Bolsa da Argentina salta 21% depois da vitória de presidente em eleições

O mercado financeiro argentino reagiu com euforia nesta segunda-feira (27) após vitória do governo Javier Milei nas eleições legislativas de meio de mandato no país.

A Bolsa de Buenos Aires disparou 21,7%, o maior salto diário desde novembro de 2023, e o dólar se desvalorizou cerca de 4% em relação ao peso diante da perspectiva de aprofundamento das reformas ultraliberais.

O resultado pôs fim a uma corrida cambial que se estendia por várias semanas e cuja contenção contou até com a participação do Tesouro dos Estados Unidos, que comprou pesos em apoio ao aliado Milei.

O governo de Milei obteve um expressivo respaldo nas urnas, com 40,7% dos votos, enquanto um peronismo fragmentado em várias chapas somou 31,7%.

Na Bolsa de Buenos Aires, algumas ações registraram altas superiores a 30% em relação à sexta-feira (24), em meio ao clima de euforia financeira. Papéis como os do Banco Supervielle e os da empresa de gás Metrogas subiram 36%.

Em Nova York, os ADRs, ações argentinas negociados em Wall Street, também tiveram fortes avanços, de até 50% ao meio do dia, lideradas pelos bancos Supervielle (48%) e BBVA Argentina (40%), em um expressivo repique após dias de perdas.

Nas casas de câmbio de Buenos Aires, o dólar —principal refúgio de valor para os argentinos diante da inflação crônica— caiu 4%, dissipando temores de uma nova desvalorização do peso.

"Ontem começou uma nova Argentina", disse Milei nesta segunda ao canal A24.

Segundo o presidente, "o programa de governo foi permanentemente torpedeado pelo Congresso", mas ele disse confiar que haverá uma mudança a partir da posse dos novos parlamentares, marcada para 10 de dezembro.

A partir daí, o ultraliberal, que até agora tem se mostrado intransigente em seu estilo de governar, precisará buscar acordos políticos, já que, embora tenha ampliado consideravelmente sua bancada, seu partido continuará sem maioria própria no Congresso.

REFORMAS

"Precisamos sentar com o novo Congresso e buscar acordos para aprovar as reformas. Eu me comprometi com isso em 2023, e foi para isso que me elegeram", declarou Milei, que avalia mudanças em seu gabinete.

O presidente confirmou a manutenção do sistema de flutuação administrada do câmbio dentro de bandas predefinidas. "Enquanto estiver dentro da banda, o dólar é livre", afirmou.

O governo dos Estados Unidos comprometeu-se a liberar uma ajuda de até US$ 40 bilhões ao governo argentino, valor que havia sido condicionado à vitória eleitoral de Milei.

Para o cientista político Iván Schuliaquer, da Universidade Nacional de San Martín, resta saber se o triunfo "lhe dá um impulso duradouro" e "se o modelo econômico consegue se sustentar sem afundar, o que teria ocorrido se Trump não o tivesse resgatado".

"Mas, política e culturalmente, o projeto de Milei segue muito vivo", acrescentou o pesquisador em entrevista à AFP.

O impulso para o governo também se refletiu no mercado de títulos públicos. A taxa dos empréstimos de dez anos da Argentina caiu consideravelmente nesta segunda, passando de 14,34% na sexta para 10,51%, uma redução de 3,83 pontos percentuais, uma variação especialmente significativa no mercado de dívida soberana.