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Caso de Adolpho nas redes é prova do risco que todos corremos, por Raul Monteiro*
Caso de Adolpho nas redes é prova do risco que todos corremos, por Raul Monteiro*
Por Raul Monteiro*
23/10/2025 às 07:29
Atualizado em 23/10/2025 às 19:16
Foto: Divulgação/Arquivo

Estrela ascendente do grupo governista, o secretário estadual de Relações Institucionais, Adolpho Loyola, foi vítima esta semana de um ataque nas redes sociais desferido por um homem que foi trapaceado por um estelionatário no Estado do Pará. Revoltado com o logro, o rapaz gravou um vídeo do momento em que o falsário era preso, mas acrescentou ao registro uma informação, passada a ele pelo próprio trapaceiro, de que possuía relações próximas com Adolpho. A ligação com o homem forte do governo Jerônimo Rodrigues (PT) era, naturalmente, mentirosa, o que o status de criminoso do emissor já em si denunciava.
Mas, tomada pelo desespero do golpe e com medo de não haver reparo à injustiça, a vítima do estelionatário não contou conversa. Resolveu espalhar como verdadeira uma informação que de cara parecia inverossímil, provavelmente na tentativa de atrair atenção, obter solidariedade e ser ajudada na tarefa de se recuperar da perda. Foi o suficiente para que, aproveitando-se da expressão pública de Adolpho, seus adversários, mas sobretudo os do governo e os do PT, entrassem no conhecido modo "espalha que enxovalha" e passassem a divulgar sem a menor responsabilidade o vídeo do rapaz revoltado. O que o secretário viveu não é novidade.
Todos os dias inúmeras pessoas, no Brasil e no mundo, são vítimas de algum ataque injusto ou criminoso na web, onde são execradas, tripudiadas ou simplesmente canceladas sem o mais reles direito à defesa. É um tribunal cruel. Elas podem ser cidadãos comuns que se tornam celebridades em decorrência de um erro que cometeram, de um escorrego que deram ou da má sorte de se encontrar no lugar ou na hora errada. Ou então podem já desfrutar de fama ou amplo conhecimento público, o que as torna objetos preferenciais para crimes que podem levar quem os pratica à estratosfera da popularidade nas redes sociais.
Não importa se o que se diz é verdade ou ficção, fake news ou notícia, se o material é produzido por Inteligência Artificial ou humana. Aliás, quanto mais estapafúrdias ou disruptivas as teses ou acusações, mais propensas elas estarão a ganhar repercussão na lógica incansável dos algoritmos para obter engajamento. Para complicar, os mecanismos judiciais de proteção do direito de imagem do cidadão, a exemplo das penas previstas para os crimes de calúnia, injúria e difamação, seguem ritos que não acompanham a celeridade da corrosão reputacional dos alvos da internet, hoje um terreno verdadeiramente sem lei.
No caso de Adolpho, um secretário estadual, portanto, com condições financeiras de se defender e amparo do Estado, medidas judiciais e administrativas junto às plataformas foram tomadas imediatamente no sentido de cessar o ataque e compensá-lo da agressão. Mesmo assim, até hoje é possível encontrar o vídeo criminoso ao abrir o perfil do Instagram ou de outra rede social, uma prova de que as “big techs” estão inteiramente a serviço da automonetização, não importa o sofrimento que uma mentira potencializada por impulsionamento possa causar. Como dizem os europeus de bom senso há algum tempo, sem regulação não há saída para a civilização.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
