26 novembro 2024
Presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), o deputado Adolfo Menezes (PSD) sempre adotou tom moderado e institucional para responder sobre as inquietudes e queixas da base governista na Casa, tratando como “coisa normal do Parlamento”. Mas nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, ele deixa escapar que não deveria ser tão normal assim, considerando que o governo Jerônimo tem um ambiente bastante favorável de alinhamento com o governo federal, três senadores, além do ex-governador Rui Costa como “primeiro-ministro de Lula”.
“Tudo isso aumenta a expectativa que se tenha mais investimento nas bases na Bahia”, diz Adolfo Menezes, sem a necessidade de completar que isso não ocorre na prática. O pessedista afirma que o perfil simpático, “mais tranquilo e mais leve” do governador Jerônimo “dá mais condição das pessoas se aproximarem”, embora tais virtudes não tenham sido convertidas em resultados políticos mais aprazíveis.
Adolfo Menezes fala ainda sobre a aproximação do seu adversário regional de Campo Formoso, Elmar Nascimento (União Brasil), com a ala baiana do PT para chegar à presidência da Câmara dos Deputados, traça o desenho para a sua eventual reeleição na AL-BA e detalha a ajuda financeira que será enviada ao Rio Grande do Sul a partir de uma vaquinha entre os 63 deputados estaduais.
Leia abaixo a entrevista completa:
Semanas atrás o senhor recebeu aqui no gabinete um grupo de deputados pedindo uma interlocução da sua parte com o governo, reclamando de demandas não atendidas. A gente viu também no plenário recentemente esvaziamento, dificuldades com quórum. Onde é que o governo tem falhado nessa relação ou é uma falha da Serin?
Olha, primeiro isso é uma coisa normal no Parlamento. A gente vê no parlamento brasileiro, quer que seja no Congresso Nacional, dificuldades do presidente Lula às vezes para votar, tem que sentar pra conversar. É o presidente da Câmara Arthur Lira, não é brigando, tendo desentendimento com o ministro das Relações Institucionais, encarregado da pauta política, que é o Alexandre Padilha, depois o presidente Lula entra, o ministro Rui Costa entra para interlocução, então isso é normal. Aqui na Assembleia sempre houve isso e sempre vai haver. O problema é que as necessidades são infinitas, necessidades políticas. Os deputados aqui representam as diversas regiões da Bahia, que é um estado gigantesco com mais de 15 milhões de habitantes, um estado pobre, apesar de nós estarmos ainda como a sétima economia.
Então, por isso que às vezes tem essas obstruções, que fazem parte, que é o que o deputado tem na mão. Às vezes não vindo à votação para tentar tencionar, para dizer ‘olha, aqui não está dando certo, eu não estou sendo atendido’. Depois conversa. Mas o importante é dizer que tudo isso está envolvido, às vezes uma chateação maior ou não, com o fato dos deputados quererem levar mais investimentos para os municípios que eles representam. Só se trata disso, ainda bem que é só isso.
Então, o governador, qualquer que seja ele, foi assim com o Wagner, foi assim com o Rui, está sendo assim com o Jerônimo, será assim com qualquer um, sempre vai ter descontentamento. Porque por mais que o governo faça, as necessidades são muito maiores. E os governos, como eu disse num estado pobre como a Bahia, não tem como atender a todas as demandas. Então sempre vai ter essas obstruções, essas chateações. É normal.
O governador Jerônimo tem um perfil mais afável, mais simpático. Será que isso aumentou as expectativas dos deputados com relação a ter um atendimento melhor?
Talvez a abertura maior. O governador Rui Costa era muito sisudo, muito mais duro. Jerônimo tem mais simpatia, mais tranquilo, mais leve, dá mais condição das pessoas se aproximarem. Isso facilita, mas ele tem que trabalhar com o orçamento do Estado. Não é fácil, nós temos muitas dificuldades. A Bahia foi retaliada nos últimos quatro anos do governo Bolsonaro, isso dificultou. É claro que agora tem uma expectativa maior até porque o ex-governador Rui Costa está hoje como primeiro ministro, como braço direito do presidente Lula, tem o líder do governo no Senado, ex-governador Jaques Wagner, tem o senador Otto Alencar, Angelo Coronel, então tudo isso aumenta a expectativa que se tenha mais investimento nas bases na Bahia. Por isso que existe isso de esticar a corda para ver se dá certo. Mas é natural, no final acabam acontecendo as votações.
Depois daquela votação da PEC que abriu caminho para um eventual terceiro mandato do senhor, o governador fez um comentário de que achava preocupante não haver renovação na Casa, mas logo um tempo depois mudou o tom e disse que é uma discussão entre os deputados. O que mudou entre uma declaração e outra?
Nada, faz parte. Bom, os Poderes são independentes, mas são harmônicos. Durante meu período como presidente nós temos uma harmonia muito grande, sem stress nenhum com os demais Poderes. Não é fácil os líderes políticos darem entrevistas, porque todos os dias eles são instigados. Então, por exemplo, você pergunta ao senador Otto Alencar, presidente do nosso partido, uma posição dele, quando se tem Ivana que é candidata, ele vai ficar cheio de dedo em me defender porque a outra também é do partido, e merece, tem todas as condições de presidir a Assembleia. Mesmo assim o governador, para responder a sua pergunta, tem o deputado Rosemberg, que é do PT, partido do governador. Então, não é fácil ficar respondendo essas perguntas. Mas eu te garanto que se depender da vontade deles, eu continuarei como presidente.
E sobre a reeleição o senhor tem um prazo para colocar a candidatura?
Estamos aí a quatro meses das eleições municipais. Não é hora de se tratar de reeleição, até porque a reeleição é no dia 1º de fevereiro de 2025, ainda está muito distante, apesar do tempo estar correndo muito rápido. O que eu tenho dito é que depois das eleições nós sentaremos novamente, ou em bloco ou individualmente ou por partido, e vamos ver o que que a maioria decide. A maioria é soberana. Então por enquanto é muito prematuro a gente falar. Depois das eleições o que a maioria dos deputados decidir, a gente vê o que é que faz.
O deputado Elmar Nascimento tem se aproximado das lideranças do PT na Bahia mirando apoio para chegar à presidência da Câmara dos Deputados. Essa aproximação pode ter algum reflexo no apoio do Governo do Estado à candidatura de sua esposa na eleição em Campo Formoso contra o irmão de Elmar?
Não, até porque a política nacional, vamos dizer assim, não vai deixar de tomar medida por causa de Campo Formoso.
Falo sobre o apoio do governador no município.
Campo Formoso pode ser importante pra mim, é minha base principal, é a cidade em que eu nasci, em que eu tenho minha família, mas a política nacional é muito maior. É natural que quem quer ser candidato, você tentar conversar com todos, fazer média com todos. Mas é claro que o PT, o próprio grupo não pode esquecer tão rápido, apesar de que na política tudo pode para alguns, mas ninguém pode esquecer as palavras que foram ditas, palavras duras que foram ditas, até porque está aí na imprensa, está nos vídeos, pelo deputado contra o presidente Lula, contra o próprio PT. Mas você conversar, normal, faz parte da democracia. Vamos ver como é que fica, mas não sou eu que tenho poder nenhum para dizer se isso vai acontecer ou não.
A gente tem ouvido aqui na Casa sobre uma espécie de recesso eleitoral. Como vai ficar a agenda de sessões e votações da Assembleia especialmente no segundo semestre, quando muitos deputados voltam as atenções para ajudar aliados no interior?
Não tem problema, se você fizer uma pesquisa ou se lembrar todos os anos que tem eleição é a mesma coisa. É natural que os deputados, obrigatoriamente pelo nosso sistema como funciona a política, têm de dar apoio aos seus pré-candidatos nas cidades que você foi votado já pensando na eleição de deputado daqui a dois anos. As viagens vão aumentar, que nunca param, mas no período eleitoral é natural que aumentem. Mas não vai ter prejuízo nenhum, isso eu posso garantir, porque todos os projetos aqui na Casa sempre foram aprovados e serão novamente. Pode atrasar uma semana, duas semanas, a gente marca dois dias para votar e aqui, você acompanha, quando tem acordo os projetos são votados com mais celeridade. Então eu não vejo problema nenhum para o que interessa que é que os projetos sejam aprovados.
A oposição tem batido muito na questão dos empréstimos, esse já é o sétimo, no valor de R$ 2 bilhões. O total já se aproxima de R$ 6 bilhões em um ano e meio. Como o senhor está vendo isso?
Olha, com naturalidade. Faz parte, a oposição tem de espernear. Porque a oposição também não pode ficar aplaudindo, né? Porque aí não seria oposição. Veja que de Wagner para Rui até hoje foram feitos 25 hospitais na Bahia. Novo HGE, novo Roberto Santos, Hospital Metropolitano, um dos maiores do Brasil, há poucos dias o maior hospital ortopédico do Brasil inteiro, administrado pela maior rede médica da América Latina, que é o Einstein, de São Paulo, uma referência em medicina. Hospital da Chapada, Hospital de Irecê, de Juazeiro, e mesmo assim a oposição bate. Então faz parte do papel da oposição bater. A questão dos empréstimos, se você fizer análise, veja que o Rio Grande do Sul há poucos anos não estava pagando salário, estou falando do Rio Grande do Sul, um estado rico, uma região diferenciada. A dívida do Rio Grande do Sul é de quase R$ 100 bilhões com o governo federal, Minas Gerais, que é o segundo estado mais importante do Brasil, se o governo federal não botar R$ 150 bilhões daqui a poucos meses o governador não paga o salário. Estou falando de estados ricos. São Paulo o que já tomou de empréstimo é mais do 100% da sua capacidade, já ultrapassou. Então, a Bahia, nós temos capacidade de endividamento, então faz parte, é normal. Todos os estados tomam empréstimo e é normal desde quando tem a capacidade de honrar, e a Bahia tem, então faz parte da administração de qualquer governador.
Já que citou o Rio Grande do Sul, o senhor lançou uma proposta para que cada deputado pudesse fazer uma contribuição. Como é que está essa vaquinha?
Nós já arrecadamos cento e poucos mil, vamos fechar agora no final do mês porque vai ser descontado do salário de cada deputado. Mas eu ainda não posso fechar a conta porque uns 26 deputados eu não tive a oportunidade de falar pessoalmente. Mas com todos aqueles que eu tive pessoalmente, todos não criaram obstáculo, até porque não tinha como criar obstáculo para você ajudar o seu semelhante numa hora tão difícil que os amigos do Rio Grande do Sul estão passando. A Assembleia de Carinho, que é presidida por minha esposa, Denise Menezes, claro que não tem recurso da Assembleia, tudo depende de doação, está comprando milhares de colchões para mandar pelos Correios com outras empresas que estão levando esses donativos para essas entidades que estão ajudando os nossos amigos lá do Rio Grande do Sul.
E para fechar, queria saber como está o andamento do Conselho de Ética?
Cabe ao presidente falar com os líderes, como foi falado em diversas reuniões com o líder Rosemberg pela bancada da maioria e o líder Alan Sanches que tem o dever de indicar os membros. É uma coisa nova, infelizmente, para a Assembleia. Nós nunca tivemos casos parecidos. Eu mesmo, se dependesse da minha opinião, o Congresso, que é o responsável por fazer as leis ou mudá-las já tinha mudado, porque você não pode, no intuito de querer proteger a voz do deputado, a posição do deputado, você blindar todo tipo de crime. É isso que está acontecendo no país. Veja que o [Domingos] Brazão, que estava ocupando o cargo de deputado federal, envolvido em um crime de repercussão mundial, que foi a morte da vereadora Marielle, e segundo a imprensa em tantos outros crimes no Rio de Janeiro, só foi preso porque o Supremo, que é a instância maior da Justiça do Brasil decretou a sua prisão. Decretou a prisão, logo depois a Câmara teve de avalizar e uma parcela grande dos deputados ainda queriam que ele fosse solto, o que é uma estupidez, um absurdo. Ainda bem que a maioria teve juízo e manteve preso. Ao contrário daqui da Bahia, que o Poder Judiciário, o Tribunal de Justiça não pode decretar a prisão, depende da Assembleia. E como é uma coisa nova para gente, está aí, vamos dizer assim, em passos lentos. Cabe a mim cobrar, porque o que eu sempre disse, não só aqui como diversas vezes no plenário, nós não podemos simplesmente achar que não houve nada. Agora, eu como presidente não tenho poder de obrigar os membros do Conselho de Ética fazer o seu trabalho. Cabe a mim estar cobrando todos os dias.
Política Livre