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Vitor Azevedo 16 de junho de 2025 | 10:47

Entrevista – Vitor Azevedo: “Jerônimo não coopta, ele constrói alianças que têm feito a diferença para os baianos”

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Antes de conquistar o primeiro mandato na Assembleia Legislativa da Bahia, Vitor Azevedo atuava nos bastidores da política. Na Assembleia e na Câmara dos Deputados, assessorou figuras do campo do centro e da direita, a exemplo do atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), e do ex-ministro da Cidadania, João Roma (PL), pelas mãos de quem chegou ao Legislativo baiano.

No Poder, foi, aos poucos, se aproximando do governador Jerônimo Rodrigues (PT), de quem hoje é aliado na Casa, apesar de permanecer filiado ao PL, partido que já presidiu entre 2021 e 2022 na Bahia. O acesso ao governo teria sido facilitado pelo fato de ter apoiado a candidatura de Jerônimo no segundo turno das eleições de 2022.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Vitor Azevedo, que é publicitário por formação e neto do falecido ex-deputado Josaphat Azevedo, fala sobre a relação com o PL e o futuro partidário. Ele confirma que irá apoiar a reeleição de Jerônimo em 2026 e faz elogios à forma como o governador faz política, rebatendo críticas da oposição ao petista.

Vitor também afirma que torce pela reeleição do senador Angelo Coronel (PSD), com quem tem uma relação de proximidade. Ele defende, no entanto, que haja unidade na base do governo em torno da composição da chapa majoritária. Ainda sobre 2026, o deputado estimula a candidatura do filho homônimo do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Carlos Muniz (PSDB), a deputado federal, com quem deve dobrar na eleição.

Confira abaixo a íntegra da entrevista.

Vitor Azevedo – A coluna Radar do Poder divulgou recentemente que o senhor estaria dialogando com o PSD, Solidariedade, Podemos, MDB e Avante como alternativas para disputar a reeleição em 2026. Já definiu qual será o escolhido?

Política Livre – Veja, eu não defini que vou deixar o PL. Me sinto à vontade no partido. Essas conversas ou sondagens são naturais. Duvido que exista um deputado estadual ou federal que não esteja conversando sobre isso, ainda mais que o processo eleitoral está tão antecipado. Todo mundo conversa, faz conta, avalia o cenário. Tem gente que conversa também para saber quem está indo para onde, quem está ingressando nessa ou naquela legenda. Mas eu tenho buscado focar no meu mandato, no trabalho que faço em prol dos municípios que represento. Eleições devemos deixar para o ano que vem. Por isso, essa questão de partido só vou tratar de fato, de forma objetiva, a partir de 2026, que é o momento mais apropriado.

“O meu apoio a Jerônimo não foi feito de forma escondida. Tudo ocorreu de maneira transparente. O comando do PL da Bahia foi informado do meu posicionamento político logo no início de 2023”

Como se sentir à vontade em um partido que abriu um processo de expulsão contra o senhor por conta de seu apoio ao governador Jerônimo Rodrigues (PT)?

Isso foi uma ação movida por um filiado do interior. Penso que seja um assunto superado. O meu apoio a Jerônimo não foi feito de forma escondida. Tudo ocorreu de maneira transparente. O comando do PL da Bahia foi informado do meu posicionamento político logo no início de 2023 e entendeu tanto a minha situação quanto a do deputado estadual Raimundinho da JR (PL). Eu apoiei Jerônimo no segundo turno das eleições de 2022 e todo mundo sabe disso. Desde então, estou na base do governo, até porque a minha forma de fazer política não se baseia em bandeiras ideológicas, mas sim na capacidade de articular, viabilizar entregas e apresentar resultados concretos a quem me apoiou. Veja que a maioria dos prefeitos que estão comigo hoje são da base do governo. Além disso, o governador tem tratado bem mesmo aqueles prefeitos que são da oposição, como deve ser num ambiente democrático sadio.

No primeiro turno da eleição de 2022 o senhor apoiou o ex-ministro e ex-deputado federal João Roma, de quem foi assessor, acumulando, durante um período, a presidência do PL baiano. Em 2026, mesmo na hipótese de Roma ser candidato ao Palácio de Ondina, o senhor apoiará a reeleição de Jerônimo?

Como eu disse, sempre tive uma relação de transparência e respeito com o ex-ministro João Roma. Trabalhamos juntos em 2022, período em que ocupei a presidência do PL na Bahia e conseguimos eleger três deputados federais, inclusive Roberta Roma (mulher de João), e quatro estaduais, o que me inclui. Mas no segundo turno optei por apoiar Jerônimo. Desde então, firmei com o governador e sua equipe uma parceria de trabalho e resultados. Meu foco hoje é seguir ajudando os municípios que represento, ao lado de quem está viabilizando as entregas e as ações.

Em 2024, o PL elegeu um único prefeito na Bahia, Jânio Natal, de Porto Seguro. Muitos integrantes do partido criticaram João Roma por esse desempenho considerado pífio. Qual é a sua avaliação?

Olhe, eu acho que cabe à direção do PL fazer essa avaliação. Claro que, em se tratando do PL, um dos maiores partidos do Brasil, que cresceu em 2024 em outros Estados, inclusive do Nordeste, a expectativa sempre é alta. Mas eu não participei das articulações do partido em 2024, a exemplo de 2022, quando eu ocupava a presidência (estadual). Como disse antes, estava dedicado a ajudar os prefeitos, prefeitas, vereadores, vereadores e candidatos em geral ligados a mim, ao meu mandato, certo? Viajei bastante na campanha cuidando das minhas bases. Eu acredito, porém, que João Roma vai montar uma boa chapa proporcional (em 2026) para que o PL tenha, no mínimo, o mesmo desempenho de 2022.

O senhor não acha que o PL merecia um espaço no primeiro escalão do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), já que o partido apoiou a reeleição do prefeito em 2024?

Eu acho que quem tem de falar sobre isso é o presidente do PL na Bahia. Não participei dessas conversas em 2024. Em se tratando de eleição, priorizei a campanha no interior, nas minhas bases.

O senhor foi assessor de Bruno Reis, quando ele foi deputado estadual. Como é a sua relação hoje com ele?

Embora a gente não se veja mais com a mesma frequência de antes, a minha relação com Bruno é boa. É uma relação de mais de 20 anos, que ultrapassa a política. Toda vez que nos encontramos, a exemplo das ocasiões em que ele esteve na Assembleia em solenidades oficiais, buscamos colocar o papo em dia. Gosto muito dele e acho que o sentimento é recíproco.

“Torço, pessoalmente, para que Coronel renove seu mandato. Seria bom para a Bahia e para o Brasil”

O senador Angelo Coronel (PSD) tem um grupo de parlamentares na Assembleia mais ligado a ele e o seu nome é sempre colocado nessa relação. O senhor acredita que Coronel terá espaço na chapa do governo em 2026, diante do desejo do PT de ocupar as duas vagas ao Senado, com o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa?

O senador Coronel é um amigo querido, assim como os filhos dele, o deputado estadual Angelo Coronel Filho (PSD), com quem tenho uma relação quase que diária, e o deputado federal Diego Coronel (PSD). Tenho certeza que o senador tem desempenhado um excelente papel como representante dos baianos e na defesa das bandeiras municipalistas. Torço, pessoalmente, para que Coronel renove seu mandato. Seria bom para a Bahia e para o Brasil. Mas sei também das qualificações tanto do senador Jaques Wagner, hoje líder do governo, e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi um grande governador. Como disse um dia desses o senador Otto Alencar (PSD), outro grande líder e pensador do cenário político baiano, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem um bom problema para resolver e deve tratar disso no momento certo, no tempo em que a política exige que se tome uma decisão.

Como é a sua relação com a presidente da Assembleia, deputada Ivana Bastos (PSD)? Que avaliação faz desse início de gestão dela?

Ivana é uma grande amiga. Como integrante da Mesa Diretora da Casa, tenho uma convivência diária com ela e participo das decisões sobre o dia a dia da Casa. Ivana já deu todos os sinais de que fará uma administração marcante não apenas pelo fato de ser a primeira mulher a presidir a Assembleia Legislativa da Bahia, mas também por conta da capacidade de gestão e de articulação política. No campo político, ela busca tratar todos os deputados de maneira igualitária, sempre buscando ser justa. E não é fácil lidar com 62 deputados e deputadas, cada um com uma cabeça diferente. Ela está se saindo muito bem.

O senhor recebeu na semana passada, na Assembleia, as visitas do presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Carlos Muniz (PSDB), e do filho homônimo dele, que será candidato a deputado federal. Sinal de parceria política para 2026?

Já tivemos boas conversas sobre os desafios de Salvador e sobre como o meu mandato na Assembleia pode contribuir com pautas importantes que o vereador Carlos Muniz já vem defendendo há anos, como a melhoria do transporte público e a valorização dos servidores. Muniz é uma liderança experiente e respeitada, e o filho dele, Carlos Muniz Filho, demonstra o mesmo compromisso com a cidade. Estou na torcida para que ele seja, sim, candidato a deputado federal em 2026. Seria um reforço importante para Salvador e para a Bahia em Brasília e uma continuidade honrada do trabalho do pai na vida pública.

“ Agora, o que não dá é para transformar segurança pública em palanque. Fazer evento com político de outro Estado, que nada conhece da realidade da Bahia, pode gerar manchete, mas não resolve o problema de ninguém”

O governador tem sido bombardeado por críticas da oposição na área da segurança pública. Há alguns dias, ACM Neto organizou um evento em Salvador com especialistas na área, inclusive o deputado federal Capitão Alden, do partido do senhor, e com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), reforçando as críticas a Jerônimo nesta área. Esse é o calcanhar de Aquiles de Jerônimo?

Eu acho que o secretário Marcelo Werner (de Segurança Pública) tem enfrentado essa questão com a seriedade que o tema exige. Segurança pública é, sim, um dos maiores desafios do país e não apenas da Bahia. É um problema nacional, tanto que o próprio governo federal tem atuado com o Ministério da Justiça em operações conjuntas para combater organizações criminosas interestaduais. As quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas estão cada vez mais articuladas, com alcance internacional, e o enfrentamento a esse tipo de crime exige inteligência, integração e investimentos, não apenas retórica. Agora, o que não dá é para transformar segurança pública em palanque. Fazer evento com político de outro Estado, que nada conhece da realidade da Bahia, pode gerar manchete, mas não resolve o problema de ninguém. O governo Jerônimo está ampliando o efetivo policial, investindo em tecnologia, em centros de inteligência, em novas viaturas e em valorização dos profissionais da segurança. Tem muito a melhorar, claro. Mas não dá pra fingir que isso tudo não está acontecendo. Quem critica deveria primeiro reconhecer os avanços, para então poder propor algo com credibilidade.

ACM Neto afirmou recentemente que o governador é “puxa-saco” de prefeito. O senhor concorda?

Olha, dizer que o governador Jerônimo Rodrigues é “puxa-saco” de prefeitos é uma crítica rasa. Jerônimo tem feito exatamente o que se espera de um governador responsável: governar para todos, dialogar com quem tem mandato e compromisso com o povo, seja da base ou da oposição. O governador não escolhe prefeito por cor partidária, escolhe por disposição de trabalho. Se isso incomoda alguns líderes políticos, é porque estão acostumados com o velho estilo da política do confronto. Nós estamos em outro tempo. Jerônimo não coopta, ele constrói alianças que têm feito a diferença para os baianos.

O senhor apresentou um projeto de lei para garantir prioridade de matrícula a alunos com TEA em escolas da rede estadual. O que o motivou a propor essa medida?

Eu tenho relação com pessoas, famílias e entidades que tratam do Transtorno do Espectro Autista (TEA) desde antes de ser deputado. Em 2023, conseguimos aprovar uma lei importante, sancionada pelo governador Jerônimo Rodrigues, que torna os laudos para pessoas com TEA e Síndrome de Down permanentes. Antes, as famílias, principalmente do interior, tinham que se deslocar quilômetros para renovar esses laudos. Estamos, ainda, articulando com o governo do Estado para colocar em prática em cidades da Bahia o projeto Casa TEA, idealizado pela professora Patrizia, que é uma liderança e empresária do município de Laje referência para esse segmento. Essa é uma ideia inovadora que vai garantir, num único espaço, áreas para educação, assistência social e saúde, com foco no bem-estar e desenvolvimento de crianças e adolescentes autistas. Sobre o projeto que você citou, nosso objetivo é garantir que as crianças e adolescentes com TEA possam estudar perto da casa ou do trabalho dos pais ou responsáveis, porque essa aproximação é fundamental para o sucesso do processo de aprendizado.

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