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CCJ do Senado rejeita PEC da Blindagem por unanimidade após pressão da opinião pública
CCJ do Senado rejeita PEC da Blindagem por unanimidade após pressão da opinião pública
Por Caio Spechoto/Estadão
24/09/2025 às 14:05
Atualizado em 24/09/2025 às 14:06
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A CCJ (Comissão de Constituição de Justiça) do Senado rejeitou por unanimidade nesta quarta-feira (24) a PEC da Blindagem, que restringe processos contra deputados e senadores. Projeto deverá ir ao plenário da Casa, onde o conjunto dos senadores provavelmente também rejeitará a proposta, como um gesto político.
Pelo entendimento em vigor atualmente sobre o regimento do Senado, o projeto não poderia ser discutido no plenário por causa da rejeição unânime, e estaria enterrado pela decisão da CCJ. Há, porém, um acordo entre o presidente do colegiado, Otto Alencar (PSD), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para que haja deliberação pelo conjunto dos senadores.
Técnicos em regimento da Casa estão avaliando se há possibilidade regimental de esse acordo ser cumprido. "Levar ao plenário é uma coisa importante para que todos possam se manifestar", disse Otto Alencar a jornalistas.
O presidente da CCJ era contra o projeto desde o início e escolheu um relator também contrário, Alessandro Vieira (MDB-SE). Foi Vieira quem sugeriu a inconstitucionalidade da proposta.
O relator mencionou, em entrevista, que o texto tecnicamente já está enterrado por ter sido rejeitado por unanimidade. "Não há necessidade de consulta ao plenário, mas entendo o gesto político", disse Vieira.
A PEC foi aprovada na semana passada pela Câmara, em uma votação feita a toque de caixa. O texto estipula que congressistas só podem ser processados se houver aprovação pelo Legislativo em voto secreto. Também estende o benefício a presidentes de partidos.
A rejeição do projeto tem potencial para criar atrito entre deputados e senadores. Na prática, a Câmara arcará sozinha com o desgaste público causado pela PEC da Blindagem. O mais comum quando uma Casa não quer aprovar um projeto que já tem o aval da outra é não colocá-lo em votação.
A proposta é impopular. A reação das redes sociais contra deputados que apoiaram o projeto já assustava senadores antes mesmo de o texto chegar formalmente à Casa Alta. No último fim de semana houve manifestações em diversas cidades contra o projeto.
A pressão da opinião pública foi citada pelo senador Jorge Seif (PL-SC), que retirou seu voto em separado sobre o tema. "Voto em separado" é uma espécie de parecer alternativo no jargão do Congresso. "Preciso reconhecer que a população entrou em contato conosco. Precisamos estar sensíveis às vozes das ruas", disse ele.
Seif também disse que há méritos na PEC, mas que eles foram eclipsados pela proteção a congressistas em caso de crimes.
Do outro lado do espectro político, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) pediu a rejeição do projeto por unanimidade para encerrar a tramitação de uma vez. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) deu declaração semelhante. "Precisamos sepultar [a PEC] de vez e tentar retomar um mínimo de confiança no Congresso", disse ela.
"A PEC que formalmente aponta ser um instrumento de defesa do Parlamento é na verdade um golpe fatal na sua legitimidade, posto que configura portas abertas para a transformação do Legislativo em abrigo seguro para criminosos de todos os tipos. Essa é uma PEC que definitivamente abre as portas do Congresso Nacional para o crime organizado", disse o relator.
"Trata-se do chamado desvio de finalidade, patente no presente caso, uma vez que o real objetivo da proposta não é o interesse público –e tampouco a proteção do exercício da atividade parlamentar–, mas sim os anseios escusos de figuras públicas que pretendem impedir ou, ao menos, retardar, investigações criminais que possam vir a prejudicá-los", disse Vieira no documento.
O senador mencionou os 13 anos posteriores à promulgação da Constituição de 1988, quando uma regra parecida com a PEC da Blindagem estava em vigor. Essa regra foi revogada em 2001. Nesse período, segundo o relator, foram quase 300 pedidos de investigação contra deputados e apenas um teve aval da Câmara.
"Assim, a presente PEC teria o real objetivo de proteger autores de crimes graves, como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o que configura claro desvio de finalidade e, consequentemente, inconstitucionalidade", afirmou o relator. Ele mencionou a possibilidade de ocupantes de outros cargos, como deputados estaduais, também serem blindados pelo texto.
Apoiadores do projeto o chamam de PEC das Prerrogativas e afirmam que ele é importante para proteger congressistas de abusos do STF (Supremo Tribunal Federal).
Alessandro Vieira rejeitou as emendas propostas por colegas ao projeto. Sergio Moro (União-PR), por exemplo, buscou salvar a PEC limitando a necessidade de aprovação do Legislativo a processos relacionados a crimes contra a honra ou a falas de congressistas.
Durante a sessão, porém, Moro afirmou que a proposta estava contaminada. "Não vou insistir na emenda nesse momento", disse o senador, defendendo a rejeição da PEC.
