Eduardo Salles

Setor Produtivo

Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.

O cacau pode voltar a ser protagonista

Uma queda na produção mundial e um mercado internacional em expansão pode ser a grande oportunidade para a cacauicultura nacional, em especial a baiana, ganhar espaço e a cultura voltar a ser protagonista na economia do Estado, gerando emprego e investimentos nas regiões baixo sul, sul, extremo sul e a nova fronteira do oeste da Bahia.

Em meados de abril desse ano, o cacau era a commodity agrícola que mais valorizou em 2024, com 191% de crescimento. No primeiro quadrimestre o valor da tonelada saiu de 4.200 dólares para 12.260 dólares, segundo dados do CBOT Chicago. O preço estabilizou em torno de R$ 1.000,00 a arroba.

A causa da diminuição da oferta no mercado internacional, conforme relatório publicado em março pela ICCO (Organização Internacional do Cacau), está atrelada à crise agrícola na Costa do Marfim e em Gana, países responsáveis por 54% da produção mundial.

As mudanças climáticas e uma praga denominada vagem negra reduziram a produção de cacau em 20% em Gana e 11% na Costa do Marfim. O cenário, conforme o professor doutor em pós-graduação da Harven Agribusiness School, José Carlos de Lima Júnior, essa dificuldade dos países africanos deve permanecer nos próximos anos, o que pode permitir ao cacau brasileiro a abertura de novos mercados internacionais.

O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo, atrás de Costa do Marfim, Gana, Equador, Camarões e Nigéria. Por aqui o sistema de produção cabruca, famoso por ajudar a preservar a Mata Atlântica.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2023 foram colhidas 290 mil toneladas de cacau. O Pará é o maior produtor, com 152 mil toneladas, e a Bahia fica em segundo lugar, com pouco mais de 400 mil hectares plantados e 123 mil toneladas produzidas.

O cacau produzido no sul, baixo sul e extremo sul da Bahia possui áreas com alta produtividade porque é empregada tecnologia de ponta. Neste locais, com sistema de produção que protege a Mata Atlântica, acredito que uma das nossas lutas precisa ser conseguir preços melhores ao produto.

A verticalização da cadeia produtiva finalmente entrou na agenda dos produtores, empreendedores e do poder público. Nos últimos anos conquistamos prêmios mundiais por produção de amêndoas de qualidade. Tenho muito orgulho de ter participado efetivamente deste trabalho quando estive à frente da Secretaria Estadual de Agricultura. Naquela época iniciamos com apenas cinco marcas de chocolate gourmet e hoje já passamos de uma centena.

Tenho um projeto de lei tramitando na Assembleia Legislativa da Bahia para instituir a política pública de produção do cacau de qualidade. O texto já passou pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e pela Comissão de Agricultura. Acredito que muito em breve votaremos no plenário.

Mas a oportunidade atualmente não se resume apenas ao sul da Bahia. No oeste, um dos maiores celeiros agrícolas do mundo, tive a oportunidade de conhecer o início da produção e a cultura avança para ocupar cerca de 400 hectares a pleno sol. E novas áreas devem receber o plantio com tecnologia e alta produtividade.

A CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) estima que se a produção no oeste da Bahia prosperar, o Brasil pode chegar a 400 mil toneladas em 2030, o que nos impulsionaria ao posto de terceiro maior produtor mundial.

Mas não podemos esperar que apenas a iniciativa privada seja protagonista. O setor público precisa apresentar soluções. E uma delas é o fortalecimento da CEPLAC, que está há décadas sem concurso público. Esse sucateamento deixa produtores órfãos, principalmente o pequeno. E não adianta achar que vamos aumentar a produção sem assistência técnica e novas tecnologias.

Outros fatores importantes são combater a monilíase, praga que pode causar enormes prejuízos à cultura e já entrou no Brasil, a falta de mão de obra nas regiões tradicionais, a valorização no preço do cacau cabruca, que permite a sustentabilidade da Mata Atlântica, e a segurança para o homem no campo.

Minha missão na Assembleia Legislativa da Bahia é ajudar na elaboração de políticas públicas e na execução de ações do governo federal e estadual para agregar todos os agentes da cadeia produtiva.

Confesso que tenho enorme vontade de ajudar como filho, neto e bisneto de cacauicultores, deputado estadual, engenheiro agrônomo e apaixonado pelo cacau e o baixo sul, sul, extremo sul e oeste da Bahia. É claro que são muitos obstáculos, mas acredito demais nesta turma que tem demonstrado claramente ser possível transformar a cacauicultura novamente em um importante vetor de desenvolvimento econômico.

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