24 novembro 2024
Chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o encarregado de negócios Douglas Koneff defendeu o sistema eleitoral brasileiro em reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (21), em São Paulo.
No encontro com o petista, de acordo com relatos, Koneff disse que o governo americano tem grande respeito pelas autoridades eleitorais do país e pela forma como o pleito é organizado. A administração de Joe Biden tem enviado sinais de apoio ao trabalho do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) diante de ataques de Jair Bolsonaro (PL) às urnas eletrônicas e a ministros da corte.
O principal gesto de Washington se deu em julho, quando a embaixada divulgou uma nota afirmando que eleições brasileiras são um modelo para o mundo e que os americanos confiam na força das instituições do país.
O comunicado foi publicado pouco depois de Bolsonaro realizar uma apresentação no Palácio da Alvorada para chefes de missões diplomáticas em Brasília, na qual repetiu mentiras e teorias da conspiração para desacreditar o sistema eleitoral.
Em outro recado contra a escalada golpista de Bolsonaro, o secretário de Defesa Lloyd Austin afirmou ao ministro da Defesa brasileiro, general Paulo Sérgio Nogueira, que o governo Biden espera que o Brasil mantenha a tradição de realizar eleições justas e transparentes.
A reunião de Koneff com Lula vinha sendo negociada há semanas. Também participaram o ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro do petista para a política externa, e o senador Jaques Wagner (PT). Antes, Lula teve duas reuniões com diplomatas estrangeiros: uma com Rússia, Índia e África do Sul e outra com França, Alemanha, Suíça, Polônia e Holanda.
O chefe da embaixada americana, por sua vez, já se encontrou com dois outros presidenciáveis: Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Koneff é encarregado de negócios e comanda a missão porque no momento não há embaixador americano no país. Procurado, o órgão disse que não faz comentários sobre reuniões privadas.
De acordo com pessoas com conhecimento dos temas discutidos, a expectativa dos americanos era ouvir Lula sobre diversos assuntos, entre eles clima, a Guerra da Ucrânia e a linha que um eventual governo adotaria no relacionamento com a China —adversário global de Washington.
Após a reunião, interlocutores disseram que os dois lados avaliaram que haverá espaço, numa eventual administração Lula, para aprofundar a cooperação bilateral em temas como a preservação do meio ambiente e o combate à pobreza na América Latina. Não houve cobranças específicas das duas partes.
No primeiro tema, o petista tenta marcar diferenças em relação a Bolsonaro, acusado de promover uma agenda antiambiental e de incentivar o aumento do desmatamento na Amazônia. O foco da campanha do PT na área foi reforçado em 12 de setembro, com o anúncio de apoio da ex-ministra Marina Silva. O programa de governo se compromete com o desmatamento líquido zero.
O posicionamento de Lula em relação ao conflito na Ucrânia, por sua vez, gera apreensão entre países ocidentais que apoiam a resistência liderada por Volodimir Zelenski. Em março, uma entrevista de Lula à revista Time causou mal-estar, depois de o petista dizer que o líder ucraniano era tão responsável pela situação quanto o russo Vladimir Putin —e que EUA e União Europeia estimularam o conflito.
A guerra foi um assunto amplamente tratado nas reuniões anteriores de Lula com embaixadores.
As relações entre o governo Biden e o Brasil de Bolsonaro têm um histórico de atritos. O brasileiro é admirador do ex-presidente Donald Trump e foi um dos últimos a felicitar Biden pela vitória em 2020. No primeiro ano da relação, os dois países se engajaram em negociações sobre ambiente, ponto de forte interesse do democrata, mas as conversas esfriaram diante da persistência de números negativos de desmatamento na Amazônia.
Em junho deste ano, na Cúpula das Américas, em Los Angeles, foi realizada a primeira e única reunião bilateral dos dois presidentes.
Ricardo Della Coletta/Julia Chaib/Catia Seabra/Folhapress