Adolfo Viana destinou R$ 7 milhões a obras sob suspeita de superfaturamento na Bahia, aponta investigação

O deputado federal Adolfo Viana (PSDB-BA) destinou R$ 7 milhões em emendas parlamentares para obras de pavimentação em Juazeiro e Novo Horizonte, na Bahia, que são alvos de investigação por superfaturamento. A empresa responsável, Allpha Pavimentações, pertence aos irmãos Alex e Fabio Parente, sendo que Alex esteve 22 vezes no gabinete do deputado em Brasília. As obras foram contratadas por meio de um pregão eletrônico do Dnocs, órgão federal cujo coordenador à época, Lucas Maciel Lobão, foi indicado pelo próprio Viana. A reportagem é de Natália Portinari, do UOL.

Após a realização do pregão, a Allpha venceu três contratos no valor total de R$ 40,7 milhões. Apesar das emendas serem do tipo “emenda de relator”, que ocultam a autoria, a prefeita de Juazeiro agradeceu publicamente ao deputado. Entre 2023 e 2024, Alex Parente intensificou suas visitas a gabinetes na Câmara dos Deputados, incluindo o do PSDB, PSD e PT, totalizando 35 visitas. As evidências sugerem que o grupo mantinha contato com diversos partidos, o que amplia o alcance das investigações.

A relação entre Viana e os irmãos Parente se estendeu a outras áreas. Em julho de 2023, o deputado enviou R$ 3 milhões em emendas Pix para a Prefeitura de Camaçari, onde a empresa Larclean, também dos Parente, prestava serviços de dedetização com preços até 660% acima do mercado. A prefeitura está sob investigação por suspeita de fraude, mas a destinação exata dos recursos não é clara, já que as emendas Pix não exigem prestação detalhada de contas.

Um relatório da CGU identificou R$ 4,2 milhões em superfaturamento nas obras da Allpha. Com isso, o TCU determinou a suspensão dos contratos. Posteriormente, em dezembro de 2024, a Polícia Federal deflagrou a Operação Overclean, que prendeu os irmãos Parente. A PF apura fraudes em licitações, corrupção e desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares. O ex-coordenador Lobão também foi preso e acusado de atuar como lobista do grupo após sua saída do Dnocs.

Embora Adolfo Viana ainda não seja formalmente investigado, seu nome aparece em documentos apreendidos na sede do Dnocs e relacionados às emendas. A investigação aponta que o esquema envolve uma rede maior de políticos e partidos, com atuação coordenada entre empresários, agentes públicos e parlamentares. Até o momento, nem Viana nem os irmãos Parente se manifestaram sobre as acusações.