Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

O Uber nao é o Uber

O Uber não sai do noticiário. Os motivos são mais os menos os mesmos de sempre: concorrência com os taxis e regulamentação, cobrança de impostos e qualidade do serviço prestado ao usuário! Também faz parte desta lista a discussão sobre a existência ou não de vinculo trabalhista entre a empresa proprietária do aplicativo e os motoristas filiados! Entretanto, há uma dimensão da questão Uber que não tem recebido a devida importância e que passa mais ou menos despercebida nesse debate: a tecnologia por traz do serviço, ou melhor, a revolução tecnológica na qual o serviço se insere.

Não me refiro nem a questão do aplicativo em si mesmo ou ainda equipamentos (os smartphones) de forma isolada. O Uber é a ponta de lança, ou do iceberg – se assim preferirem, de uma revolução tecnológica que ameaça transformar radicalmente a forma como nos organizamos a nossa sociedade e como nos relacionamos com o mundo. Ou ainda, o Uber mostra a direção para o futuro e levanta sérias questões sobre a nossa capacidade de sermos protagonistas da nossa própria história.

Para quem não se deu conta, o Uber anunciou nesta semana o lançamento de um novo serviço nos estados Unidos: o carro sem motorista. Ainda restrito ä algumas áreas da cidade de Pittsburg, no estado da Pensilvania, a novidade chegou como uma bomba. Seu impacto é tão expressivo que o presidente americano – Barack Obama publicou um editorial no jornal da cidade sobre essa inovação, ao passo que o governo emitiu uma regulamentação inicial para o serviço.

O editorial do presidente permite situar de forma adequada os termos principais daquilo que está em jogo. Ele se desenvolve contra um pano de fundo da segurança do usuário, sobre como governo e indústria devem trabalhar juntos para garantir que o carro sem motorista seja seguro e como isso pode ajudar a reduzir as mais de trinta mil mortes que acontecem todos os anos em razão dos acidentes de veículos no país, a maior parte delas resultado de erros humanos.

Entretanto, três aspectos são fundamentais nessa estória. O Uber não esta sozinho nessa seara. Ele apenas saiu na frente de uma indústria multibilionária que envolve tanto os grandes nomes da indústria automobilística quanto da informática. Uma sólida parceria entre setor público e privado em torno de interesses nacionais próprios. Desde 2007 a Agencia para Pesquisas Avançadas de Defesa (DARPA) promove uma competição que busca incentivar o desenvolvimento de tecnologia nacional própria para veículos sem motorista.

Os outros dois aspectos estão claramente marcados no editorial de Obama: um deles se refere à questão da regulação. O presidente reconhece que o Estado tem um papel importante no estabelecimento de limites e controles para o novo nascente, mas que é muito fácil errar a mão, principalmente quando se trata de tecnologias que evoluem muito rapidamente. Assim a política precisa ser suficientemente flexível de modo que possa evoluir junto com os avanços produzidos e não se tornar um entrave, ela mesma, para a inovação.

O outro aspecto é aquele que considero mais importante e que, se me permitem, traduzo literalmente as palavras do presidente, para não deixar dúvidas daquilo do que se trata “Nos exploraremos o futuro da inovação na América e ao redor do mundo, focando na construção de nossas capacidades na ciência, tecnologia e inovação, assim como nas novas tecnologia que darão forma ao próximo século”. Afinal, a tecnologia não se limita a questão do último gadget ou aplicativo da moda,  ela se refere a tornar melhor a vida das pessoas e a manter o poder do país!

Como diriam os franceses: o Uber nao é o Uber!

Comentários