A comemoração de Jerônimo e o adeus ao querido Everaldo, por Raul Monteiro*

Não há estado no país em que as avaliações sobre o governo Lula recebam mais atenção do que na Bahia. A queda na distância entre a parcela da população que aprova (46%) e a que desaprova (51%) o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), registrada ontem pela Quaest, deixou os petistas baianos eufóricos no mesmo dia em que, pela tarde, mergulharam em tristeza devido à morte de um de seus principais líderes, Everaldo Anunciação, vitimado por um câncer. Homem que não se furtava ao diálogo, submetendo a cegueira da ideologia à civilidade, à inteligência e ao entendimento, Everaldo deixou, justificadamente, uma grande legião de admiradores.

Se a Bahia se tornou um bastião do lulopetismo, foi em decorrência da atuação histórica de figuras como ele, cuja luta em defesa dos ideais republicanos do partido nunca cessou e o animaram, inclusive, a pensar numa candidatura à sucessão petista este ano, ideia da qual sabiamente recuou ao constatar que não contribuiria com o engrandecimento da legenda que era também parte de sua vida. Antes de ser avisado do falecimento do companheiro, sobre o qual emitiu uma nota de pesar sensível e emocionada, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) fez questão de comemorar os resultados da Quaest sem disfarçar a alegria.

"Vejo com muita alegria o resultado da pesquisa Quaest publicada hoje, que confirma o reconhecimento do povo às decisões corretas do presidente Lula de defender nossa soberania e nossa economia”, disse o governador, depois de escrutinar os números, os quais de fato não podem ser desconsiderados, se levada em conta, principalmente, o a contribuição do Estado que Jerônimo governa para a elevação do patamar de aprovação à gestão petista. O levantamento mostrou que a melhora foi puxada por setores alinhados historicamente ao petismo, entre os quais os moradores do Nordeste, onde a aprovação subiu de 53% para 60% em um mês.

Para completar, a alta foi registrada nos dois Estados da região incluídos na pesquisa, com destaque para a Bahia (o outro Estado foi Pernambuco), onde subiu de 47% para 60%, enquanto a desaprovação seguiu caminho inverso, passando de 51% para 39%. Mais do que eventualmente se sentir responsável pela melhora da performance de Lula, o que teria liberdade de atribuir à incansável determinação de levar a mensagem dele e do presidente ao interior, Jerônimo sabe o quanto qualquer melhoria nos números de avaliação da gestão federal petista impactam positivamente na sua própria avaliação e nas chances de sua reeleição, em 2026.

Como qualquer liderança do partido, o governador conta com o presidente para puxá-lo na sucessão do próximo ano, da mesma forma que fez nas eleições de 2022, época em que, entretanto, ainda era um desconhecido do eleitorado baiano. Talvez aí, inclusive, resida hoje seu principal desafio. Afinal, no ano que vem o eleitor não deve referendá-lo apenas pela associação com Lula e o 13, mas depois de também fazer um julgamento sobre se merece ou não continuar governando o Estado, processo a que incumbentes são naturalmente submetidos quando disputam reeleições. Até agora, não está claro se a eleitorado baiano está em clima de continuidade ou mudança.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.