23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Os números não são animadores. Um em cada quatro brasileiros de 50 anos ou mais não sabe ler e escrever. Realidade cruel de um país que deveria apostar sistematicamente na educação como alternativa para modificar os indicadores presentes e as perspectivas futuras.
Acreditamos no ensino fundamental como a base das transformações mas como admitir que um adulto analfabeto possa acompanhar o desenvolvimento escolar dos filhos? Ou mesmo lhes oferecer uma vida melhor se a prática mostra que para aumentar a renda é indispensável garantir formação regular? A educação é um direito fundamental para o exercício pleno da cidadania. A ausência dela torna o sujeito muito menos exigente, sem sintonia com o que acontece à sua volta e sem capacidade integral de discernir pelo melhor caminho a seguir.
De todos os estados brasileiros a Bahia é o que detém a maior população de analfabetos em números absolutos. Segundo o Censo 2010 temos em nosso território mais de 1 milhão e 729 mil cidadãos que não sabem ler e escrever, ou seja, 16,6% do total de habitantes; já entre maiores de 60 anos o índice alcança absurdos 44% da população. São pessoas que deixaram cedo a escola para priorizar a sobrevivência através do trabalho.
O que nos incomoda é a incipiência de programas que despontam como salvadores da pátria e que mesmo com resultados baixos são propagados aos quatro ventos como infalíveis.
Nos incomoda ver na propaganda do governo da Bahia a maquiagem para enfeitar o Topa (Todos pela Educação). Desde o primeiro ano de gestão, o estado anuncia através do bem produzido filme em HD que tem um amplo programa de alfabetização de adultos, alcançando a marca de 1 milhão e 300 mil alfabetizados em sete anos, segundo disse o governador Wagner essa semana na Assembleia Legislativa, em mensagem preparada por sua assessoria.
Porém, o número de 1 milhão e 300 mil alunos alfabetizados vem sendo anunciado pelo governo desde o segundo ano de gestão. Na mensagem lida pelo governador consta ainda a informação que se matricularam no ano passado 130 mil alunos. Mesmo se levarmos em consideração que a propaganda tenha sido equivocada, os números não batem, porque a média anual de alunos alfabetizados em sete anos seria de cerca de 200 mil alunos e foram matriculados apenas 130 mil em 2013. São, portanto, números que não fecham.
Que estatística é essa que não considera uma tradicional evasão dos adultos na escola que beira os 90%? Qual é a mágica utilizada para que professores leigos, em espaços inadequados, consigam garantir uma frequência fantástica se nem mesmo em ambientes com infraestrutura e professores que recebem capacitação continuada isso acontece? Como retirar da cartola tantos números intrigantes e facilmente contestáveis?
A arma da propaganda parece ser ainda o melhor negócio para endossar o balanço de duas gestões consecutivas que não deram muita trela à educação haja vista os mais de 200 dias de greve e paralisações dos professores da rede estadual e da insatisfação generalizada dos docentes das universidades estaduais.
Mas não. Na página 14 da mensagem enviada à Assembleia está escrito que o orçamento das quatro universidades estaduais passou de R$ 460 milhões em 2007 para R$ 903 milhões em 2013, um salto de 96% em sete anos. No entanto, os professores se insurgem à toa? Estão errados em reclamar das condições salariais ou quando exigem atenção direcionada para suas carreiras? Se eles são a mola mestra do ensino porque o repasse não lhes chega para aliviar a distorção salarial?
A propaganda continua aí. Os analfabetos adultos também. Enfrentando as topadas da vida e aguardando por um futuro melhor.