23 dezembro 2024
Ernesto é mestre em Administração Estratégica e trabalha com foco em desenvolvimento turístico desde 2001. Foi professor de disciplinas de Planejamento Turístico e Políticas Públicas de Turismo na Faculdade Visconde de Cairu e na Factur. Foi secretário municipal em Itaparica e sub-secretário em Salvador. É sócio da SOBRETURISMO CONSULTORIA, empresa especializada em projetos de desenvolvimento setorial, com inúmeros trabalhos na Bahia e no Piauí, sempre na área de turismo e economia criativa. Ele escreve às sextas-feiras neste Política Livre.
A Revista Vida Simples, Ed. Abril, edição de fevereiro de 2013, traz uma matéria de capa muito boa sobre como ajustar o foco, com dicas para que o leitor possa realizar melhor aquilo que realmente importa, deixando de lado muita coisa que é feita no dia a dia e que não traz resultado algum. Mas o que mais me chamou a atenção nessa edição é o fato de ter três matérias tratando de assuntos da Bahia.
A mais importante delas fala do turismo de base comunitária que acontece nos Alagados, em Salvador. A reportagem apresenta que um morador local acompanha os visitantes para conhecer o bairro, as instituições comunitárias da localidade e as casas de algumas famílias, sobretudo onde se produz algo interessante para o consumo, como um caldo de sururu ou uma bela feijoada. Dispensadas as discussões acadêmicas sobre as inúmeras classificações do turismo, o Instituto Ecobrasil diz que o turismo de base comunitária se refere às atividades, operações e empreendimentos que dizem respeito a uma comunidade que recebe turistas. Nos Alagados, no Uruguai e em outros bairros da Península de Itapagipe, em Salvador, estão organizações comunitárias que tratam desse assunto com seriedade, como o Icbie, o Bagunçaço e a escola Luíza Mahim, entre outros. Ali o visitante pode conhecer o trabalho de pessoas e instituições que vivem para o fortalecimento comunitário e para a melhoria da qualidade de vida dos moradores.
Outro exemplo trazido pela revista nessa mesma linha, esse já bastante trabalhado do ponto de vista das visitações, é o quilombo do Kaonge, em Cachoeira. Ali o visitante pode passar um dia conhecendo as atividades religiosas e produtivas de um antigo quilombo. Pode bater um papo com a Griô sobre as histórias do lugar e conhecer a produção de farinha de mandioca, a feitura do azeite de dendê e dos xaropes medicinais, além de poder receber um banho de folha das rezadeiras mais antigas da comunidade.
A revista trouxe também uma matéria, quase fotográfica, sobre a produção de charutos no recôncavo da Bahia, sobretudo em São Felix, Cachoeira, Cruz das Almas e São Gonçalo. A beleza plástica das fotos e os descritivos textuais trazem inúmeras possibilidades de interação entre a produção de charutos e os visitantes nacionais e estrangeiros. Uma visita à Dannemann ou outra fabrica de charutos é uma experiência e tanto. É lá que as pessoas podem assistir à produção feita pelas habilidosas mãos femininas, que transformam as folhas do tabaco nos melhores charutos brasileiros para exportação.
Um terceiro instante da Vida Simples desse mês, que caprichou nas reportagens sobre a Bahia, é a coluna de Soninha Francine, na qual ela cita uma viagem meio aventureira que fez para Itacaré, no tempo em que as estradas eram muito piores do que as de hoje. Não sei se de caso pensado ou não, mas a Vida Simples de fevereiro apresentou uma visão interessante para o turismo da Bahia. Imagine, caro leitor, quantas localidades possuem peculiaridades comunitárias para serem trabalhadas com o fito de movimentar a economia local e, ainda, quão variada é a nossa produção para associarmos ao turismo. Esse pode ser o ajuste de foco que nosso turismo precisa.