Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Existe futuro para a Petrobrás?

Não restam dúvidas de que a Petrobrás, pelo seu tamanho e história, é um dos mais importantes patrimônios de nosso país. Sendo o Estado brasileiro o seu acionista majoritário, faz todo o sentido de que o cerne de sua estratégia seja formado por ações voltadas para a maximização do bem estar da sociedade brasileira e não apenas visando o benefício dos seus acionistas que compraram suas ações na bolsa de valores, ainda que estas duas questões não sejam excludentes. Isso quer dizer que decisões de alocação de recursos podem e devem ser feitas de modo a conciliar o interesse econômico com a dimensão social de sua ação. Entretanto, sendo um patrimônio do Estado brasileiro ele precisa ser bem gerido e protegido para que os benefícios sejam estendidos no tempo e no espaço, de forma que todo país usufrua de sua ação e que seus resultados alcancem as gerações atuais e futuras.

Assim, ainda que o debate atual sobre Petrobrás esteja capturado pelas intermináveis notícias de escândalos e desmandos que foram cometidos pela cleptocracia instalada no poder, impõe-se uma séria reflexão sobre o futuro da empresa, sua estratégia, sua estrutura de governança (que não se resolve com uma mais uma diretoria de controle) e a relação que o governo (atual e futuros) estabelece com a empresa. Precisamos de uma discussão honesta, profunda e que seja blindada, na medida do possível, dos discursos eleitorais e dos interesses corporativos.

Os sinais de que o futuro da empresa está ameaçado nos chegam das mais diversas direções. Não me refiro aos cinco escritórios de advocacia americanos que estão propondo ações contra a empresa, mas a questões muito mais práticas relacionadas à gestão do negócio da companhia. É certo que o planejamento não é uma ciência exata, e que ajustes, maiores ou menores, sejam sempre necessários, mas como explicar que o custo de implantação da Refinaria Abreu e Lima (PE) seja multiplicado por 12 (em dólares) e que as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) tenham ficado tão caras e descontroladas ao ponto de já se admitir que sua operação não será economicamente viável? Nada disso se explica apenas pelo sobrepreço de 3% para partidos políticos. Será que a incompetência e o descontrole atingiram níveis nuncanatesvistosnahistóriadestepaiz a ponto de comprometer a competência e a capacidade de gestão da empresa?

Por outro lado, todos os sinais que nos chegam dos mercados externos indicam uma mudança radical no lugar e na importância dos combustíveis fosseis em futuro próximo que impõem uma reflexão sobre como isso afetará a empresa e o seu plano de investimentos. Uma mudança significativa na estrutura do mercado de óleo está em curso com os Estados Unidos passando da condição de maior importador do mundo para exportador. Esse movimento afetará de forma permanente a oferta e os preços do produto no mercado internacional.

No mês passado, os EUA e a China assinaram um acordo onde se comprometeram a cortar as emissões de gases poluentes em 28% até 2025. Nesse mesmo encontro a China anunciou que até 2030, 20% de sua matriz energética será composta por fontes limpas. Como isso afeta a Petrobrás que tem apostado quase todas as suas fichas em um negócio que está fadado a extinção e na exploração de um produto cujo preço nos próximos anos será mais baixo do que o custo de exploração? Será que o sucesso da empresa se explica por ter o monopólio de um produto, até agora, muito cobiçado e necessário? Há algo de muito errado nisso tudo. Assim, é licito perguntar: existe futuro para a Petrobrás?

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