23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Da janela do meu hotel observo o movimento nas barracas que se espalham no calçadão em frente. Todo dia é a mesma rotina. À medida que se aproxima o por do sol o movimento vai aumentado. Aos poucos, cada barraca vai sendo cuidadosamente desempacotada e arrumada. Não da para contar quantas são…centenas com certeza! A noite avança lentamente e os turistas vão chegando aos montes, e logo a feira de artesanato da beira mar fervilha de gente.
Apesar do movimento tenho a impressão de que os turistas mais passeiam do que compram. Pode ser a crise com seus orçamentos limitados, mas fico com a impressão de que a própria feira não ajuda. Resolvo descer e me juntar à multidão. Vou passeando pelos corredores e minha impressão vai tomando forma, ficando cada vez mais clara. Apesar do forte apelo turístico não há nada de interessante na feira, alem do passeio ou da distração em si mesma, o estar ali, ver as pessoas e o movimento.
Não me entendam mal. Essa é uma “atividade obrigatória” para qualquer pessoa que visite a cidade. Entretanto, após mais de uma hora zigzagueando pelas barracas não encontrei um mísero objeto que atraísse minha atenção. A razão é simples: a feira de artesanato é absolutamente igual a toda e qualquer feira de artesanato que existe no país. Não ha nada de diferente. Nem os produtos ditos locais são diferentes. Eles apenas recebem o nome da cidade, mas podem ser encontrados em qualquer canto do Brasil.
O mix de produtos é padrão: camisas de malhas com dizeres engraçados ou parodias de marcas famosas; artesanato local produzido aos milhões na China; castanhas e doces que podem ser encontrados na prateleiras de qualquer supermercado meia boca do país; as mesmas bijuterias de qualquer lugar; os mesmo bonecos de lampião, da Maria bonita e da namoradeira na janela….Nada, nada genuinamente local, nada tem um design próprio, nada incorpora a cor ou o sabor característico da região. Nada que grite ao turista – gaste seu dinheiro aqui, gaste seu dinheiro!!!!!! Você pode até ficar tentado a comprar uns imãs de geladeira, uns panos de prato, alguns espelhinhos e uma ou outra miçanga. Você poderá eventualmente ser enrolado por um artista local que usa um monte de clichês e chavões para tentar mostrar que existe algum tipo de arte ou craft naquilo que ele faz. Nada de qualidade. Tudo barato…
Vinte e duas horas. No mesmo ritmo lento do início da noite as barracas vão sendo fechadas, os produtos guardamos, os turistas vão se dispersando. Do alto, é fácil perceber a transformação, as luzes vão diminuindo, o plástico substitui as cores…Amanhã a feira renascerá. As mesmas barracas, os mesmos produtos e até os turistas serão os mesmos. Amanha tudo será igual a hoje. As pessoas, os produtos, as ideias, os turistas e a pobreza….tudo do mesmo jeito.