23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Às vezes tenho com a impressão de que as oposições tiraram a sorte grande quando perderam a eleição presidencial do ano passado. Fico imaginando o que teria acontecido se a minúscula margem de votos que separou no segundo turno Dilma e Aécio tivesse pendido para o outro lado?
Como governar um país politicamente dividido em meio a uma crise econômica? A situação atual mostra que esta é uma tarefa, no mínimo, dificílima. Ainda que eventualmente houvesse uma perspectiva positiva para o país, uma crença no futuro melhor do que aquela que temos hoje, isso não seria suficiente para alterar a realidade material da economia e a oposição se veria a frente de um forte programa de ajuste ao mesmo tempo em que enfrentaria uma violenta oposição dos tais movimentos sociais que, parece, estão anestesiados ou foram cooptados, o que preferirem.
Estamos no segundo ano de recessão econômica e caminhando a passos largos para o terceiro. Só há perspectiva de melhoria da situação do país para o final de 2016. O desemprego cresce, a renda diminui e a inflação corrói o poder de compra dos salários. Isso é filme antigo, todos sabem como ele se desenrola e onde vai dar. O país mingou, empobreceu.
A tal da zelites pouco sofre com a crise. Ela tem outras fontes de renda que não o salário e consegue se proteger contra a corrosão do seu poder aquisitivo por meio de aplicações financeiras. A conta da criatividade da nova matriz econômica é paga pelos mais pobres que não conseguem se proteger da inflação, que vêem sobrar mês no final de seu salário, que são os primeiros a serem demitidos com a redução da atividade econômica. No final das contas, são os assalariados que pagam a conta do ajuste e que financiam os ganhos das aplicações financeiras e o próprio governo pela via do chamado imposto inflacionário.
No atual cenário, parece que a saída da crise somente virá com o seu aprofundamento. Quanto maior for o aperto econômico, maior desgaste do governo e do seu partido e menor o apoio que ele terá da população, abrindo espaço para uma nova composição de forças e para um novo projeto político para o país, uma vez que o projeto atual já esgotou a sua capacidade de resposta às demandas da população.
Nesse sentido, perder a eleição significou, para as oposições, a possibilidade de se reagrupar diante da perspectiva de um cenário político mais favorável, assim como ficou para o partido do governo a responsabilidade de embalar a crise que ele mesmo pariu e a conta de todos os seus custos associados. A grande questão agora é saber se as oposições serão capazes de apresentar uma proposta que una o país e que nos recoloque no caminho do crescimento e por quanto tempo mais a atual situação perdurará.