Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Nosso passado comum

Algum tempo atrás, enquanto esperava uma equipe de alunos terminarem os preparativos para a apresentação de um seminário, pedi ao restante da turma que escrevesse em um pedaço de papel o nome de três grandes vultos da história do Brasil. Três personagens importantes na história do nosso país. Nada demais, bastava citar, não havia necessidade de justificar, de contextualizar ou qualquer coisa do gênero. Minha intenção era simplesmente conhecer as referências históricas dos alunos.

Logo percebi certo desconforto e surgiram alguns pedidos de esclarecimento sobre a pergunta. Respondi dizendo que poderia ser qualquer nome que fosse importante para o Brasil, sem restrição de data. Não entrei em muitos detalhes para não induzir a resposta em um personagem ou um período específico qualquer.

Cumprida a tarefa, em mais tempo do que originariamente supus necessário, qual não foi a minha surpresa quando comecei a apurar o resultado. O mais longe no tempo que os alunos chegaram nas suas citações foi Getúlio Vargas, com uma referência de passagem à Juscelino. Os demais ficaram em Jango, Dilma, Lula, alguns artistas como Tom Jobim e Zumbi. Se você que me lê esperava algo do tipo Tiradentes, Joaquim Nabuco, José Bonifácio, Rondon, Rio Branco, Dom Pedro (I ou II), esqueça.

É óbvio que não pretendo generalizar resultados a partir de uma tarefa tão trivial, mas ela é eloquente o suficiente para, ao mesmo, provocar alguma reflexão. Considero-a ilustrativa de uma situação bastante comum.
A dificuldade de entender o pedido e de executá-lo não perece estar relacionada ao grande número de opções (na cabeça dos alunos), mas à sua falta. Outras personalidades históricas não são indicadas porque os alunos simplesmente não as conhecem ou não as associam a valores sociais. Parece que esses personagens desapareceram da nossa memória nacional. Ou melhor, tenho a impressão de que eles foram deliberadamente apagados, esquecidos.

É curioso observar que quando olhamos para os nominados, percebemos que quase todos podem ser associados, de uma forma ou de outra, ao campo retórico que acompanha o governo de plantão. Fico com a impressão de que este é um dos aspectos da guerra cultural (como mencionada na resolução da executiva do PT da semana passada) desencadeada na busca por hegemonia política na sociedade. Os vultos históricos esquecidos foram todos associados aos governos militares ou são considerados, simplesmente, produtos ideológicos dazelites. Do passado só existe lembrança de opressão e escravidão. Não havendo referências históricas a valores ou ideais sociais comuns, fica mais fácil tentar refundar a nação, já que não há nada de importante nahistóriadestepaís.

Não qual a importância que a disputa cultural tem na agenda das oposições, mas se esta guerra pelo nosso passado comum não for disputada o futuro será muito mais dicífil.

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