Ernesto Britto Ribeiro

Turismo e Economia criativa

Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.

A produção local é a bola da vez no turismo baiano

Um dos grandes problemas do nosso turismo é que o visitante ainda gasta pouco dinheiro no destino. Essa é uma característica marcante do turista motivado pelo sol e pela praia, que chega de férias, muitas vezes acompanhado da família e que precisa fazer suas contas, a todo o momento, para que a viagem caiba no seu bolso. Nesse aspecto, o turista mais desejado pelos destinos turísticos são os que viajam para fazer negócios e participar de congressos e eventos técnicos, pois abrem mais a carteira do que quando em férias.

Para minimizar esse problema e ainda para democratizar os ganhos com o turismo, as instituições de fomento começaram a pensar em provocar o consumo turístico de variados bens e serviços, como artesanato, manifestações culturais, produtos agroindustriais, joias, adereços e tantos outros. Para esses produtos que podem gerar interesse no visitante e que movimentam a economia local, convencionou-se chamar de produção associada ao turismo. O entendimento geral é que a produção associada ao turismo é toda produção agroindustrial, agropecuária, artesanal, cultural, gastronômica e outras manifestações produtivas que tenham atributos naturais e culturais de uma determinada região, capazes de agregar valor ao produto turístico e enriquecer a estada do turista.

No desejo de desenvolver a produção associada ao turismo, o Ministério do Turismo chegou a publicar um manual para orientar os interessados nesse sentido. Assim, a produção associada tornou-se a bola da vez para o desenvolvimento de um turismo mais inclusivo e que promova de forma mais efetiva a movimentação da economia local.

Aqui na Bahia, nós produzimos muitas coisas interessantes para o consumo turístico, não somente pelo próprio visitante, mas também pelas empresas do setor. Ou seja, tanto os turistas podem comprar mais produtos e serviços locais, como também os hotéis, pousadas e restaurantes podem focalizar seu consumo na produção local, fazendo girar a roda da economia.

A Costa do Dendê, por exemplo, que fica bem perto de Salvador e envolve desde Valença até Maraú, é uma região muito rica do ponto de vista da variedade de sua produção. Lá se produz dendê, cacau, palmito, cravo, pimenta do reino, mandioca, vassouras de piaçava, flores tropicais, refrescos de guaraná e de açaí, sabonetes, biojoias, seringa, tilápia e tantos outros produtos que podem ser, e já estão sendo, associados ao turismo. A produção cultural da região passa pelos mais diversos grupos de manifestações artísticas e históricas, como o Zambiapunga e a Marujada. Já a gastronomia regional merece um capítulo a parte. Só para citar dois ícones dessa riqueza, a moqueca de camarão com banana e a tainha defumada do Jatimane são especialidades regionais que podem tornar uma viagem inesquecível. O desafio, não somente na Costa do Dendê, mas em toda a Bahia, é fazer essa produção atingir o padrão de qualidade exigido pelo setor turístico e promover o encontro comercial entre quem produz e quem pode comprar.

Na Costa do Cacau, região de Itacaré, Ilhéus, Itabuna e Canavieiras, a produção associada ao turismo passa pelos chocolates caseiros, doces de frutas e os passeios nas fazendas produtivas de cacau. Na região dos Lagos e Cânions do São Francisco, especialmente em Paulo Afonso, a produção é de artesanato, manifestações culturais e gastronomia. Falando nisso, em Paulo Afonso come-se uma tilápia ao molho de rapadura que é de amolecer até Lampião. Aliás, deveria ser obrigatório visitar o Museu Casa de Maria Bonita, na zona rural de Paulo Afonso. O lugar é muito bonito e as fotos do cangaço, desde os tempos áureos daquela bandidagem até as cabeças expostas como troféus, são uma verdadeira aula sobre aquele momento da história do Brasil. Mas, aqui pra nós, uma das melhores produções associadas ao turismo que a Bahia possui são os cafés da Chapada Diamantina.

Aqui em Salvador também temos diversas possibilidades para associar a produção local ao fluxo turístico. Acredito que a produção associada ao turismo mais elementar sejam os souvenirs, que todo turista compra para se lembrar dos lugares por onde passou. Essa produção em Salvador é contaminada por produtos que vêm de outros estados e são expostos no Mercado Modelo, mas nem tudo está perdido. A produção local aqui pode ser evidenciada nos colares e brincos de temas africanos feitos no Curuzu, nas artes plásticas encontradas nos ateliês do Santo Antônio Além do Carmo e nos instrumentos musicais vendidos no Pelourinho, entre tantas outras possibilidades. Nossa cidade possui uma gastronomia típica e internacional que enriquece a estada de qualquer visitante, assim como nossas milhares de manifestações culturais. O carnaval é a mais visível delas, mas a Lavagem do Bonfim e a Festa de Yemanjá são a mais pura cara da Bahia.

Entendo que Salvador tem um papel mais do que fundamental no desenvolvimento da produção associada ao turismo da Bahia, que é o de possibilitar que o visitante conheça aqui mesmo a produção de todo o estado. Para isso temos dois centros de compras que representam a Bahia de uma só vez. Um deles é o Ceasa do Rio Vermelho. Ali a produção de quase todo o estado está presente nos doces, geleias, farinhas, beijus e até nas frutas que encantam os visitantes pelas cores, texturas e, sobretudo, pelos sabores que oferecem. Outro local de compras para turistas e baianos é a Feira de São Joaquim. Nela são encontradas a produção agrícola, agroindustrial, de artefatos religiosos, cerâmicas, doces e ingredientes para a culinária baiana. Tudo junto e ao mesmo tempo. Os dois locais estão atualmente em reforma, o que atrapalha um pouco a visita, mas não a impede. Talvez falte ainda em Salvador um centro específico para o artesanato, com representações de todo o estado, de fácil acesso, para que o visitante e até mesmo o morador local possa comprar cerâmicas, santos, tapetes, carrancas, cestos etc.

Com tanta produção interessante para enriquecer a visita de nossos turistas e movimentar a economia baiana, o dever de casa é garantir padrão de qualidade aos produtos e serviços e, depois, facilitar o aceso do visitante a essa rica produção local.

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