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Romaria da Barca de Muxía: um encontro de caminhos com mais de 400 anos de história
Romaria da Barca de Muxía: um encontro de caminhos com mais de 400 anos de história
Por Redação
15/09/2025 às 18:54

Ali, onde a força do Oceano Atlântico se encontra na sua maior expressão, onde a devoção, a lenda e o misticismo dão a mão ao envoltório de um templo de peregrinação, ergue-se o Santuário da Barca de Muxía (Galiza, Espanha).
Este mágico enclave é meta do prolongamento dos Roteiros Jacobeus a Compostela, conhecido como Caminho Fisterra-Muxía, é o ponto de chegada de devotos que percorrem a Via Mariana Luso-Galaica (que liga Braga a Muxía) e também, durante o Ano Santo Romano, constitui um destino jubilar para alcançar a indulgência plenária.
Trata-se de um lugar tão esotérico como fervoroso. As propriedades curativas das pedras que constroem este Santuário, tornam-no polo de atração para dezenas de milhares de pessoas que se deslocam à Romaria da Virgem da Barca.
A cita, que se celebra no segundo domingo de setembro depois do dia 8, comemora o milagroso aparecimento da Santa ao Apóstolo Santiago.
Conta a lenda que, no momento em que o discípulo de Jesus ia a sair do seu trabalho, a Virgem apareceu-lhe numa barca de pedra guiada por anjos, diante do discípulo.
Assim, deu-lhe novas forças para continuar com o seu trabalho de evangelização.
Foi então que a devoção pela conhecida Virgem da Barca começou a crescer de tal modo que se construiu uma Basílica em sua honra neste lugar.
Daquele feito milagroso ficaram os restos da barca, representados por três pedras localizadas perto do templo.
A de Abalar (o capacete da embarcação), a dos Riles - Cadrís, em galego - (a vela), e a do Timão. Nos últimos tempos, acrescentaram-se outras duas pedras mágicas: a da Cabeça - para curar os males relacionados com esta parte do corpo - e a dos Namorados - onde se diz que os casais vão para jurar amor eterno.
A enigmática e a fervorosa atração do Santuário da Barca transcende fronteiras e converteu-se num local de peregrinação.
A trilha mais percorrida, o Caminho Fisterra-Muxía, registou no último ano cerca de 2.300 peregrinos. Já a Via Mariana Luso-Galaica, para além dos Caminhos da Barca, é tradicionalmente percorrida por romeiros provenientes da Costa da Morte e de outras comarcas vizinhas.
Origem medieval
A Romaria da Virgem da Barca remonta à época medieval, ainda que os primeiros documentos que abordam a sua existência, datam do século XVII. Desta forma, são já mais de 400 anos de devoção da Santa, patrona dos marinheiros do lugar, que resultam de uma celebração multitudinária e multicultural. Os grandes escritores da literatura espanhola, como Federico García Lorca ou Rosalía de Castro, quiseram conhecer de perto esta romaria e falaram sobre ela nas suas obras.
Enquanto que, no início, celebrava-se unicamente a romaria, desde finais do século XIX foram-se incorporando outro tipo de atividades lúdicas, que complementavam a programação litúrgica.
Essa tendência foi-se alargando até chegar aos festejos atuais: quatro dias de intensa atividade cultural, mas que convivem com o recolhimento dos devotos.

Romaria da Virgem da Barca
Assim, por um lado, destacam-se diferentes atividades, como a Missa de Campal (o dia grande da Romaria), o Domingo da Barca, que acontece no exterior e as procissões em que a imagem da Virgem da Barca - datada de finais do século XV- percorre esta vila marinheira, cheias de fiéis.

Missa em homenagem a Virgem da Barca
Por outro lado, as ruas de Muxía enchem-se com atuações de grandes orquestras e de artistas internacionais, que atraem milhares de pessoas, desfiles musicais, um espetáculo de fogo de artifício junto ao mar e a maior sequência de fogos de estampido da Galiza, que surpreende tanto os habitantes como, sobretudo, os visitantes.
Este ano, a celebração ocorre entre o dia 12 e o dia 15 de setembro, atraindo um número cada vez maior de visitantes.
Muitos deles chegam fechar com chave de ouro seu percurso pelos Roteiros Jacobeus ou pela Via Mariana e outros para descobrir um templo que, ano a ano, ganha adeptos. Entre os peregrinos que mais visitam o templo, destacam-se os coreanos, que se surpreendem perante a magnificência do templo e a sua magia.
A Romaria da Virgem da Barca tem essa extraordinária capacidade de união entre as origens, as culturas e as crenças, do mesmo modo que no Caminho, Muxía também abre as suas portas, como meta jacobeia e mariana, a todas aquelas pessoas que queiram sentir o acolhimento de um espaço único, inspirador e revelador.
A indómita Costa da Morte
Para além da celebração, os visitantes aproveitam para explorar a impressionante região da Costa da Morte.
Junto com Fisterra, Muxía é um destino chave num dos roteiros do Caminho de Santiago, que oferece aos visitantes a oportunidade única de presenciar o último raio de sol na Europa Ocidental.
Com as suas paisagens puramente atlânticas, a sua costa única, a sua gastronomia excecional, com os seus produtos locais distintivos, as pessoas poderão experimentar um conjunto de atividades neste destino de turismo sustentável.
