22 novembro 2024
Com a definição do secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues, do PT, como candidato ao governo, da virtual confirmação da candidatura à reeleição do senador Otto Alencar (PSD) como seu companheiro de chapa e do avanço das negociações para a definição do vice, o único personagem da trama governista que ficou na fila do avião é o vice-governador João Leão (PP).
Por enquanto, o vice tem uma modesta passagem, sem chance de upgrade, para o acesso apenas à classe econômica da aeronave fretada do governo, distante das cortinas a partir das quais o serviço de bordo é de melhor nível e se desenrolam as conversas que algumas vezes decidem o destino de multidões. É nítido que o governo conseguiu até agora impor suas condições ao líder do PP.
Assim como o desenrolar dos fatos até aqui tornou pública a exclusão do vice-governador da articulação fina governista, na qual, por algum motivo ou várias razões, na real, Leão parece nunca ter tido assento ou sua voz nunca foi devidamente considerada. No entanto, uma parte da culpa pela situação em que o vice se encontra no momento pode ser atribuída a ele mesmo.
Quando o castelo que o governador Rui Costa (PT) concebeu com ele dentro desmoronou, o líder do PP adotou a inteligente postura de se manter calado e recluso, sem dar pistas aos parceiros do que pensava ou pretendia fazer. Ao retornar à cena, entretanto, cometeu o imperdoável erro estratégico de ter externado sua mágoa com o senador Jaques Wagner (PT).
Ali, acabou confirmando, com todas as letras, algo que poderia ter continuado como suspeita: que haviam rompido o trato para que assumisse o governo no lugar de Rui, então, pelos planos dele e de Leão, candidatíssimo ao Senado. Agora, toda a Bahia sabe que puxaram o tapete de Leão sem o menor cuidado nem qualquer aviso prévio de que o piso estava molhado.
Definitivamente, não foi um tombo leve para o bonitão. Como parece não haver mais chance de Rui concorrer para senador, se ficar na base Leão permanecerá na vice-governadoria até o fim do governo. Teria que se contentar apenas em indicar o vice ou o suplente de Otto, além de manter o desenho atual do PP na gestão e tentar criar um esboço melhor de sua participação na eventual administração de Jerônimo.
Enfim, Leão seria, como se diz na linguagem política, entubado – por uma equipe cirúrgica comandada pelo governador e Wagner, sob a supervisão técnica do ortopedista aposentado, porém famoso, Otto. E,
à vista de todos, protagonizaria o caso daquele a quem foi oferecido muito, depois negado o essencial, mas ainda assim, submetido, ele ficou!
A alternativa para superar a desonra política que ele próprio explicitou seria romper e apoiar a candidatura a governador de ACM Neto (União Brasil), ao lado de quem pode, pelo menos, disputar a já garantida vaga ao Senado. Mas há questões práticas a resolver. Entre aquelas que o pragmatismo coloca de forma urgente sobre a mesa estão a necessidade do desapego às duas secretarias que o PP ocupa, uma delas sob controle direto do próprio vice.
Além das centenas de cargos que possui no governo. Muito espertamente, os parlamentares do PP dizem que são apenas 200. Fato é que o movimento de independência pode levar o partido a perder tudo, assustando a bancada de quatro deputados federais e nove estaduais que, no primeiro momento, perfilaram, em solidariedade, ao lado de seu líder e, segundo as informações mais atualizadas, permanecem com ele.
Um dos receios do PP hoje é que, na hipótese de partir, o governo consiga cooptar pelo menos uma parte deles, enfraquecendo sua chegada. Não seriam poucos os convênios com que, por coincidência, o governador passou a acenar para os prefeitos do partido nos últimos dias, assim como é verdade que o PP nacional sinalizou que pode fazer compensações às eventuais perdas impostas por Rui, embora não se saiba ainda em que monta.
Há ainda o temor de que Jerônimo não emplaque e Leão perca a oportunidade de concorrer e vencer Otto para o Senado. Na outra ponta, há quem diga que o vice precisa acreditar que ao caminhar na direção de Neto pode estimular a fazer o mesmo outros líderes da base, alguns no próprio PSD, um dos partidos desfavorecidos com a candidatura de um petista à sucessão estadual.
Não convém esquecer que toda a análise se desenrola sob a perspectiva de um Leão, se não profundamente ferido, bastante machucado emocionalmente e ainda com dores por todo o corpo. Nem desconsiderar que, como dizia Nelson Mandela, os humilhados são aqueles que, com maior frequência, se tornam os mais perigosos.
Política Livre