24 novembro 2024
De 2013 até agora, o cantor Tico Santa Cruz, 43, conta ter angariado mais problemas do que amigos. Adepto dos debates políticos e radicalmente contra o bolsonarismo e quem o apoia, o artista acha importante tocar nas feridas da sociedade mesmo que isso acarrete problemas para ele e sua família.
Entre 2015 e 2017, Santa Cruz sofreu ameaças por causa de seu posicionamento político mais à esquerda e por críticas ao ex-juiz Sergio Moro, até então responsável por julgar processos da Lava Jato. O músico fez uma carta aberta a Moro após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E as ameaças voltaram a acontecer mais recentemente após dclarações de Santa Cruz contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e à forma como ele lida com a pandemia da Covid-19. Santa Cruz se declara favorável ao impeachment do mandatário, o que irrita seus apoiadores.
“Minha esposa e meus filhos com certeza não gostam de ver o pai e marido sendo atacado nas redes sociais. Isso repercute nas amizades, na família. Prefeririam que eu ficasse em silêncio. Mas essa é minha natureza”, diz o vocalista do Detonautas Rock Clube, que lança um disco de inéditas 23 de julho.
Formado em ciências sociais pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele diz que sempre foi envolvido com política e até prepara um livro. “Será sobre meu posicionamento político, que não é de agora, e tudo que isso influenciou, desde minha família até banda, o trabalho, a censura financeira.”
Em entrevista ao F5, o músico fala sobre a depressão, que diz ter começado a tratar, os cuidados que tem para sair na rua em tempos de polarização e sobre as amizades que perdeu por suas declarações, como Roger Moreira e Lobão, nomes que ele tinha como referência antes das eleições de 2018.
“Eu espero que um dia o Lobão se desculpe publicamente pelo que fez, se tiver humildade para isso. O Roger [do Ultraje a Rigor] é um grande músico, mas está adoecido pelo bolsonarismo”, diz o músico se referindo a críticas de Lobão ao Detonautas e a desentendimentos com Roger.
Leonardo Volpato / Folha de São Paulo