Trump impõe tarifa de 10% sobre madeira e de 25% sobre armários e móveis
Por Folhapress
30/09/2025 às 07:46
Atualizado em 30/09/2025 às 07:50
Foto: Reprodução/Instagram/Arquivo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (29) que aplicará tarifas de 10% sobre madeira bruta e madeira serrada e de 25% sobre armários de cozinha, gabinetes de banheiro e móveis estofados.
Trump assinou a medida argumentando que as importações de madeira e móveis estão enfraquecendo a segurança nacional dos EUA, justificando as novas tarifas sob a Seção 232 da Lei de Comércio de 1974, como fez para produtos como aço e alumínio.
O Canadá, maior fornecedor do país, deve ser o maior afetado. No Brasil, que já sofre com demissões no setor, cerca de 90% da produção está concentrada nos estados da região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Segundo o texto, as tarifas entrarão em vigor em 14 de outubro, mas as alíquotas subirão em 1º de janeiro para 30% no caso dos produtos de madeira estofados e para 50% no caso de armários de cozinha e gabinetes de banheiro importados de países que não chegarem a um acordo com os Estados Unidos.
A medida é a primeira em três setores que, segundo Trump, receberiam novas tarifas já a partir de 1º de outubro —incluindo medicamentos patenteados e caminhões pesados.
No entanto, o texto desta segunda estabeleceu o início das tarifas sobre madeira e móveis para daqui duas semanas, à 1h01 de 14 de outubro (horário de Brasília).
O documento presidencial afirmou que as importações de produtos de madeira estão enfraquecendo a economia dos EUA, levando a fechamentos constantes de serrarias, a interrupções nas cadeias de suprimento e à redução da utilização da indústria nacional de madeira.
"Devido à situação da indústria madeireira dos Estados Unidos, o país pode não ser capaz de atender à demanda por produtos de madeira que são cruciais para a defesa nacional e para a infraestrutura crítica", diz o texto.
A medida acrescenta que produtos de madeira são usados para "construção de infraestrutura para testes operacionais, habitação e armazenamento de pessoal e material, transporte de munições, como ingrediente em munições e como componente em sistemas de defesa antimísseis e em sistemas de proteção térmica para veículos de reentrada nuclear".
A medida impõe mais tarifas ao Canadá, o maior fornecedor de madeira de coníferas aos Estados Unidos, onde os produtores já enfrentam tarifas combinadas antidumping e antisubsídio de cerca de 35% devido a uma disputa antiga sobre madeira extraída de terras públicas canadenses.
O Canadá, que espera negociar reduções tarifárias com os EUA por meio de uma revisão mais ampla do acordo comercial Estados Unidos-México-Canadá de 2020, disse que ofereceria até US$ 870 milhões em ajuda a seus produtores de madeira de coníferas para lidar com as tarifas anteriores.
México e Vietnã são fornecedores crescentes de móveis de madeira para os EUA depois que Trump impôs tarifas de até 25% sobre produtos de móveis chineses durante seu primeiro mandato, iniciado em 2018 —tarifas que desde então foram elevadas para cerca de 55% e agora podem quase dobrar para armários e gabinetes de banheiro.
A medida de Trump ofereceu a alguns países que fecharam acordos comerciais de redução tarifária com os EUA certo alívio em relação às tarifas mais altas sobre produtos de madeira. As tarifas dos EUA sobre produtos de madeira do Reino Unido seriam limitadas a 10% e as da União Europeia e do Japão seriam limitadas a 15% —taxas em linha com a tarifa-base nesses acordos de referência.
Mas a declaração de Trump não fez menção ao acordo comercial dele com o Vietnã para uma tarifa de 20% em julho, um acordo que ainda não foi formalmente documentado.
Em abril, depois que o Departamento de Comércio abriu a investigação de segurança nacional sobre as importações de madeira dos EUA, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos anunciou sua oposição a quaisquer restrições sobre importações de madeira, tábuas serradas e seus produtos derivados, incluindo celulose, papel e papelão.
"As importações desses bens não representam um risco à segurança nacional", escreveu a Câmara. "Impor tarifas sobre esses bens aumentaria os custos para empresas americanas e para a construção de moradias, prejudicaria o sucesso de exportação alcançado pela indústria de papel dos EUA e reduziria a renda em muitas comunidades americanas."
SETOR DE MÓVEIS BRASILEIRO JÁ SENTE IMPACTO
Indústrias de móveis e madeira do Brasil já sentem o impacto do tarifaço anunciado por Trump em julho. Segundo empresários e associações do setor, exportações para o mercado americano já estavam sofrendo com as incertezas em relação à medida.
Entre 9 de julho, quando foi anunciada a taxação de 50% ao Brasil, e 15 de setembro a indústria brasileira de madeira contabilizou em torno de 4.000 demissões, segundo dados da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente).
Os Estados Unidos absorviam em média 50% da produção do setor no Brasil, mas o tarifaço que entrou em vigor em agosto provocou uma onda de cancelamento de exportações.
De acordo com a Abimci, a indústria de madeira gera em torno de 180 mil empregos formais no país. Ou seja, as cerca de 4.000 demissões corresponderiam a aproximadamente 2% do total de vagas.
A Abimci diz que as exportações de agosto tiveram quedas de 35% a 50% ante julho, considerando o volume embarcado para os Estados Unidos de alguns dos principais produtos de madeira processada.
