Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Teorias da Conspiração

O avião que conduzia o ministro Teori nem bem havia afundado nas águas de Paraty e a internet já havia sido inundada por diversas versões sobre o acidente, quase todas apontando para um atentado com o objetivo de barrar as investigações e as delações que estavam para ser homologadas. Tinha culpado para todos os gostos e correntes, além de inúmeros relatos sobre equipamentos de vigilância subtraídos, controladores de voo desaparecidos e por aí vai. As teorias da conspiração correram soltas! Agora com a Operação Carne Fraca, a internet volta a ser inundada com postagens afirmando que as cenas explícitas de corrupção que assistimos na verdade fazem parte de um plano dos ianques para nos subjugar, já que setores importantes da economia estão sendo atingidos.

O que caracteriza uma Teoria da Conspiração? Pode-se dizer que elas se configuram como fenômeno cultural significativo que existe desde sempre, mas que tem sido embalado pela expansão das mídias sociais. As obras de Dan Brown são um exemplo de como essa ideia sobre forças poderosas atuando para influenciar os destinos captura a imaginação e ajuda a vender livros e filmes. Outros exemplos clássicos são as estórias em torno da área 51, em Roswell (EUA), que guardariam segredos alienígenas; e o atentado às Torres Gêmeas em 11/09/2001, que teria sido orquestrado pela CIA para justificar a guerra contra o terror. Assunto e exemplos não faltam!

Da perspectiva da Psicologia, e de modo bastante sintético, as teorias da conspiração podem ser compreendidas como crenças explicativas sobre a ação conjunta de atores distintos, normalmente poderosos e atuando em segredo, com o objetivo de atingir algum objetivo ilegal ou malévolo! Posto com outras palavras, elas são uma forma de racionalização de um evento social complexo do mundo real para o qual não temos explicação. Não deixa de ser curioso observar que as teorias da conspiração são extremamente difíceis de serem afastadas, mesmo quando as evidências disponíveis apontam em direção contrária. É como se novas camadas de conspiração fossem acrescidas no topo das anteriores como forma de racionalização da crença a cada nova evidência de desconfirmação.

Ainda que o conteúdo das teorias conspiratórias possa variar enormemente, o processo psicológico subjacente a essa crença é razoavelmente constante e tem sido associado ao desejo humano de produzir sentido sobre o mundo social. Essa necessidade está fortemente relacionada com extensão do controle percebido sobre o ambiente ou sobre a ordem social. Ou seja, quanto menor for a força das pessoas para influenciar o ambiente público e quanto menor for sua capacidade de ser ouvido sobre eventos sociais estressantes, maior será a crença em teorias da conspiração. Evidências empíricas sugerem que crenças conspiratórias também estão associadas a problemas de saúde, redução das virtudes cívicas, hostilidade e radicalização social. Isso ajuda a explicar porque as teorias da conspiração ganham força quando o evento social impactante é percebido como uma ameaça à vida e à ordem social que foge ao controle por parte dos cidadãos.

Elas se constituem em um sistema de crenças autoalimentado. Uma crença conspiratória reforça a crença em outras ideias conspiratórias, de modo que uma pessoa que acredita em uma conspiração qualquer tem maior probabilidade de acreditar em outras teorias conspiratórias. Alguns estudiosos do tema chegam a afirmar que a natureza dessa forma de crença sugere um método sistemático de processamento de informação que conduz a essa visão de fenômenos ameaçadores da vida social como produto de forças do mal.

Sendo as teorias da conspiração potencializadas por esta combinação de impotência social e internet, o futuro próximo não parece muito animador.

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