oficial do PP à base de Jerônimo, o foco total do presidente do partido na Bahia agora é emplacar a esposa e procuradora Camila Vasquez como conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) no lugar do pai, o conselheiro Mário Negromonte, que se aposenta em junho. Enfraquecido politicamente com a criação da União Progressista, ele aposta na relação pessoal que vem construindo com o governador e no fato de a indicação ser, obrigatoriamente, de um quadro do Ministério Público de Contas, vaga cuja ocupação tem poucas opções e caráter mais técnico.
Rebeldia felina
Apesar das conversas iniciadas em fevereiro entre o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e o presidente do PDT da Bahia, deputado federal Félix Mendonça Júnior, no meio político ninguém acreditava no regresso da cúpula pedetista à base do governo petista na Bahia. A avaliação inicial era de que tudo não passava de um jogo de cena e que o parlamentar, no final das contas, não largaria a mão do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), por conta de desentendimentos antigos e novos com ACM Neto. Félix, mais uma vez, demonstrou toda sua rebeldia.
Botando ovo
Aliás, Jerônimo se sentiu em casa no encontro desta quarta (30), num hotel de Salvador, que oficializou o retorno do PDT ao bloco de sustentação do governo. Ele ficou cerca de três horas no local, posando para fotos com praticamente todos os chamados pedetistas puro-sangue – desse grupo, costuma ser excluído o deputado federal Leo Prates, que segue na oposição. O governador brincou com o ex-prefeito de Euclides da Cunha, Luciano Pinheiro, um dos articuladores da adesão. “Se esse evento não acontecesse aqui hoje, Luciano teria botado um ovo”.
Partido na mira
Embora negue a pretensão de deixar o PDT neste momento, Leo Prates abriu conversas com o Republicados, que se tornou uma alternativa para a reeleição em 2026, além do União Brasil. O parlamentar baiano dialogou sobre o assunto com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, representante da agremiação pela Paraíba. O deputado federal Márcio Marinho, que manda na sigla em solo baiano, não gostou nada da novidade. Muito menos a deputada federal Rogéria Santos, que não teria sido eleita pelo Republicanos se Leo fosse um dos filiados em 2022.
Caça às bruxas
Antes do pedido de exoneração da pedetista Andrea Mendonça da Secretaria do Mar, Bruno Reis já havia mandado fazer um levantamento de todos os cargos indicados na gestão municipal pelo irmão dela, Félix Mendonça. A ordem no Palácio Thomé de Souza é demitir todos após o deputado confirmar o apoio da sigla a Jerônimo. Além da influência direta de ACM Neto sobre essa decisão, Bruno também se sentiu traído, na medida em que articulou a montagem das chapas proporcionais do PDT para as disputas eleitorais de 2022 e 2024, a exemplo do que fez também com o PP.
Vereadores com Bruno
Em meio à oficialização do apoio do PDT ao governo do Estado, a vereadora Roberta Caires, que é filiada ao partido, utilizou a tribuna da Câmara Municipal, nesta terça (29), para fazer críticas duras a Jerônimo, citando dados oficiais sobre a violência na capital baiana. Ligada a ACM Neto, ela disse que a Bahia vive um “desgoverno” que encara vítimas da criminalidade como “dados e não pessoas”. Os outros três edis pedetistas – Anderson Ninho, Débora Santana e Omarzinho, este o mais próximo de Félix –, não acompanham o partido no apoio ao Palácio de Ondina.
Novo formato
Aconselhado por colaboradores, ACM Neto decidiu mudar o formato das viagens ao interior na pré-campanha ao governo da Bahia. A correria de 2021 e de 2022 deve dar lugar a agendas mais tranquilas, com tempo para a informalidade, número menor de seguranças e encontros mais demorados com lideranças. A ideia é não fazer nada engessado. Em maio de 2021, a primeira viagem da pré-campanha foi à região da Chapada Diamantina. Na ocasião, visitou duas cidades em dois dias. Na semana passada, dedicou o mesmo tempo em atividades políticas em Ilhéus, no sul do Estado.
Só no gogó?
Tem prefeito preocupado com a quantidade de compromissos e anúncios feitos pelo governador – visando, inclusive, atrair novos aliados para a base de sustentação política – que ainda não saíram do papel. “Jerônimo é leve, trata todo mundo bem, tem um enorme poder de sedução. Chama o prefeito, ouve as demandas, faz projeto, anúncio, mas as coisas precisam acontecer. Não pode ficar só na promessa. As obras precisam acontecer, principalmente em favor dos aliados que estão com ele desde o início”, disse à coluna um gestor do PSD.
Enquadrada civil
Com o espaço exíguo para caber tanta gente, não espanta que já esteja começando a haver choques entre civis e militares no gabinete do vice-governador Geraldo Júnior (MDB). O último deles foi protagonizado pela “toda poderosa” secretaria-executiva da Vice-Governadoria, que deu uma enquadrada federal num milico que queria ocupar sala próxima à sua, obtendo apoio dos colegas. Conforme disse ela alto e bom som depois, quem manda no gabinete são os civis. Saiu da refrega aplaudida.
Tesoura de Ivana
Presidente da Assembleia, Ivana Bastos (PSD) decidiu equilibrar o jogo na divisão dos cargos na Casa entre os parlamentares. Passou a tesoura na cota de colegas que tinham espaço demais entre nomeados e terceirizados e foi mais generosa com quem nada ou pouco possuía. O gesto, claro, desagradou alguns parlamentares figurões.
Largar o osso
Embora diga publicamente que queira passar o bastão adiante, na prática a deputada federal Lídice da Matta (PSB) vem adiando a escolha de um novo coordenador da bancada baiana no Congresso Nacional. A socialista até já conversou individualmente com alguns interessados em sucedê-la, a exemplo de Gabriel Nunes (PSB), Daniel Almeida (PCdoB), Cláudio Cajado (PP) e Valmir Assunção (PT), mas não marca a reunião para que a alternância seja sacramentada. “Ela não quer largar o osso. Nem tem aparecido nos encontros da bancada”, disse um deputado à coluna.
Abaixo da cintura
A disputa pela indicação ao cargo de desembargador eleitoral na Bahia tem ampliado o fosso entre a OAB, que apóia um candidato, e desembargadores estaduais interessados em promover outro postulante. Nos bastidores, o que um grupo fala do outro não se publica. Mas o time da Ordem alega que, com sua insistência, um magistrado vai acabar colocando, definitivamente, a ‘Operação Overclean’ dentro do TRE.
Pitacos
* Um advogado baiano que virou coach e tem vendido cursos pelas internet está incomodando colegas com suas abordagens agressivas, as quais alguns passaram a classificar abertamente como assédio.
* Petistas que voltaram a negociar com a ex-prefeita de Lauro de Freitas Moema Gramacho (PT) por causa da sucessão no partido andam incomodados com o forte perfume francês utilizado pela petista, mesmo nas primeiras horas da manhã.
* No encontro com prefeitos e lideranças do PDT, nesta quarta (02), Jerônimo disse que ficou muito feliz ao saber que o ex-deputado federal Severiano Alves, hoje secretário-geral da sigla da Bahia, “estava vivo”. O pedetista tem 82 anos.
* No evento, o prefeito de Santa Cruz Cabrália, Girlei Lage (PDT), disse que, mesmo dando apoio a ele em 2022, foi ignorado por ACM Neto em 2024. “Não foi na nossa cidade tirar uma foto conosco, mesmo quando esteve em Porto Seguro”, reclamou.
* Começaram a sair nomeações de indicados do PSDB na Secretaria Municipal de Saúde, que estavam travadas por determinação do Palácio Thomé de Souza.
* Vereador de Camaçari, Jackson Josué (União) sugeriu, em conversa com a coluna, que Flávio Matos (União) assuma uma nova função: a de coordenador da campanha de ACM Neto ao Palácio de Ondina na Região Metropolitana de Salvador.
* Em vídeo publicado nas redes, Flávio Matos disse que querem aniquilá-lo. Embora negue o rompimento com o ex-prefeito Antonio Elinaldo (União), o tom é de quem será candidato a deputado federal, hipótese que gera instabilidade no grupo.
* Presidente do partido de Flávio Matos em Camaçari, Helder Almeida fez questão de participar do anúncio oficial da federação entre a sigla e o PP, anteontem (29), em Brasília. Ele deve comandar o União Progressistas no município.
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