Foto: Arte Política Livre
02 de julho de 2025 | 12:45

Radar do Poder: PT monitora Otto, a volta de Negromonte, o afago de Jonga a Jerônimo e o impacto do Gilmarpalooza na Bahia

radar do poder

Clima de desconfiança

O senador Otto Alencar (PSD) mudou de ideia e participou do Dois de Julho, nesta quarta (02), em Salvador. Ontem (01), a assessoria havia informado que ele não estaria presente no desfile por conta da agenda em Brasília, o que foi visto com estranheza no PT baiano, até por conta da participação do presidente Lula na festa cívica. O fato é que lideranças petistas monitoram com desconfiança os últimos posicionamentos de Otto, principalmente sobre as eleições de 2026. A ausência do senador hoje contribuiria para alimentar ainda mais os rumores sobre um possível afastamento, favorecendo especulações sobre uma eventual candidatura sua ao governo em 2026.

Mudança de tática

Em entrevistas recentes e nas redes sociais, Otto, que antes evitava falar sobre 2026, alterou pontualmente a tática e tem feito gestos mais belicosos em favor da reeleição do senador Angelo Coronel (PSD). No final de maio, Otto disse que o seu partido pode deixar o governo Jerônimo Rodrigues (PT) se o compadre for rifado. Na semana passada, publicou um vídeo no Instagram sinalizando a intenção de aceitar “novos desafios” em meio às especulações de que é cotado para vice do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), numa eventual disputa presidencial, ou mesmo mirando o Palácio de Ondina.

Foto da chapa

Ao contrário do senador Jaques Wagner (PT) e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, Otto não pegou carona no avião presidencial para retornar a Salvador, ontem, alegando compromissos no Senado. Mas o pessedista esteve nesta terça-feira (1) no Palácio de Ondina, onde Lula foi recebido pelo governador durante à noite. Entretanto, nas fotos publicadas por Jerônimo nas redes sociais só aparecem o próprio anfitrião, Rui e Wagner – os integrantes da chapa “puro-sangue” sonhada pelo PT –, além do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e do publicitário Sidônio Palmeira. Otto não divulgou nada nas redes.

Antídoto petista

A preocupação do PT com o comportamento recente de Otto é tão grande que o presidente do partido na Bahia, Éden Valadares, se apressou em dizer à imprensa, no cortejo do Dois de Julho, que a chapa com três petistas só vai acontecer se não representar risco à aliança com o PSD. Principal interessado no desenrolar da novela sobre 2026, Angelo Coronel não participou da festa cívica. Ele está em Portugal participando do fórum jurídico organizado em Lisboa pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o Gilmarpalooza.

Ao pé da fogueira

Jerônimo Rodrigues e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) travaram um duelo no Recôncavo baiano no São João. O principal alvo foi o prefeito de Cruz das Almas, Ednaldo Ribeiro (Republicanos). Se o ex-ministro João Roma (PL) for candidato ao Palácio de Ondina, Ednaldo não deve abrir mão de apoiá-lo, como fez no primeiro turno de 2022 – os dois são amigos pessoais. Caso não seja, no entanto, o jogo recomeça. O governador tem a vantagem do poder da caneta: já marcou para a segunda quinzena do mês uma audiência com o prefeito para tratar de novos investimentos para o município.

Rede de influências

No São João, Ednaldo passou mais tempo com o governador, a quem recebeu em sua residência, do que com ACM Neto, com quem esteve no local da festa. Entretanto, o líder da oposição baiana, que obteve o apoio do prefeito no segundo turno de 2022, ainda leva vantagem nessa disputa. Principal conselheiro de Ednaldo, o secretário municipal de Infraestrutura, Edson Ribeiro, irmão do gestor, defende a parceria com Neto. Já os deputados estaduais Vitor Azevedo (PL) e Niltinho (PP), aliados do chefe do Executivo municipal, articulam sua adesão ao governo.

Aliados fieis

No Recôncavo, Jerônimo também visitou, no São João, as cidades de Muritiba e São Félix, onde os atuais gestores mudaram de lado a partir de 2023, deixando a oposição após articulação de Vitor Azevedo. Já ACM Neto esteve em São Gonçalo dos Campos, Santo Amaro e Santo Antônio de Jesus, municípios administrados por fieis aliados e que não querem nem ouvir falar na palavra adesismo. Flaviano Bomfim (União), de Santo Amaro, chegou a dizer, durante a visita de Neto, que prefeitos estão sendo “corrompidos” em troca de ambulâncias.

Recordar é viver

Em meio à ida de Jerônimo a Jequié no São João, as redes sociais foram inundadas por um vídeo de uma entrevista do início de 2023 no qual o governador chama o prefeito Zé Cocá (PP) de “ingrato”. O petista diz que, embora tenha sido ajudado por Rui Costa ao longo da trajetória política, inclusive para chegar à presidência da União dos Municípios da Bahia (UPB), Cocá apoiou ACM Neto em 2022, seguindo o movimento da cúpula pepista. Agora, o prefeito e o governador vivem um clima de “namoro”. Tanto que Neto nem pisou em Jequié nos festejos juninos.

Retorno à política

Após se aposentar do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), nesta segunda (06), Mário Negromonte pretende retornar à política. As especulações de que ele pode ser candidato a deputado estadual em 2026, no entanto, estão descartadas. Negromonte deve assumir uma missão partidária, ajudando o filho, o deputado federal Mário Júnior, na condução do PP baiano. Antes de ser conselheiro, ele foi, ao lado do deputado federal João Leão, um dos responsáveis pelo crescimento da legenda na Bahia.

Tiro no pé

Como mostrou o Política Livre ontem (Leia aqui), a disputa pela sucessão de Negromonte se dá entre as procuradoras Camila Vasquez, nora do atual conselheiro e esposa de Mário Júnior, e Aline Rêgo. Apesar de a candidata ter o apoio de setores do PT, aliados de diversos partidos têm alertado interlocutores do governador sobre o “risco” de escolher Aline. “A família dela é toda de direita e pode ser um tiro no pé. Já Camila é casada com um aliado”, ponderou à coluna um parlamentar do PSD. Pelo rodízio constitucional, a vaga a ser aberta no TCM pertence a um integrante do Ministério Público de Contas.

Comando da federação

As cúpulas nacionais do PRD e do Solidariedade devem discutir na semana que vem, em Brasília, sobre quem ficará na presidência da federação formada pelos dois partidos na Bahia. A tendência é que haja um rodízio iniciado pelo deputado estadual Luciano Araújo, que comanda o Solidariedade em solo baiano e é ligado ao líder nacional da sigla, o deputado federal Paulinho da Força (SP). Está descartada a possibilidade de Francisco Elde, que ainda preside o PRD estadual e é chefe de gabinete do prefeito Bruno Reis (União), ocupar o cargo, ao contrário do que o próprio chegou a divulgar.

Virada interna

No PRD, descarta-se que ex-vereador de Salvador Adriano Meireles irá ocupar a presidência do partido na Bahia, como desejava o deputado estadual Marcinho Oliveira, que vai se filiar à legenda assim que for liberado pelo União Brasil. A Executiva nacional da sigla que detém o 25, número que se tornou forte no Estado nos tempos áureos do carlismo, decidiu que o próprio Marcinho deve ser o presidente, o que foi aceito pelo parlamentar. O combinado é que Francisco Elde deixa o posto assim que entregar a prestação de contas.

Troca-troca

Por falar em PRD, o único deputado estadual do partido, Binho Galinha, aquele acusado pela Polícia Federal de chefiar uma organização criminosa em Feira de Santana, está negociando sua filiação ao Avante com o presidente da legenda na Bahia, Ronaldo Carletto. Já o único representante do Avante na Assembleia, deputado Patrick Lopes, anda se queixando do tratamento que vem recebendo da cúpula partidária e já anunciou que pretende procurar outra agremiação para disputar a reeleição.

Contradição exposta

No mesmo dia em que sumiram da votação que derrubou o aumento do IOF na Câmara Federal, quatro deputados baianos do PSD – Charles Fernandes, Diego Coronel, Gabriel Nunes e Otto Filho – registraram o voto a favor da elevação no número de cadeiras na Câmara. Aliás, com as duas pautas no mesmo dia, ficou evidente a contradição dos parlamentares, inclusive da Bahia. Até mesmo aqueles fieis ao governo que foram a favor da mudança no imposto, alegando defender o ajuste das contas públicas – representantes do PT, PCdoB, PSB e PV –, se posicionaram a favor do inchaço do Legislativo.

Conhecendo a Bahia

Em uma entrevista concedida esta semana a uma rádio do interior, o deputado federal Jonga Bacelar, que é do PL, sinalizou que não tem a menor intenção de apoiar João Roma em 2026 e não economizou nos elogios a Jerônimo. Disse que o governador é uma pessoa “extremamente afável” e que vai melhorar o desempenho como gestor com uma “enxurrada de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal). “Nos dois primeiros anos ele (Jerônimo) estava conhecendo a Bahia”, disse o parlamentar.

Tacada de mestre

De Portugal, onde figura entre os 400 palestrantes que se acotovelam no famoso “Gilmarpalooza”, o desembargador baiano Maurício Kertzman prepara uma tacada de mestre para o caso de não conseguir emplacar a pupila Carina Cangussu no TRE. A ofensiva, capaz de deixar um magistrado que se considera seu “novo amigo” sem chão, visa a ocupação da vaga do desembargador Paulo Chenaud pensando já nas eleições de 2026, quando Kertzman quer ter protagonismo na Corte. Como se sabe, Cangussu entrou na lista negra do todo poderoso ministro Rui Costa (Casa Civil), perdendo a condição de favorita para o Tribunal.

Pitacos

* Tem opositor que, em vez de apresentar proposta, fica monitorando stories do prefeito Bruno Reis (União) no feriadão. Será que quer seguir carreira como fiscal de Instagram? O pior é que setores da imprensa estão seguindo a mesma trilha.

* No período junino, Bruno Reis passou uns dias na Itália, onde visitou o Papa Leão XIV, e virou alvo. Se a ausência não passar de 15 dias, nem a Lei Orgânica do Município se importa – mas a patrulha digital, sim.

* Enquanto Salvador seguia funcionando, teve gente tentando surfar com a falta de postagens do prefeito. Para alguns, descanso só vale se tiver selfie com legenda.

* Presidente da CBPM, o ex-vereador de Salvador Henrique Carballal admitiu nesta quarta (02) que pode ser candidato a deputado estadual em 2026. “Depende só do governador”, pontuou.

* Presidente do PP baiano, Mário Júnior não anda colado apenas no governador para emplacar a mulher na vaga do pai no TCM (veja notas acima). Ele também está no “grude” com o secretário estadual de Relações Institucionais, Adolpho Loyola (PT).

* Esta semana, por exemplo, Mário Júnior acompanhou Loyola numa agenda em Una, município que o deputado representa na Câmara. Os dois anunciaram investimentos em pavimentação. Jerônimo não foi.

* Sem esconder o ódio de ACM Neto, os irmãos Vieira Lima, que comandam o MDB baiano, ficaram animados com o encontro entre Jerônimo e o ex-prefeito de Itapetinga Rodrigo Hagge, que é emedebista, no São João.

* Tanto Geddel quanto Lúcio acreditam que essa primeira conversa pode significar uma possível saída de Rodrigo do campo político de ACM Neto e a adesão ao governo. Já os aliados do ex-prefeito de Salvador dizem que o encontro foi meramente casual, natural à urbanidade de políticos.

Política Livre
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