23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Todo fim de ano, é a mesma coisa: show do Robert Carlos, as intermináveis retrospectivas e um monte de desejos, resoluções e votos de um ano novo melhor. Pode-se dizer que o otimismo e uma alegria irracional toma conta das pessoas, como se expectativas e vontades dissociadas de comportamentos fossem capazes de alterar a realidade concreta. É possível acreditar no futuro? Juro que gostaria, mas onde ele está? Quando ele chegará? O futuro se veste de vermelho como o papai Noal, a Coca Cola e o sangue dos quase sessenta mil brasileiros que foram assassinados só este ano? O futuro está no final do arco íris? É no futuro que Maluf, que tem o rosto estampado na página dos fugitivos procurados pela Interpol, será declarado ficha suja pela Justiça Eleitoral Brasileira?
Será que no futuro quando um funcionário de terceiro escalão disser que devolverá U$ 100 milhões de dólares em dinheiro vivo, desviados de uma empresa, isso será considerado prova suficiente de que a esculhambação e a roubalheira estão definitivamente instaladas? Não é o assalto sistemático ao Estado e a impunidade que o acompanha que me fazem perder a crença no futuro, mas também a violência cometida contra o cidadão no cotidiano como vemos, por exemplo, no assalto cometido pelas inúmeras empresas prestadoras de serviços que, em tese, deveriam se reguladas e fiscalizadas pelo Estado.
Esta semana resolvi analisar minha conta de telefone e internet e comparar os preços com o que está sendo divulgadas no site da empresa (que diz na propaganda ter sido eleita, várias vezes, a melhor do Brasil). Para minha quase surpresa percebi que os planos que possuo não existem mais e que os valores anunciados são mais baixos do que aqueles que pago, para o mesmo serviço!!!! Ou seja, enquanto não reclamar e pedir uma alteração pagarei a mais pelo serviço. Em um país decente a alteração no valor do plano que beneficiasse o consumidor lhe seria repassado de forma automática. Se fosse para empurrar um plano ou uma promoção qualquer, a empresa de telefonia saberia ligar a qualquer hora do dia ou da noite, durante a semana, aos sábados, domingos e feriados.
Pior do que não repassar o valor, é procurar a informação na internet sobre planos e tarifas das empresas de telefonia. Não acredite no que você encontrar, pacato cidadão.
A coisa é feita de modo a lhe induzir ao erro! Sempre existirá uma informação escondida em alguém lugar, em uma fonte minúscula e com uma cor que não dá contraste com o fundo sobre o qual ela foi escrita. Existirá sempre uma desculpa, uma conversa mole de parceria e fidelização e uma venda casada para justificar o injustificável, para lhe dizer que aquilo que você está vendo não vale! Onde estão as agências reguladoras? Será que também fazem parte do rol da bandalheira descrito pelo ex diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e por isso não atuam na defesa do consumidor? Ou será que a opção é apelar para um judiciário que não decide, onde a solução dos processos fica para as calendas?
Olhe para cima, olhe para o lado e me diga: onde está a saída? A quem recorrer? Pois é, olho o futuro e a única luz que vejo é a do trem que vem em direção contrária. Tudo bem, posso até topar o otimismo protocolar para não estragar a festa dos outros, mas olho para o futuro e não gosto nem um pouco do que vejo.