23 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
É interessante observar que escolas de administração e negócio, manuais e consultorias costumam vender a ideia de que as modernas práticas de gestão, quando aplicadas, são diretamente responsáveis por um aumento de eficiência e produtividade nas organizações. Essa perspectiva de que a assim chamada tecnologia gerencial é capaz de influenciar o resultado operacional das empresas, tem uma trajetória ao mesmo tempo longa e controversa. São três os argumentos principais que se colocam contra essa ideia. O primeiro deles é de natureza empírica: se estas práticas são assim tão boas, por que elas não estão largamente difundidas por todo o espectro produtivo? Posto de outra forma, por que estas práticas não são extensamente utilizadas pelas empresas? O segundo argumento é de natureza teórica: na busca pela maximização dos lucros as empresas tendem a minimizar custos e, assim, diferenças entre práticas de gestão são consideradas resíduos adaptativos às contingências específicas da organização. Ou seja, um detalhe menor do contexto onde elas operam. E há um terceiro conjunto de argumentos que consideram as tecnologias gerenciais abstratas demais para serem efetivamente mensuradas. Assim, como atribuir resultado a algo que não se sabe dizer exatamente o que é? Não precisa ser nenhum prêmio Nobel em economia para perceber que o conjunto desses argumentos aponta na direção contrária ao que preconizam as consultorias, escolas e manuais. E ai? As chamadas modernas práticas de gestão funcionam ou não?
Uma equipe de pesquisadores da universidade de Stanford e da London School of Economics decidiu colocar essa questão à prova e desenvolveram um raro experimento. Eles avaliaram o impacto de um conjunto de 38 práticas de gestão operacional em grandes empresas do setor têxtil na Índia. Eles contataram algumas empresas e elas foram divididas em dois grupos: um de tratamento, aonde após um mês de diagnósticos organizacionais conduzidos por uma equipe de consultores as práticas foram introduzidas, desenvolvidas e acompanhadas por um período de quatro meses; e um grupo de controle, cujas empresas somente receberam o mês de consultoria voltada ao diagnóstico. Os resultados apontaram para uma significativa melhoria nos processos, na qualidade e no controle de estoque das empresas que adotaram as práticas especificadas, com uma estimativa de crescimento de produtividade da ordem de 17% ao final do primeiro ano, o que significou um aumento no lucro médio de trezentos mil dólares. Foi ainda percebido que estas empresas expandiram suas atividades quando comparadas ao grupo de controle, entre outras melhorias expressivas que foram identificadas pelos pesquisadores.
Resultados como estes são a confirmação de que as modernas práticas de gestão efetivamente funcionam, mas ao mesmo tempo a questão sobre o porquê das práticas não serem mais largamente adotadas se torna ainda mais saliente. As respostas variam desde a restrição do conjunto das informações disponíveis para o gestor, que não sabe (não entende) exatamente como estas práticas funcionam ou acha que o que ele faz é bom e está certo, até a ausência de pressões competitivas que justifiquem a sua adoção ou que signifique a expulsão das empresas de baixo desempenho do mercado, pura e simplesmente.
Ainda que uma considerável variedade de ferramentas e técnicas esteja à disposição para ser escolhida, e que uma parte destas práticas sejam apenas “espuma aos ventos”, que se dissipam quando do próximo modismo e que são vendidas para manter um nicho de mercado das consultorias funcionando, um olhar mais detalhado desvenda um núcleo duro, e razoavelmente constante, de eficiência e resultados, que tem girado em torno das práticas de manufatura enxuta, dos procedimentos de controle de qualidade e de certo número de práticas de gestão de recursos humanos. Ou seja, a adoção das assim chamadas modernas práticas de gestão funciona tanto no nível individual, quanto no contexto de indústrias específicas, quanto no âmbito nacional. Talvez seja o caso de prestarmos um pouco mais de atenção às chamadas tecnologias gerenciais.