18 setembro 2025
A ex-presidente Dilma Rousseff, que preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês, também conhecido como o Banco dos Brics), declarou neste sábado, 5, que o banco busca captar outras moedas para diversificar ativos e possibilitar investimentos que não sejam com o dólar. Ela ressaltou que vai buscar novos mercados, embora diga que não veja um movimento de desdolarização.
“Nós agora vamos explorar dois novos mercados. Vamos explorar o mercado de iene, o mercado de moeda japonesa, e vamos explorar também mais o Oriente Médio”, afirmou durante uma coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, mencionando os Emirados Árabes Unidos.
O plano de utilização de outras moedas além do dólar tem sido seguido por instituições financeiras e é defendido pelo Brics com base no multilateralismo econômico. Segundo Dilma, no entanto, não se trata de um abandono do uso do dólar – o que poderia colocar os países dos Brics em choque com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em janeiro ameaçou taxá-los em 100% caso o bloco crie uma moeda própria.
“Eu não vejo assim, claramente, nenhum sinal de desdolarização”, afirmou Dilma. “Tem países fazendo negociação em moeda própria. Há muito tempo está havendo isso, pagamento de petróleo, por exemplo, com moeda própria. Isso não significa que a condição de ativo, de reserva de valor do dólar esteja comprometida.”
Para ela, o que há é um movimento de diversificação de ativos, mas em busca de segurança. “Quem decide isso não é nenhum investidor externo, é o mercado. Quem está fazendo algumas movimentações é o mercado financeiro internacional. E, até onde eu saiba, o mercado financeiro internacional continua dolarizado”, afirmou.
Segundo a ex-presidente, o NDB tem como prioridade possibilitar o financiamento em moedas locais e quer também avançar na expansão de países membros da instituição. Nesta quinta, ela confirmou a adesão da Colômbia e do Uzbequistão ao banco. Agora, 11 países fazem parte do NDB.
Investimentos no Brasil chegam a R$ 37,8 bilhões
A ex-presidente também afirmou nesta quinta, 5, que o NDB tem 29 projetos aprovados no Brasil, totalizando US$ 7 bilhões (R$ 37,8 bi). Segundo ela, cerca de US$ 4 bilhões (R$ 21 bilhões) já foram investidos no País.
Ao todo, acrescentou Dilma, os investimentos do banco chegam a cerca de US$ 40 bilhões, distribuídos em 122 projetos.
Ela destacou que os empréstimos são orientados pela “demanda dos países” e que a atuação do banco é baseada no respeito à soberania dos Estados. Nenhum integrante tem poder de veto sobre investimentos. “Garantimos que nenhum país domine, que todas as vozes sejam ouvidas”, disse ela durante uma coletiva de imprensa.
“Esse modelo melhora a parceria entre os países-membros, faz com que não possamos exercer condicionalidade. Nós não podemos condicionar nosso empréstimo a nenhuma ação de um país membro”, continuou. “A gente pode gostar ou não dos projetos por questões técnicas, mas não podemos questioná-los por questões políticas”.
À frente do NDB desde fevereiro de 2023, ela afirmou que o banco teve um “problema sério” de liquidez ao permanecer 15 meses sem fazer captações antes de sua chegada. “Isso comprometeu várias coisas, comprometeu nosso desempenho em relação aos nossos objetivos, nosso planejamento estratégico de 2022 a 2026, que agora nós estamos chegando a alcançar. Ainda não alcançamos totalmente, mas até 2026 nós acreditamos que cumpriremos”, disse Dilma.
A ex-presidente disse que o NDB voltou ao mercado com uma captação de US$ 1,250 bilhão em março de 2023, e já ultrapassou a marca de US$ 16 bilhões em sua gestão. “Nessa metade do ano, nós já captamos em US$ 3,1 bilhões”, acrescentou.
Daniela Amorim/Estadão