Como é que fica o samba?, por Pacheco Maia*

“Como é que fica o samba?”, assim o poeta e jornalista Geraldo Alves reagiu à mudança do nome da Praça Visconde de Cairu para Praça Maria Filipa, no Comércio, em Salvador. Aprovada pela Câmara Municipal, a questionável alteração da denominação do logradouro acabou sendo sancionada pelo prefeito.

A pergunta de Geraldo me surpreendeu. Confesso que não a entendi até ele cantar o samba de Riachão, “Retrato da Bahia”: “Quem chega na Praça Cairu/ E olha pra cima, o que é que vê?/Vê o Elevador Lacerda/ Que vive a subir e a descer/É o retrato fiel da Bahia”.

Geraldo, assim como eu, é de uma geração de baianos zelosos com a história e a cultura da Bahia. Diante da praticamente nula reação à troca de nome da tradicional praça - apenas um vereador se opôs e só uma voz solitária do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) contestou - percebemos que somos uma espécie em extinção.

Se a abertura dos portos com a chegada de Dom João VI ao Brasil foi um passo decisivo para desencadear o processo de independência do Brasil, por que desprestigiar o Visconde de Cairu, José da Silva Lisboa? Fora ele o protagonista desta indispensável medida para o início da autonomia nacional.

Tudo bem que seja feito o reconhecimento à guerreira Maria Filipa, que teria liderado um grupo de mulheres em um inusitado ataque aos portugueses na Ilha de Itaparica, tirando-os de combate. A homenagem só não precisaria ser a renomeação da praça, “cobrindo um santo e descobrindo o outro”. Mas apropriada seria em outro local.

Então, “como é que fica o samba”? Essa é a questão e Riachão nem vivo está mais para atualizá-lo. Com certeza, o velho malandro sairia do tom e desafinaria ao cantar “Praça Maria Felipa” em vez de “Praça Cairu”. Está na hora de a “Atenas Brasileira”, do Visconde de Cairu, andar de mãos dadas com a “Roma Negra”, de Maria Filipa. Substituir as ideologias pelo bom senso.

* Pacheco Maia é jornalista e foi secretário de comunicação da Prefeitura de Salvador