Base de Lula tem impasses nos estados do Nordeste para eleições de 2026
Por José Matheus Santos/Folhapress
27/07/2025 às 13:00
Atualizado em 27/07/2025 às 13:00
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo

A base do presidente Lula (PT) tem tensões faltando um ano para o início das convenções partidárias que vão definir as candidaturas para as eleições de 2026 nos estados do Nordeste.
Na maioria dos estados da região, que é reduto eleitoral do presidente, os apoiadores dele têm divergências sobre nomes e estratégias para as disputas de governos estaduais ou do Senado.
Em 2022, a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro no Nordeste garantiu ao petista uma vantagem de 12,5 milhões de votos. Em termos percentuais, o atual presidente obteve 69,3% ante 30,6% do então candidato do PL.
Na Paraíba, o PT quer afastar o risco de o presidente não ter um candidato a governador competitivo que apoie a sua reeleição.
Como o governador João Azevêdo (PSB) tende a sair do cargo para disputar o Senado, o vice-governador Lucas Ribeiro (PP), sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) e filho da senadora Daniella Ribeiro (PP), deve assumir o governo em abril e tende a ser candidato à reeleição.
Porém, no âmbito nacional, o PP deve apoiar uma candidatura de oposição a Lula. Interlocutores do atual vice-governador afirmam que o PP paraibano apoiou Lula em outras eleições e que o partido não teria receio em repetir a aliança no próximo ano. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), também é cotado para a disputa.
Em meio a esse cenário, o presidente da Assembleia da Paraíba, Adriano Galdino (Republicanos), diz que quer ser candidato a governador apoiando Lula. Ele não descarta múltiplas candidaturas na base.
"Me preocupo porque, dos pré-candidatos a governador, só eu faço uma defesa de Lula. Os demais ou são bolsonaristas ou são enrustidos e não se declaram, ficam em cima do muro", diz Galdino, que é aliado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Petistas, porém, não gostaram de crítica pública que o deputado fez ao veto de Lula ao aumento do número de deputados federais, anunciado neste mês.
Outro estado que pode ter racha é o Rio Grande do Norte, onde a governadora Fátima Bezerra (PT) quer voltar a ser senadora. O problema para a base de Lula é que pesquisas de intenção de voto indicam o senador Capitão Styvenson (PSDB) na liderança e uma disputa pela segunda vaga entre Fátima e a senadora Zenaide Maia (PSD), vice-líder do governo Lula no Senado.
Zenaide foi eleita em 2018 na mesma coligação de Fátima. As duas, porém, têm se distanciado desde o ano passado, quando o PT lançou candidatura própria em São Gonçalo do Amarante contra o marido da senadora, o atual prefeito Jaime Calado (PSD).
Aliados de Zenaide acreditam que a segunda vaga está em disputa entre ela e Fátima e que, com isso, não haveria sentido uma aliança. A senadora cogita se aliar ao prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), pré-candidato a governador, que não deverá apoiar Lula.
Em 2022, a divisão na base do PT no estado facilitou a vitória do senador bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), atual líder da oposição.
No Maranhão, o governador Carlos Brandão (PSB) externou a aliados que ficará no cargo até o fim do mandato. Com isso, o vice Felipe Camarão (PT) não poderá ser candidato ao governo com a máquina na mão.
Por acordo feito ainda em 2022, Brandão, respaldado pelo agora ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino, sairia para o Senado no ano que vem e apoiaria o vice na disputa pelo governo. No entanto Brandão e Dino se afastaram e o atual governador maranhense tem costurado o nome de seu sobrinho e secretário estadual Orleans Brandão (MDB) para substitui-lo no cargo.
"Sabe quem é o maior prejudicado com isso? É o Lula. Porque se o nosso time se divide aqui, como o Brandão está rachando o nosso time aqui, o maior prejudicado vai ser o Lula, porque a tendência é a votação dele cair aqui no Maranhão se a gente sair separado", afirmou Camarão à coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo.
Em Pernambuco, o PT deve apoiar a candidatura do prefeito do Recife, João Campos (PSB). Como o prefeito preside o PSB nacional, colocará Pernambuco como prioridade do partido em contrapartida ao apoio da legenda à reeleição de Lula.
Mesmo assim, há alas do partido que apoiam dois palanques para Lula, se houver disposição da governadora Raquel Lyra (PSD) em apoiar o presidente. A prioridade do partido em Pernambuco é reeleger o senador Humberto Costa (PT), segundo o presidente eleito do PT de Pernambuco, deputado federal Carlos Veras, independente da posição em relação à disputa para o governo.
"Reafirmamos Humberto como único nome do PT de Pernambuco candidato ao Senado", diz Veras.
Na Bahia, há possibilidade de o PT rifar o senador Angelo Coronel (PSD) e lançar uma chapa puro-sangue com os ex-governadores petistas Rui Costa e Jaques Wagner —atual senador— como candidatos ao Senado na coligação encabeçada pelo governador Jerônimo Rodrigues, candidato à reeleição. O PT avalia contemplar o PSD com a vaga de vice como compensação. Oficialmente, o PSD resiste e mantém a pré-candidatura de Coronel à reeleição.
No Ceará, o entorno do ministro Camilo Santana (PT) trabalha para manter a unidade do grupo político. Isso porque, com cinco pré-candidatos ao Senado, ao menos três serão descartados. O temor é que eventuais cisões prejudiquem as campanhas à reeleição de Lula e do governador Elmano de Freitas.
Querem disputar o Senado os deputados federais José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB) e Júnior Mano (PSB), o empresário Chiquinho Feitosa (Republicanos) e o ex-vice-governador Domingos Filho (PSD).
Em Sergipe, o governo Lula quer atrair o apoio do governador Fábio Mitidieri (PSD), mas o gestor tem veto a uma eventual presença do senador Rogério Carvalho (PT) na sua chapa. A disputa acirrada pelo governo sergipano em 2022, protagonizada pelos dois, deixou sequelas. O chefe do Executivo sergipano é próximo do ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo (PT).
Em dois estados, as tensões estão praticamente aplacadas. No Piauí, o PT comunicou ao MDB que o partido não terá a vaga de vice na chapa do governador Rafael Fonteles em 2026, mas os emedebistas serão contemplados na chapa com o candidato à reeleição no Senado Marcelo Castro (MDB). O outro candidato a senador será o deputado federal Júlio César (PSD).
Em Alagoas, Lula agradou o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) ao fechar um acordo com o prefeito de Maceió, JHC (PL), para que ele saia do partido de Bolsonaro e não seja candidato a senador, sem atrapalhar os planos do deputado. Mesmo assim, a tendência é que Lira não faça campanha para o presidente, mas contribua para a governabilidade de Lula no Congresso.
JHC deve se filiar ao PSB com aval do prefeito do Recife, João Campos. Para a outra vaga do Senado, o favorito é o senador Renan Calheiros (MDB), que estará em palanque diferente do de Lira e apoiará Lula, com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), como candidato a governador.
IMPASSES PARA LULA NO NORDESTE
BAHIA
Há possibilidade de chapa puro-sangue do PT com Rui Costa e Jaques Wagner como candidatos ao Senado, mas PSD resiste.
CEARÁ
Cinco nomes são cotados para disputar o Senado e há temor de que insatisfações de quem for preterido contaminem campanha de Lula no Estado.
MARANHÃO
Governador Carlos Brandão (PSB) quer apoiar seu sobrinho Orleans para a sucessão, rifando vice Felipe Camarão (PT).
PARAÍBA
Presidente da Assembleia, Adriano Galdino (Republicanos) quer disputar governo apoiando Lula, mas o PP deve ter candidatura própria.
PERNAMBUCO
PT trabalha que eventuais apoios de Raquel Lyra e João Campos a Lula não atrapalhem reeleição do senador Humberto Costa.
RIO GRANDE DO NORTE
Aliadas em 2018, governadora Fátima Bezerra (PT) e senadora Zenaide Maia (PSD-RN) podem romper e disputar entre si vagas do Senado.
SERGIPE
Governador Fábio Mitidieri (PSD) pode apoiar reeleição de Lula, mas tem veto ao senador Rogério Carvalho (PT) na sua chapa.
