Foto: Divulgação/Arquivo
12 de março de 2025 | 13:17

Radar do Poder: O dilema kafkiano de Ivana Bastos, a tese de Nelson Leal, um cargo para Carlos Muniz e a ameaça do capitão

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Verdade provisória

“Em tempos de incerteza, até a verdade parece provisória”. A frase do escritor tcheco Franz Kafka resume bem a volatilidade dos últimos acontecimentos na Assembleia. Em menos de 24 horas, a atual presidente Ivana Bastas (PSD), tão cheia de dúvidas quanto de conselheiros, mudou de posição ao menos três vezes sobre o caminho a percorrer para ser confirmada no comando da Casa após o afastamento do colega Adolfo Menezes (PSD). E ninguém sabe ao certo ainda qual será a solução final.

Giro de 360º

Na segunda (10), Ivana apoiou um parecer da Procuradoria Jurídica da Casa, aprovado na reunião da Mesa Diretora, sustentando que a deputada poderia ficar na presidência em definitivo sem disputa, posição defendida antes por ela e por outros parlamentares. Na terça (11), após ouvir juristas próximos, comprou a ideia de que o certo seria fazer uma eleição, mesmo que “simbólica”, seja lá o que isso signifique. Ao final do mesmo dia, a tese da efetivação automática retomou força depois que a presidente consultou desembargadores e políticos, entre eles o senador Jaques Wagner (PT).

Torre de Babel

Por quase três horas, o tema foi debatido por Ivana com colegas em uma reunião na tarde de ontem, na sala da presidência. O encontro deveria contar apenas com as presenças da presidente e dos líderes, mas a sala ficou lotada de deputados dando as próprias opiniões. Parecia uma Torre de Babel, onde ninguém se entendia. Prevaleceu a tese de que a deputada do PSD precisa aguardar o arquivamento do processo contra Adolfo no STF antes da efetivação e de ser substituída na 1ª vice pela deputada Fátima Nunes (PT).

Tese aloprada

Ex-presidente da Assembleia, o deputado Nelson Leal (PP) disse, na reunião, que uma nova eleição para oficializar Ivana na presidência caracterizaria um segundo mandato consecutivo da parlamentar no comando da Casa. A tese virou motivo de piada. Um outro ponto, no entanto, é levado mais a sério: se Ivana for efetivada automaticamente, na condição de substituta imediata do titular, ela poderia, teoricamente, ficar por mais dois biênios sem infringir a jurisprudência do STF, situação semelhante à do presidente da Câmara de Salvador, vereador Carlos Muniz (PSDB).

Como uma nuvem

Já o entendimento sobre a ocupação da 1ª vice mudou. Na segunda (10), a Mesa Diretora havia aprovado, no mesmo parecer da Procuradoria Jurídica, que não havia necessidade de nova eleição, com a ascensão da suplente Fátima Nunes. Agora, vai ocorrer justamente o oposto, embora ninguém garanta que tudo não possa mudar novamente – é como uma nuvem, brincou o deputado Robinho (União). Foi justamente essa mudança que gerou a confusão sobre a presidência.

Altruísmo tardio

Durante a citada reunião no gabinete de Ivana, deputados chegaram a sondar se uma eventual renúncia de Adolfo à presidência da Assembleia poderia acelerar os trâmites internos para resolver o imbróglio legal. Mas o setor jurídico da Casa disse que não. O ‘altruísmo’ ajudaria se o pessedista, responsável pela  confusão ao tentar a sorte na roleta russa do STF quando insistiu na reeleição, tivesse aberto mão do cargo antes de o ministro Gilmar Mendes afastá-lo em definitivo. Como se trata do julgamento de uma reclamação sobre um tema com jurisprudência consolidada, o entendimento do Supremo é que essa decisão final pode ser monocrática.

Renovação da frota

O fato é que, na prática, Ivana já assumiu em definitivo a presidência. Ontem (11), ela comandou a primeira reunião com líderes partidários de todas as bancadas e blocos. Prometeu que fará um encontro do tipo por mês. A atitude agradou, pois Adolfo só costumava fazer isso com os “cabeças” do governo e da oposição. Na quinta (14), em outra reunião da Mesa Diretora, Ivana deve sinalizar que vai atender a outros pleitos dos colegas, incluindo a renovação da frota de veículos alugados para os parlamentares – o Corolla Cross, modelo atual, deve dar lugar a algum tipo de caminhonete ou SUV.

Diárias para assessores

Os deputados também querem que Ivana autorize a Assembleia a pagar diárias para assessores e motoristas durante as viagens de trabalho. Hoje, apenas os parlamentares têm direito ao valor de R$ 900 por dia. A ideia é que motoristas e assessores possam receber cerca de R$ 400 nessas situações, assumindo os próprios custos com hospedagem e alimentação, por exemplo. Além disso, a nova presidente tem planos de fazer uma renovação em quadros de comando do Legislativo, para dar uma “oxigenada”.

Cota familiar

O prefeito Bruno Reis (União) quer concluir até esta sexta (14) a reforma administrativa no segundo escalão. Carlos Muniz pretende indicar aliados para comandar dois órgãos: a Agência Reguladora e Fiscalizadora dos Serviços Públicos (Arsal) e a Coordenadoria de Defesa do Consumidor (Codecon). Para o primeiro, o nome mais forte é o do policial federal Anderson Muniz, irmão do edil tucano e que já foi, por um breve período, deputado estadual, em 2019.

Visita ao palácio

Quem também estaria cotado para a Arsal é o chefe da Ouvidoria Geral do Município (OGM), Jean Sacramento. De acordo com vereadores da base, ele se reuniu nesta terça (11) com Bruno Reis para tratar do futuro. A possibilidade de permanecer onde está é remota, uma vez que o cargo deve ser ocupado pelo ex-diretor da Codecon e suplente de vereador Zilton Netto (PDT), ligado ao deputado federal Leo Prates (PDT). Outra alternativa para Jean seria ocupar a chefia de gabinete da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Debandada tucana

Jean, que coordenou a campanha do PSDB à Câmara Municipal nas eleições de 2024 em Salvador, chegou a ser cotado para a sub da saúde, mas não vingou. Carlos Muniz garante que a decisão foi de Bruno Reis, mas o ouvidor, segundo pessoas próximas, acredita que o presidente da Câmara optou por indicar ao posto Edriene Teixeira, que foi nomeada. Ela é ligada ao vereador Maurício Trindade (PP), aliado de Muniz. O climão desgastou o ouvidor, que está de malas prontas para deixar o partido, levando junto suplentes e lideranças.

Acordo com os bispos

No Diário Oficial desta quarta (12), Bruno Reis deu andamento ao acordo firmado com o Republicanos de entregar ao partido, com “porteira fechada”, as secretarias de Infraestrutura (Seinfra) e Manutenção (Seman), por meio da nomeação de diretores do alto escalão. Na Diretoria de Manutenção e Infraestrutura, a mais importante da segunda pasta, saiu Luciano Sandes e entrou José Monteiro, da cota da legenda liderada pelo deputado federal Márcio Marinho e pelo titular da Seinfra, o vereador licenciado Luiz Carlos. Monteiro já passou por diversos cargos nas duas secretarias.

Secretaria fortalecida

Nesta quinta-feira (13), Bruno Reis deve concluir as conversas para colocar sob o guarda-chuva da Seinfra a reforma e construção de quadras e campos. Hoje, a responsabilidade é da Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), que, apesar de ser subordinada à secretaria de Luiz Carlos, atua de forma independente. Vale lembrar que o Republicanos tentou assumir o controle da Sucop, mas o atual chefe do órgão, Orlando Castro, é tido como intocável – ele foi indicado pelo ex-ministro e então aliado Geddel Vieira Lima (MDB) e se tornou próximo do prefeito.

Dedicação exclusiva

Luciano Sandes, que deixou a diretoria de Manutenção e Infraestrutura da Seman, terá agora dedicação exclusiva – antes ele acumulava as duas funções – ao cargo de secretário de Articulação Comunitária e Prefeituras-Bairro. A pasta, que já existia na prática, foi formalizada por meio de lei aprovada no final do ano passado pelos vereadores, e passa pelos últimos trâmites para ter equipe e orçamento próprio para atuar de forma executiva. A sub de Luciano será Cláudia Cavalcanti – os dois trabalham juntos desde a gestão de ACM Neto (União).

Saída comemorada

A mudança de Alexandre Tinôco da Secretaria de Ordem Pública (Semop) para a Secretaria de Gestão (Semge) foi recebida com certo alívio por parte da classe política. Reservadamente, vereadores relataram à coluna que enfrentavam dificuldade de acesso à Semop. A insatisfação era tamanha que os comentários sobre a saída de Tinôco beiravam a uma espécie de comemoração. Agora na Semge, o desafio dele é lidar com os servidores públicos, um grupo que também sabe fazer pressão quando necessário.

Anúncio de rompimento

Quem está insatisfeito com Bruno Reis é o deputado federal Capitão Alden (PL). Nesta terça (11), o parlamentar recebeu indicações de que Maurício Lima, amigo pessoal de ACM Neto, será mantido na Diretoria de Segurança Urbana e Prevenção à Violência. Ou seja, a indicação feita por Alden para que o coronel Humberto Sturaro assumisse a vaga minguou. O deputado já teria, inclusive, preparado o anúncio do rompimento. Agentes da Guarda Civil Municipal também esperavam a mudança.

Cadê o compliance?

O superintendente de um dos principais shoppings de Salvador tem se exaltado em reuniões com lojistas, principalmente, “por coincidência”, quando são mulheres. A mensagem que os superiores precisam passar ao superintendente é de que, além de educação, ele precisa ter cuidado porque shopping vive de moda e se a moda Maria da Penha pega, não sobrarão “Josés” nem muito menos “Luízes” para contar a história.

Pitacos

* Desde o Carnaval, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) já falou ao menos duas vezes com a imprensa sobre convidar Bruno Reis para uma audiência, com o objetivo de tratar dos investimentos do Estado na capital.

* Porém, como contou Bruno Reis à coluna na segunda, até agora nada foi agendado. “Eu solicitei (o encontro) em fevereiro de 2023, e estou no aguardo. Converso com todo mundo, principalmente sobre os interesses da cidade”.

* Líder do governo na Assembleia, Rosemberg Pinto (PT) aconselhou o prefeito da capital a parar de criticar Jerônimo se quer mesmo a audiência. “Parece até que o prefeito é candidato a governador”, brincou.

* Carlos Muniz retorna ao trabalho na próxima semana. Ele andou ausente por conta de uma cirurgia de hérnia abdominal, mas marcou presença na posse do pupilo e agora ex-chefe de gabinete Diego Brito para o comando da Transalvador, na segunda (10).

* Muniz revelou à coluna que Diego não queria assumir o cargo, por ser reservado e preferir o bastidor, mas foi convencido. “E toda missão que ele aceita ele cumpre com louvor. Não será diferente na Transalvador”.

* Durante os anúncios feitos na segunda (10) por Bruno Reis da reforma administrativa, o vereador Paulo Magalhães Júnior (União) e o assessor especial do prefeito Igor Dominguez (DC) demonstraram a maior afinidade.

* Resta saber se o clima entre os dois vai continuar assim à medida em que a eleição de 2026 se aproxima. É que eles serão candidatos a deputado estadual e duelarão por votos em Salvador.

* O presidente do PDT da Bahia, deputado Félix Mendonça Júnior, não ficou tão animado com a nomeação da irmã, Andréa Mendonça, na nova Secretaria do Mar. O parlamentar sabe que a tal pasta é, na verdade, uma assessoria da Secretaria de Governo.

* Na terça (11), no saguão da Assembleia, o deputado Diego Castro (PL) mostrou o maior entrosamento com sindicalistas que pleiteavam melhorias para os servidores públicos. Mas ele se recusou a tirar fotos com a turma. Todo mundo usava vermelho.

* Esposa de Adolfo Menezes, Denise Menezes deixou o comando do projeto social Assembleia com Carinho, cargo que ocupava de forma voluntária. Ivana Bastos ainda deve escolher uma outra pessoa para a função.

* Mal assumiu o cargo de secretário de Mobilidade de Salvador, Pablo Souza já embarcou para a capital dos EUA com o objetivo de participar de um fórum organizado pelo Banco Mundial. A Prefeitura garante que quem pagou a consta foi o banco.

* No primeiro mandato, o prefeito de Encruzilhada, Dr. Pedrinho (PCdoB), espalhou outdoors pela cidade com um balanço das contas municipais. A publicidade tem, ainda, um QR Code que direciona o cidadão à página da Prefeitura TCM. Ótimo exemplo!

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